sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma entrevista complicada

Li com a necessária atenção a entrevista que Rui Falcão (RF) concedeu ao "País", pela importância que o porta-voz do MPLA me merece, devido ao facto de estarmos diante de um alto representante do partido governante em vésperas de mais um congresso que é sempre uma oportunidade que abre espaço para desenvolvimentos políticos importantes.
Não sei porquê e apesar deste conclave ser extraordinário, mas acho que mesmo assim, vamos ter muito pano para manga em relação ao futuro de Angola, que continua amarrado ao desempenho do MPLA, por razões demasiado óbvias, que há muito transformaram o país num refém dos "azeites" do maioritário.
A entrevista começa muito mal, com RF a tentar, de forma algo surrealista, convencer-nos que a marcha do 5 de Março não foi uma contra-manifestação ou uma resposta antecipada ao "fantasma" do 7 de Março.
Como é evidente, os seus argumentos não convenceriam o observador mais distraído/pateta deste mundo.
Não é assim que se atira areia para os olhos dos outros.
Não é necessário, não é recomendavel.
Descredibiliza.
Irrita. Tira-nos do sério.
Embora admita que o desmentido seja um constante recurso da linguagem dos políticos, sempre que se encontrem em apuros, tem de haver limites para a utilização desta muleta.
Pelos vistos, RF não quer saber para nada da existência destes limites que têm a ver com a ética da própria política, encarada por nós como um serviço público por excelência, embora a prática de muitos dos seus protagonistas seja cada vez mais questionada à luz dos valores fundamentais que orientam a nossa civilização moderna e que estão plasmados nos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para além deste aspecto que me pareceu ser o mais controverso, gostaria de reter aqui mais alguns que também não me cheiraram muito bem, tendo mesmo, pelo menos um deles, cheirado a esturro.
São eles:
- O MPLA tem neste momento 4,8 milhões de militantes, 74% dos quais são camponeses.
- Não se viu um único partido da oposição a fazer uma campanha de recolha de bens para os necessitados.
-Dê-me um exemplo onde o parlamento produza mais que o Executivo. Não existe. A produção aqui tem a ver com a iniciativa legislativa.
-Já houve muitos projectos de iniciativa do Grupo Parlamentar do MPLA.
- As fontes somos nós que estamos aqui e estamos mandatados para falar sobre o partido. Não conhecemos outras fontes.
- Nós conseguimos pôr noventa e cinco por cento do total dos eleitores a votar.
- Aqui o povo vota com livre consciência.
-Eles, os ocidentais, têm que vir aprender connosco como é que trabalhamos para pôr as pessoas a votar.
Farei em próximo apontamento alguns comentários em relação a cada um destes aspectos.
(cont)