Foi assim que ficou transformada a entrevista de VPA |
Na sequência de uma intervenção da administração da MEDIVISION S.A, presentemente a dona do projecto, não foi publicada uma entrevista do conceituado economista, político e docente universitário, Vicente Pinto de Andrade que deveria, na edição com o número 472, ocupar o espaço de quatro páginas.
Sobre as razões da não publicação da entrevista, nada foi dito aos profissionais do jornal manifestamente contrários a essa decisão superior, alheia, inclusive, à própria direcção do periódico.
Trata-se de uma atitude que fere múltiplos princípios, fundamentalmente os que norteiam a actividade jornalística, bem como violam, de forma grosseira, as normas estabelecidas na Constituição da República de Angola no concernente às liberdades de Imprensa e de Expressão.
O colectivo de jornalistas do A Capital manifesta, também, a sua preocupação pelo facto dessa intromissão da administração nos assuntos da redacção ser recorrente, acontecendo, amiudadas vezes, no final de uma penosa semana de trabalho, numa altura em que os jornalistas estão exaustos depois de passarem horas a fio na redacção, permanência que pode chegar às 24 horas.
Os cortes efectuados, seja na entrevista de Vicente Pinto de Andrade, seja em outras matérias que, embora não se tenha tornado público, não foram publicadas por conta de uma decisão igual constituem uma dolorosa agressão à dignidade dos jornalistas, um desrespeito ao seu trabalho mas, acima de tudo, conformam uma violação aos direitos que lhes cabem enquanto profissionais e, mesmo, enquanto cidadãos.
O colectivo de jornalistas do A Capital entende que têm razão todos quanto manifestam desagrado face a este flagrante episódio de censura bastante incompatível com o actual nível de desenvolvimento da sociedade angolana e que se posiciona em autêntica falta de sintonia com os princípios que o Estado angolano diz defender.
Os jornalistas salientam, ainda, o impacto nocivo de tal medida na sua actividade quotidiana, já que a mesma favorece a implantação da auto-censura, além de levar a que os bons profissionais, já escassos, optem por abandonar o projecto em busca de redacções onde questões como a independência e a liberdade de consciência não sejam apenas clichés para agradar a opinião pública.
Desde a passagem do jornal para os novos proprietários, os profissionais têm feito de tudo para cumprir com as metas estabelecidas, efectuando mudanças em vários domínios, editorial e gráfico, mesmo esbarrando, frequentemente, numa deficiente disponibilização de meios de trabalho fundamentais para o desenvolvimento da actividade jornalística, como sejam os transportes e, ainda, num quadro de recursos humanos manifestamente inferior ao necessário.
Por entenderem que não há razões para a permanência deste quadro, que não tem par, inclusive, noutras redacções cujos processos de titularidades foram similares ao do Jornal A Capital, o colectivo de jornalistas recomenda, aos proprietários da MEDIVISION, a suspensão imediata dos actos de censura, o respeito pela independência e liberdade de consciência dos jornalistas.
Recomenda, ainda, que se evite a adopção de práticas susceptíveis de minar a credibilidade, a sobrevivência do jornal o bom ambiente de trabalho, bem como apela ao Sindicato dos Jornalistas, ao Conselho Nacional de Comunicação Social, ao Ministério da Comunicação Social para que intervenham no sentido de evitar os ataques mencionais à Lei de Imprensa e, por conseguinte, à Constituição da República de Angola, além de chamarem a atenção para a necessidade de manutenção dos postos de trabalho dos mais de 30 cidadãos empregues neste projecto jornalístico que, com bastante sacrifício, de jovens, sobretudo, conquistou o seu espaço no universo jornalístico angolano.
Luanda, 03 de Outubro de 2011
O COLECTIVO DE JORNALISTAS DO SEMANÁRIO A CAPITAL
(Repórteres, Editores e Correspondentes)