sábado, 13 de dezembro de 2008

Grito do Ipiranga na rádio estatal? (actualizado aos 15/12)

Para quem não sabe, o Grito do Ipiranga tem a ver com a proclamação da independência do Brasil. De lá para cá a expressão vem sendo também utilizada em sentido figurado para retratar situações relacionadas com a necessidade pungente de liberdade, contra qualquer tipo de asfixia, particularmente aquelas que são politicamente motivadas. Independência e liberdade são valores estruturantes do jornalismo e da actividade dos seus profissionais e órgãos. Sempre que houver um Grito do Ipiranga na comunicação social angolana aqui estaremos nós para lhe ampliar/amplificar todos os decibéis. No ano do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) os governos que a subscreveram não se deveriam esquecer que o artigo 19 da referida diz que "todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão". Entre nós o artigo 19 é aquele que mais nos preocupa enquanto jornalistas, mas não só, porque é do seu cumprimento que em muito está dependente o prosseguimento (aprofundamento) do próprio processo de democratização, que conheceu agora um desenvolvimento importante com a realização das eleições de 5 de Setembro. Com a comunicação social estatal de costas voltadas para o principio do contraditório e cada vez mais alérgica ao debate politico pluralista; com a propaganda e a desinformação a substituirem todos os dias a informação rigorosa e objectiva; com os "opinions makers" escolhidos a dedo; com a "vox populi" a debitar apenas mensagens de apoio ao governo e ao "Camarada Presidente" e com as licenças de rádio e televisão a serem atribuídas somente aos "projectos do grande clube", o artigo 19 da DUDH tem no território angolano um palco muito dificil para exibir os seus "dotes artísticos". Os poucos espaços mediáticos que ainda vão permitindo a actuação do artigo 19 na sua plenitude, todos os dias são "assaltados", com os seus melhores profissionais a serem "raptados" a troco de aliciantes remunerações dificeis de recusar por quem não tem o mínimo dos mínimos. O cenário já é de resistência ao "carro de fumo", entendida aqui esta referência da luta contra o mosquito, como sendo a estratégia de eliminação pela "via do mercado" de todas as vozes que não façam o côro com o discurso oficial. [Grito do Ipiranga-Acontecimento ocorrido a 7 de Setembro de 1822 que simboliza a independência do Brasil. Na sequência de diversos conflitos de poderes entre as Cortes e a administração da colónia, o príncipe português D. Pedro (o futuro D. Pedro IV), regente do Brasil, declarou o território definitivamente separado da metrópole, bradando "Independência ou morte!". O facto ocorreu nas margens do Rio Ipiranga. No dia 1 de Dezembro seguinte, D. Pedro foi coroado imperador do Brasil.]