(Telmo Augusto/Angolense)
segunda-feira, 11 de maio de 2009
O titanic angolano está em risco?
Os bancos comerciais estão muito preocupados com o impacto negativo do mais recente Instrutivo de Política Monetária do BNA (4/09 de 20 de Abril), ao ponto de já terem feito chegar ao Executivo os seus receios em relação a desestabilização económica e financeira que o mesmo deverá provocar.
Na sequência desta nova orientação que tem certamente muito a ver com o impacto da crise global em Angola, já se começou a ouvir falar do regresso à direcção da economia das ideias mais conservadoras (anti-mercado) que fizeram época durante o consulado de Emanuel Carneiro.
O actual Ministro das Finanças, Severim de Morais e o novo Governador do Banco Nacional de Angola, Abraão Gourgel, são os dois, em termos de formação académica, oriundos de escolas comunistas. O primeiro formou-se em Cuba e o segundo na já extinta República Democrática Alemã (RDA). Esta coincidência parece estar a alimentar ainda mais os comentários que chegaram ao conhecimento nos últimos dias do Angolense sobre a possibilidade de se estar a assistir a um regresso ao passado, com todos os excessos que se conhecem da intervenção do estado na economia.
Em recente carta dirigida ao Ministro das Finanças e ao Governador do Banco Nacional de Angola em nome da Associação Angolana de Bancos (ABANC), o seu Presidente, José de Lima Massano, não teve muitos rodeios em chamar as coisas pelo seu próprio nome, alertando quem de direito para a gravidade da situação em perspectiva.
É dito na carta que a “redução de liquidez que resultará do cumprimento do mais recente Instrutivo de Política Monetária, é dos maiores perigos a que se pode expor a banca, pelo que se apela à sua revisão urgente, sob pena de se fragilizar de modo grave o sistema bancário e, assim, a inviabilização de projectos e programas com impacto no crescimento da economia”.
Como resultado das novas orientações já são visíveis as reacções da banca comercial em consonância com as mesmas.
É tendo em conta esta realidade que a ABANC “regista com grande preocupação que as instituições bancárias, como medida cautelar e de prudência, tenham iniciado um processo de redução acentuada de novas operações de crédito à economia não petrolífera, de agravamento involuntário do custo da intermediação e, não menos importante, de ajustamento de programas de expansão e modernização”.
Os bancos comerciais reagem assim às medidas tomadas pelo Banco Nacional de Angola no tocante ao agravamento das reservas obrigatórias e à suspensão da emissão de Bilhetes do Tesouro e de Títulos do Banco Central.
A carta da ABANC está a ser digerida pela nova equipa económica liderada pelo Ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, pois até ao momento, pelo que consta, ainda não houve uma reacção do Governo.
A ABANC considera que com o actual assalto à liquidez da banca comercial, as instituições financeiras atingidas viram a sua capacidade de manobra afectada de “modo preocupante e inquietante”.
Em causa está a “capacidade de o sector honrar compromissos assumidos, executar operações de rotina e perigosamente abrandar ou até mesmo parar a concessão de crédito à economia não petrolífera, com repercussões perversas nos objectivos defendidos pelo próprio Governo no seu Plano Naciona 2009-2012.”
O quadro de risco é agravado, pode ler-se na missiva a que o Angolense teve acesso, “ pelo facto de o acesso ao redesconto para a tomada temporária de findos ser excessivamente oneroso e lesivo da manutenção de relações equilibradas de mercado”.
Em relação ao mercado cambial as medidas adoptadas pelo Instrutivo do BNA também não convenceram os nossos banqueiros e bancários, pois “atingem de forma indiscriminada os operadores, expondo a estabilidade da banca como um todo”.
A ABANC alerta o Governo para a possibilidade das actuais medidas, ao limitarem em demasia a função de intermediação da banca, puderem de forma involuntária contribuírem para um agravamento ainda maior da crise.
Neste particular a ABANC faz recurso ao exemplo “de experiências recentes e conhecidas em que a ausência de liquidez no sistema financeiro levou à queda de economias mais robustas com custos elevados para o erário público”.