terça-feira, 4 de outubro de 2011

Rui Falcão versus João Melo

Os deputados Rui Falcão Pinto de Andrade e João Melo são duplamente da mesma família, isto é, têm sangue comum a correr-lhes nas veias (são primos) e comungam do mesmo ideal partidário, por força da sua activa militância no MPLA.

Tal convergência, pelos vistos, não tem contribuído muito para os aproximar em termos de visão política, o que não deixa de ser salutar e interessante para quem se preocupa com alguns “pormenores” que sempre fazem bastante diferença no seio de uma família político-partidária que vive muito de uma certa imagem que tem sabido exportar para a opinião pública nacional e internacional.
“Imagem” não é exactamente o que somos. É mais aquilo que queremos que os outros acreditem que devemos ser. Por isso hoje a “imagem” já é trabalho de especialistas de alto nível.
Curiosamente na última edição do “Novo Jornal”, os dois camaradas em peças distintas (o primeiro numa entrevista e o segundo num texto de opinião) manifestaram posições radicalmente diferentes em relação aos mesmos assuntos, por sinal bastante sensíveis na actual conjuntura.
Enquanto o permanentemente crispado R. Falcão está convencido que existe “uma cabala internacional para retirar o MPLA do poder”, J. Melo, mais calmo, acredita “que neste momento, a chamada comunidade internacional não tem o menor interesse em criar um clima de turbulência em Angola”.
Em defesa da sua tese R.F. não acrescenta um único elemento, aliás, recusa-se a dizer mais qualquer coisa sobre a tal “cabala internacional”.
Por seu lado J. Melo não tem muitas dificuldades em sustentar que, a atestar a sua visão, estão “os vários elogios recebidos pelo governo angolano, por causa dos esforços de reconstrução e reconciliação feitos desde que cessou a guerra em 2002”.
Definitivamente não é assim que pensa R. Falcão, pois ele acha que está a acontecer exactamente o contrário no que toca à reacção da comunidade internacional, tendo a este respeito manifestado a convicção de que “o facto de termos conquistado a paz com os nossos próprios meios; e o facto de estarmos muito próximos de conseguir, finalmente, a independência económica está a trazer-nos sérios problemas. Há muita gente que não está interessada em ver isso acontecer”.
Atento à mudança dos tempos e das vontades, J.Melo sustenta que o actual período de graça que o Governo vive junto da comunidade internacional pode mudar, num claro aviso à navegação dos sectores mais musculados do regime.
Para J.Melo e para que o actual clima internacional favorável a Luanda se mantenha, “as autoridades têm um dever de casa a fazer: respeitar os direitos e liberdades fundamentais, o estado de direito e a boa governação”.
No tocante às manifestações dos últimos tempos achei curioso o facto de nenhum dos dois camaradas ter feito qualquer referência a manifestação da UNITA na cidade do Huambo.
Uma vez mais senti na apreciação feita por J.Melo uma clara diferença em relação ao empolamento feito no discurso oficial do MPLA.
Para J.Melo, “um partido com a capacidade de mobilização demonstrada, com os quadros de que dispõe e com a experiência que acumulou, não precisa de temer a presença nas ruas de duas ou três centenas de manifestantes, sem foco aparente ou então com o foco distorcido”.