Michael Jackson morreu aos 50 anos, sem que até agora tenha sido apurada a causa do seu inesperado óbito, em vésperas de dar inicio ao que deveria ser a sua mais extraordinária (monumental) tourné internacional com a realização de 50 espectáculos no UK nos próximos meses.
Por burla bilionária, o “fundista” Bernard Madoff aos 75 anos de idade foi condenado a 150 anos de cadeia efectiva, o que significa na prática uma pena por morte lenta.
O que é que os dois acontecimentos têm em comum?
Para além dos dois protagonistas terem nascido nos EUA, são acontecimentos tristes, muito tristes mesmo.
O primeiro é de uma grande tristeza para a família, os amigos e os fãs do Michael, onde estamos incluídos, desde o tempo dos genuínos “Jacksons Five”.
O segundo é igualmente de uma grande tristeza e revolta para todos quantos foram enganados pelo Madoff e que hoje enfrentam graves problemas financeiros quando pensavam que tinham a sua situação definitivamente resolvida com os investimentos feitos.
Para além das carradas de tristeza que originou, Madoff é igualmente a tristeza em pessoa, tristeza do ponto de vista do seu ganancioso desempenho profissional a traduzir a tristeza de um sistema que tanta tristeza tem estado a provocar por este mundo afora, com todos os prejuízos dramáticos que se conhecem e que são responsáveis pela actual crise internacional que nos afecta todos.
Madoff é o símbolo mais perverso deste sistema global que vive da especulação desenfreada e alimenta meia dúzia de chulos. Um sistema que deveria ser julgado por toda a humanidade e condenado a desaparecer definitivamente de todas as bolsas, bolsos e kafucolos. A solução é mesmo abandonar a bolsa e voltar a economia real.
Este recado é especialmente dirigido a alguns angolanos muito especiais que andam a “brincar” com o dinheiro público além fronteiras em investimentos bolsistas cuja consistência poucos conhecem.
De consolação, sobra a rapidez exemplar com que Madoff foi julgado e … condenado.
Uma consolação que não conseguimos encontrar noutras paragens e noutros sistemas judiciais, onde o colarinho branco continua a passear folgado e com a consciência tranquila.
Michael Jackson e Bernard Madoff têm ainda em comum o facto dos dois terem andado parte da sua vida a aldrabar os outros.
Já se sabe como Madoff vigarizou meio mundo e como terminou num banco dos réus.
Quanto a Michael Jackson e depois de todas as histórias que temos ouvido antes e depois da sua morte, estamos igualmente muito tristes com a sua pessoa e com a sua vergonha de ser ele próprio, sem disfarces, sem truques, sem esquemas e sem operações.
Até com as mulheres, os filhos e a sua sexualidade nada parece ter sido real no meio século que por aqui andou a esbanjar talento no seu género, onde de facto o "Rei da Pop" foi imbatível.
Michael Jackson corre o risco de ficar na história da humanidade como uma das pessoas mais equivocadas de todo o sempre, quando teve tudo e mais alguma coisa para ser um exemplo, uma referência, uma mais valia para todos quantos o idolatraram.
Já tentei compreendê-lo para além de todo o seu imenso talento artístico.
Desconsegui.
Dizer que ele foi vítima de uma América racista que não tolera o sucesso dos negros, não parece ser verdade no caso de MJ, que, aparentemente, como entidade moral, sucumbiu ao peso da fama e dos milhões que conseguiu arrecadar, como tantos outros que atingiram tais píncaros nos palcos da música ou nos campos do desporto.
Michael Jackson foi vítima de si próprio, foi vítima de toda a tristeza de uma outra pessoa em que se converteu, por ter querido ser alguém que não era, que não podia ser.
E o que ainda é mais triste em toda esta triste história é que Michael Jackson queria ser apenas branco e tudo leva a crer que tenha morrido como consequência desta sua saga inglória e absurda.
Podia ter querido ser um cientista, um adivinho do futuro, um fazedor de milagres, um inventor do elixir da juventude, o super-homem ou o homem-aranha.
Se tal tivesse acontecido, não teríamos, de certeza, escrito este obituário pouco simpático, com que hoje nos estamos aqui a despedir dele e a lamentar a sua morte.