segunda-feira, 25 de maio de 2009
Africa nossa: Entre o 25 e o 27 de Maio
Com os ingredientes de sempre, o encontro com a memória e com a amizade terá lugar nesta segunda-feira, 25 de Maio, Dia de uma África que já foi bem pior, quando em Angola se massacraram, por razões políticas, milhares de jovens na sequência dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977.
Esta África, lamentavelmente, ainda não pertence ao passado e muito menos está enterrada definitivamente, como foram as suas vítimas angolanas em valas comuns a quem, uma vez mais, estamos aqui a prestar a nossa mais profunda homenagem à espera que algum dia destes a sua memória seja reabilitada como dignos filhos desta pátria.
Em África continuamos a ter notícias tristes e sangrentas sobre a eclosão de agudos surtos de violência e intolerância políticas um pouco por todo o lado, embora a tendência já não seja tão preocupante.
É, contudo, uma tendência que ainda é frágil e está pouco sustentada, mesmo lá onde o exercício das urnas democráticas e da alternância política já é uma realidade com alguns anos de estágio certificado por conceituadas agências internacionais. Os exemplos recentes de violência política falam bem desta África violenta que às vezes está apenas adormecida, quando tudo parece correr bem.
A proximidade do 25 de Maio, Dia de África, com o 27 de Maio, Dia que agora já ninguém quer saber para nada, é de facto uma oportunidade para relacionarmos as efemérides e olharmos para o lado mais complicado e mais nebuloso do nosso continente, porque ele efectivamente continua a existir, a fazer vítimas, a condicionar fortemente o livre exercício da cidadania e a própria imagem de todo um continente.
Este lado tem a ver com o exercício físico do poder político por parte de um conjunto de lideranças africanas que mesmo no limite das suas capacidades físicas e etárias continua a pensar em tudo, menos em retirar-se na maior das calmas e ir para casa descansar e escrever as suas memórias.
Pelo que julgo saber, muito poucos terão sido os representantes desta geração que deixaram para a posteridade livros com um tal cunho.
Não gostam de escrever memórias porque nada têm para transmitir às gerações futuras, para além de uma experiência política maquiavélica muito pouco recomendável para menores de idade que são os nossos jovens.
Por isso, preferem não escrever nada, evitando deste modo deixar para o futuro as impressões digitais de um passado pouco saudável, que vai certamente desaparecer com eles.
Com esta “paixão” pelo poder estas lideranças não gostam sequer que alguém lhes fale em sucessão ou em transição. Tudo é tabu. Mais grave do isso e porque não permitem que o debate seja iniciado, o próprio país começa a entrar em pânico só de pensar na possibilidade deles desaparecerem.
Já é altura dos políticos africanos, de uma vez por todas, os mais velhos e os mais novos, assumirem a política como um serviço público, como outro qualquer com direito à reforma e deixarem de pensar que depois deles não haverá mais ninguém com capacidade para segurar o leme de um barco, por vezes tão mal dirigido durante o seu consulado.
É só isso que lhes estamos a pedir nesta jornada africana, cuja proximidade com o nosso 27 de Maio não é possível ignorar.