segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Homenagem ao Projecto VOA de Luanda
Eu sabia, todos sabíamos, que o projecto tinha os dias contados.
Dias que, entretanto, se transformaram em meses e depois em anos.
Anos que ultrapassaram a primeira década de vida e que se poderiam prolongar por muito mais tempo, se, neste país, os profissionais independentes tivessem acesso aos bens públicos disponíveis no sector para poderem sobreviver com a dignidade necessária de quem faz do jornalismo o seu ganha-pão na sua própria terra.
Um destes bens é a licença para emitir, para transmitir, utilizando as ondas hertzianas. É a licença para abrir uma rádio. É a licença para criar mais postos de trabalho. É a licença para distribuir melhor o rendimento nacional.
Desde o princípio que tudo foi feito para se conseguir a tal licença, mas em vão, nem pensar é bom, devem estar malucos. A lei não permite. Além do mais, vocês não são pessoas de confiança, da nossa confiança. Ponto final.
E a malta da VOA de Luanda lá foi andado com o coração nas mãos, ao sabor da caridade norte-americana transformada em ajuda ao desenvolvimento de uma informação democrática e abrangente, que de facto serviu da melhor forma o país no seu conjunto, de Cabinda ao Cunene, naquela fugaz meia-hora que todos os dias passava pelas potentes frequências americanas para chegar até nós com o sabor a muito pouco.
O projecto VOA poderia, por exemplo, ter dado lugar a uma rádio local de notícias bem estruturada com muitos debates sobre todos os temas da vida nacional. O projecto acabou por dar em nada, porque os que tudo decidem neste país condenaram-no a pena de morte.
Os seus experientes profissionais, estamos certos, saberão sobreviver a esta condenação na prisão perpétua do jornalismo comprometido com os factos e com a defesa do interesse público (não confundir com interesse governamental).
Se não conseguirem, também saberemos compreender.
Nesta hora do adeus, aqui estamos nós a render esta justa homenagem ao Projecto VOA de Luanda com quem tivemos a oportunidade de colaborar vezes sem conta, sempre que a nossa opinião foi solicitada.
Uma homenagem que fazemos com todo o gosto, recordando os bons momentos que passamos juntos. Primeiro na casa da Katia Airola, ali no Cemitério Velho, depois no apartamento do Cilito na António Barroso.
Em abono da verdade este Projecto foi o único que durante estes anos todos conseguiu fazer alguma concorrência à RNA no imenso quadrado angolano, oferecendo uma informação diferente aos angolanos.
Muito diferente, por sinal.
Só por isso, valeu a pena!