quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Acta (parcial) do programa que não foi transmitido
No decorrer do programa Semana em Actualidade gravado sexta-feira que a TPA por “razões operacionais” fez-nos o favor de não transmitir no domingo, conforme deveria ter acontecido, foram duas as questões abordadas por mim e pelo Mário Pinto de Andrade, no debate moderado pelo Antunes Guanje.
Falou-se (para o boneco) na maka dos desmaios/desfalecimentos e na crise da UNITA que prossegue dentro de momentos.
No tema livre tentou-se (por antecipação) comentar a demissão do Governador de Luanda, mas na altura em que gravávamos o programa (sexta-feira de manhã) ainda não se tinha conhecimento das razões oficiais que estiveram na origem da “chicotada psicológica”, que só viriam a ser tornadas públicas no mesmo dia à noite.
Ainda no tema livre falámos da visita relâmpago efectuada por Kabila a Luanda.
Em relação à maka das escolas manifestei no debate a minha decepção pela forma como o segundo homem da polícia nacional, o Comissário Paulo de Almeida, se portou na conferência de imprensa, o que em meu entender não ajudou em nada a transmissão da mensagem de tranquilização que se pretendia passar.
De facto Paulo de Almeida com as suas piadas e apartes esteve muito mal, num momento em que devia ter tido um outro desempenho, muito mais de acordo com a seriedade da conjuntura. A sua tentativa de desdramatizar (pela via da banalização e da chacota) a situação foi desastrosa e agravou ainda mais os receios da população, para além de não ter prestigiado em nada a imagem da corporação a que pertence junto da opinião pública. Uma imagem que por si já não é nada famosa.
Quanto a acusação feita pelo psiquiatra Rui Pires, segundo a qual o sensacionalismo da imprensa teria sido o grande responsável pelo agravamento da crise, acho que ela é um recurso (já clássico) muito usado nestes casos. A imprensa é normalmente visada (para desviar atenções) em situações de crise, sobretudo quando os poderes públicos estão confrontados com algum problema mais complicado.
Conforme já aqui escrevi, acho que os jornalistas, depois das considerações feitas na conferência de imprensa, têm de ser mais criteriosos/rigorosos na cobertura desta crise, sem descurar o seu principal dever/papel que é manter a opinião pública devidamente informada.
As tentativas de silenciamento dos médias não resolvem o problema e só abrem espaço para mais especulação, com todas as consequências que se adivinham desastrosas para o combate ao clima de pânico/histeria que se quer eliminar.
No tocante à UNITA, esperava que Samakuva fosse abrir uma porta de diálogo com o “Grupo de Reflexão” e os seus mentores/apoiantes. Tal não aconteceu, tendo mesmo verificado-se um endurecimento do tom.
Trata-se de um caminho que pode não ajudar muito a solução da crise interna que se instalou no seio da UNITA.O “Grupo de Reflexão” integrado por gente mais nova da UNITA, parece ser apenas a ponta visível de um iceberg cuja dimensão ainda não é bem conhecida ou eventualmente não está completamente formado.
Seja como for Samakuva, em meu entender, continua a ter uma forte base de apoio na UNITA, o que explica de algum modo a sua recusa em dialogar com os “dissidentes”, tendo optado por um vigoroso contra-ataque, conforme ficou patente nos termos usados no comunicado lido por Alcides Sakala, no final da reunião do Comité Permanente realizada a semana passada em Luanda.
Esta reunião foi marcada logo na abertura pela constatação/acusação feita por Samakuva e dirigida directamente a Abel Chivukuvuku (AC), segundo a qual é a sua ambição em ser Presidente da República que está na origem do surgimento do “Grupo de Reflexão”.
Não vejo qualquer problema em AC querer ser Presidente da República e de em consequência dessa aspiração querer ser o candidato da UNITA as próximas eleições, como o número um da sua lista.
Isto para contrariar a ideia da conspiração que está subjacente à referência feita por I.Samakuva ao seu rival, onde só faltou falar em golpes palacianos.
É meu entendimento que a direcção da UNITA não está a saber reagir muito bem a este desafio que tem pela frente, numa altura em que as eleições se aproximam, sendo o único beneficiário de toda esta turbulência, o partido da situação que só pode estar a “divertir-se” com o que se está a passar…