segunda-feira, 11 de maio de 2009

A liberdade de imprensa e a nova marginal de Luanda

1-Algo surpreendido pelo seu desempenho, devo confessar que gostei imenso de ouvir o Presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos (Nandó), defender o princípio do contraditório como sendo uma das traves mestras da actividade jornalística. De facto, e logo eu que me estou sempre a recordar do passado policial e securitário de Nandó, nunca me passou pela cabeça vê-lo um dia destes nas vestes de um paladino da liberdade de imprensa, com um discurso tão de acordo com os mais radicais e íntegros princípios do jornalismo de referência. "Nós partilhamos dessa visão do processo comunicacional e, com as autoridades competentes do Estado, devemos assumir o compromisso de fazer com que as potencialidades dos Meios de Comunicação Social, porventura não usadas ou insuficientemente exploradas até aqui, sejam canalizadas para o reforço da liberdade de expressão, do respeito dos valores éticos e deontologia jornalística, do aprofundamento do diálogo inter-cultural e da superação de estereótipos ainda existentes". Nandó falava por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o 3 de Maio, na abertura de um colóquio alusivo a data, promovido no dia seguinte pelo Parlamento. O que o Presidente da Assembleia Nacional não se deve esquecer de agora em diante é das suas próprias palavras sobre o jornalismo e da história do peixe que (normalmente) morre pela boca. É apenas isso que lhe pedimos e que certamente lhe vamos cobrar quando chegar a altura de acertarmos algumas contas mais complicadas com as liberdades fundamentais, tão usadas no discurso mas tão esquecidas na prática e no dia-a-dia. Terão sido as primeiras palavras de Nandó sobre a imprensa e a liberdade?
Não sabemos.
O que sabemos é que ele desta vez falou muito bonito mesmo, como nunca tínhamos ouvido de ninguém lá de cima. Nota 10 para o seu assessor que ainda não sabemos quem é. Com mais esta iniciativa a Assembleia Nacional mantém (reforça) a nota positiva que já lhe havíamos atribuído aqui há duas semanas, quando dissémos que a nova legislatura estava a emitir sinais diferentes no seu relacionamento com o Governo. Esta semana tivemos a 4ª Comissão chefiada por Nzau Puna a contactar o governo sobre a maka das casas, das demolições e dos realojamentos no deserto do Zango. Ainda não houve balanço, porque os contactos vão prosseguir. Agora só falta mesmo a 6ª Comissão ir até ao Zango ver como é que os angolanos são forçados a viver quando lhes são negados os seus direitos fundamentais pela administração de um Governo que eles elegeram muito recentemente. Não é nada disso! 2- O Governo, na pessoa de Higino Carneiro, inaugurou mais uma marginal em Luanda, esquecendo-se de nos dizer o que é feito da outra marginal que está em obras desde 2007, com todas as consequências desastrosas que se conhecem para a paisagem da nossa baía. Nenhum dos jornalistas presentes no acto de arranque da obra da nova marginal (Luanda sudoeste) perguntou a Higino Carneiro o que se está a passar com as obras paralisadas. Também não perguntaram nada sobre as consequências sociais e ambientais da nova obra que se vai estender por mais de oito quilómetros. Mas será mesmo que estiveram lá jornalistas? De facto e de jure andar com um microfone e uma máquina de gravar não confere a ninguém a categoria de jornalista. Nunca conferiu. Jamais irá conferir. Então quem é que esteve lá? Ouvimos antes Bento Soito, o Vice de Luanda, dar a conhecer, através da LAC, que as obras do Projecto Baía deverão reatar no próximo dia 18. Soito disse que não podia dizer mais nada porque também não sabia. Disse para irem perguntar ao Higino Carneiro. Soito disse, entretanto, que o Governo de Luanda também não estava a gostar nada de ver a baía naquele lastimável estado de choque. Pelos vistos ninguém está a gostar, o que já não é nada mau para inicio de conversa.