quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Poligamia, direitos humanos, Igreja Católica e celibato
A afirmação constante do “fac-simile” foi atribuída pelo “O País” ao Frei João Domingos, uma pessoa por quem temos a maior consideração e respeito.
O Frei já é, por mérito próprio, uma das referências mais cintiliantes da nossa sociedade civil, num país onde as reservas morais, sobretudo ao nível da sociedade mais politico-partidária, são verdadeiras aves raras.
Não podemos, porém, estar de acordo com João Domingos, quando considera a poligamia (ter duas mulheres) como sendo uma violação dos direitos humanos.
Negativo.
Para além de outras considerações que se possam fazer em relação a esta problemática, diremos para já que cada caso é um caso, não sendo por si só a monogamia uma garantia suficiente de protecção dos direitos humanos da mulher nas uniões conjugais.
Um número muito considerável de casos de violência doméstica acontece em uniões monogâmicas.
A questão que, em contrapartida, se pode colocar tem a ver com a existência ou não de um outro tipo de violação quando, na vida de alguém, aparentemente, não há espaço para o sexo oposto, seja ele homem ou mulher.
É, claramente, um recado que dirigimos à própria Igreja Católica com a melhor das intenções, embora seja uma óbvia crítica à sua doutrina e muito particularmente à uma praxis que a hierarquia tem cada vez mais dificuldades em gerir, sobretudo quando se sabe que os seus resultados menos positivos têm arrasado a própria imagem e a credibilidade da instituição.
Estamos convencidos que a maior violação da lei de Deus é a própria prática do celibato, responsável pela maior parte dos escândalos sexuais (pedofilia e outras taras) que têm vindo a marcar, da pior forma, a vida intramuros das diferentes congregações e confrarias católicas.
De facto, não ter nenhuma mulher ou nenhum homem, acaba por ser uma grave violação da própria natureza humana que a hierarquia católica vai ter de resolver mais tarde ou mais cedo.
O movimento dos padres católicos casados fala bem desta urgência, que a mais alta hierarquia da Igreja continua a ignorar, ao mesmo tempo que fecha os olhos aos continuados e repetidos escândalos sexuais dos seus “funcionários” e das suas “funcionárias”. Já fechou mais.
Fecha os olhos, mas depois é forçada a abrir os cordões à bolsa para pagar milionárias indemnizações às vítimas dos abusos sexuais praticados pelos seus "quadros", sendo o que se passa nos EUA, uma ilustração bastante dramática e paradigmática destes comportamentos desviantes.
E o mais grave é que tais comportamentos vão manter-se, enquanto se mantiver esta violação da natureza humana, que reprime o desejo de uma forma nada sustentável e muito menos aconslhável. É quase o mesmo que tentar tapar o sol com a peneira.
Em nome da mesma fé, recorde-se, a reforma de Martinho Lutero soube ultrapassar esta "crise" já lá vários séculos.
Em nome dessa mesma fé, milhões de católicos foram libertados por Lutero de uma "lei da rolha" que um Papá qualquer introduziu na Igreja no século V (?) em nome sabe-se lá do quê.
Os que seguiram Lutero são conhecidos hoje pela designação geral de protestantes.
Eu faço parte desta "tradição", que chegou a Angola na bagagem dos missionários metodistas norte-americanos.