quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Estado da Nação: a qualidade e os custos (os grandes ausentes)

Uma das notas mais ausentes no último Estado que JES traçou para a Nação foi a qualidade. A outra foi (ou foram?) os custos.
JES avançou números/estatísticas/percentagens, enumerou obras e projectos, anunciou estratégias de médio e longo prazo.
Tudo bem, salvo seja, pois são conhecidas as reservas que muitos de nós continuam alimentar em relação à análise da nossa realidade do ponto de vista quantitativo, tendo em conta a grande debilidade que possuímos na área das estatísticas, num país que não realiza um censo da população há mais de 40 anos.
Uma das mais contundentes críticas que o líder da UNITA Isaías Samakuva (IS) faz discurso de JES está relacionada com a falta de qualidade do ensino de uma forma geral.
Faz pouco sentido, segundo IS, “dizer que o número de 4,273,006 alunos no ensino primário é dez vezes mais que no último ano do período colonial, se a qualidade do que se lhes ensina é muitas vezes mais inferior a do período colonial”.
O mesmo, segundo IS, “sucede com o ensino superior onde os alunos pagam a gasosa para serem admitidos e pagam a gasosa para terem diploma, quer nas instituições públicas como nas privadas”.
De facto, aponta IS, “faz pouco sentido o número de 150,000 estudantes universitários se estes entram sem terem qualificações e saem sem estarem qualificados”.
Faz pouco sentido, concluiu IS, “o número de 1,200 licenciados por ano, se esses jovens não conseguirem competir no mercado de trabalho, porque os engenheiros não sabem trigonometria, os juristas não sabem escrever português e os gestores não sabem contabilidade de acordo com os padrões internacionais”.
“Vamos nos orgulhar desses números?”, rematou IS.
Samakuva colocou o dedo com alguma profundidade na grande ferida do nosso ensino, chamada qualidade/eficácia.
Concordando ou não com IS, temos que reconhecer que um licenciado nosso numa área mais técnica muito dificilmente poderá disputar um posto de trabalho num país desenvolvido.
De facto o último Estado da Nação de JES é omisso em relação ao factor qualidade, pois em nenhum momento do seu levantamento o Presidente tenta sequer aflorar esta vertente.
Quase que diríamos que JES foge dela, o que não permite fazer uma avaliação mais profunda e abrangente em relação à consistência do “retrato” esboçado.
De facto adianta muito pouco investirmos num ensino com as características enunciadas por IS. É prejuízo na certa.
A questão dos custos foi a outra nota saliente (e preocupante) que não esteve presente o que também não permite fazer a melhor avaliação do trabalho que o Executivo tem estado a desenvolver. Sem uma noção de custos, quando se fala em dinheiro público, nada feito.
É "bandário", diria o Jójó...
De que adianta construirmos uma ponte muito gira, se com o mesmo dinheiro poderíamos fazer a ponte, a escola, o hospital e o cemitério.
O que eu mais receio é que com o dinheiro(mal) gasto já poderiamos ter resolvido em definitivo alguns dos problemas mais aflitivos que nos atormentam.
(cont)