Já com 66 cacimbos completos nos ombros, Vum Vum Kamusasadi (VV), de seu nome completo Manuel Rosário das Neves, sem dúvidas um dos maiores vultos do music-hall angolano das décadas de 60/70 voltou a cantar e a encantar em Luanda, após mais de 40 anos de ausência dos nossos palcos.
Não se tratou propriamente de um espectáculo. Nem pouco mais ou menos.
Foi apenas um “cheirinho” que soube a muito pouco, mas que deu para constatar que as suas enormes qualidades vocais continuam intactas, como se o tempo não tivesse passado por ele, a prometer novos desafios.
Aconteceu na passada sexta-feira no restaurante “Buraco”, localizado na floresta do Kinaxixi, numa homenagem à sua figura que Sabu Guimarães, Pedro Ramalhoso e outros amigos organizaram naquele simpático e sossegado local da nossa urbe.
Vum Vum vive na Alemanha onde se radicou há várias décadas e onde continua a desenvolver a sua veia artística, da qual, a espaços, vamos tendo algumas notícias, muito poucas por sinal.
Antes de ouvirmos Vum Vum, alguns dos seus colegas presentes fizeram questão de o homenagear cantando ao som de um fabuloso trio composto por Carlitos Vieira Dias (viola), Rui César (Piano) e Hénio Braz (Percussão).
Desfilaram assim para a nossa integral satisfação de ouvir boa música angolana em boa companhia, bem longe de alguns conhecidos e insuportáveis ruídos, Elias Dia Kimuézu, Cirineu Bastos com o seu inconfundível “Palhaço”, Dionísio Rocha, Mário Gama e a sua sobrinha.
Depois foi a vez de Vum Vum interpretar dois temas, tendo começado por declamar primeiramente dois poemas da sua lavra das letras, que já tem na forja alguns projectos.
Para além do clássico “Monami” e num dueto com o anfitrião Sabú Guimarães, Vuvum brindou-nos seguidamente com o “Meu nome é ninguém” do brasileiro Miltinho.
Estava assim encerrada a homenagem e este breve regresso de VV aos palcos luandenses, de onde saiu há 40 anos com uma história de sucessos que ultrapassaram as nossas fronteiras, fazendo dele uma das referências mais aclamadas da música angolana no estrangeiro.
Quem ainda se lembra do “Muzangola” e do “Xé Xé Kangrima” que fazem parte do seu primeiro LP gravado em Lisboa com a participação de Teta Lando?
São, para que conste na história, as duas primeiras bombas do soul/funk angolano, onde, como disse alguém com quem nos cruzamos recentemente na Net, “o cantor gritou tudo o que lhe ia na alma”.
(Este texto foi-me solicitado e publicado este fim-de-semana pelo Novo Jornal)