terça-feira, 14 de julho de 2009
O caso Mingota e o exemplo do Ministro
O actual Ministro da Saúde, de seu nome completo José Vieira Dias Vanduném, corre o sério risco de ficar na história deste país por ter feito o que prometeu em tempo recorde. Pouco menos de uma semana. Uma verdadeira proeza no país real dos dois discursos e da propaganda como solução ideal para o que está mal.
Da pobre Mingota, como não foi a primeira, nem será a última, poucos se lembrarão dela dentro de mais alguns meses, embora aquela imagem das suas derradeiras convulsões que a TPA transmitiu quase em directo, dificilmente alguém que a viu poderá esquecer.
O Ministro da Saúde pode de facto a partir de agora introduzir no “modus operandi” das nossas instituições oficiais uma dinâmica que lhes é completamente estranha quando se trata de apurar responsabilidades e de punir os culpados.
Enquanto se aguardam por outros desenvolvimentos mais definitivos, no país onde a culpa habitualmente morre solteira, o que o Ministro fez é uma verdadeira heresia para o imobilismo e o marasmo em que está mergulhada a nossa (deles) administração pública.
Efectivamente e sem se pretender “esticar” demasiado a importância do gesto, o Ministro conseguiu provar que é possível, mesmo com todas as gasosas, encobrimentos e salários de miséria, estar-se no sector público com um outro espírito de missão que não é aquele que conhecemos e que de missão tem tudo menos o que deveria ter.
Todos sabemos que não é fácil colocar ordem num circo, onde é melhor não fazer ondas, onde o jogo de bastidores é mais importante do que tudo o resto, onde ser do tal “partido” ainda é um valor moral e uma mais-valia absoluta, onde tudo se resolve deixando tudo como está e onde o que não tem remédio remediado está.
O Ministro com o seu gesto frontal (o único possível aliás) conseguiu os aplausos de toda a sociedade, num país onde o que é normal vira espectacular e o que é condenável é tolerado e mesmo aceite com o argumento de que não somos os únicos ou ainda de que lá fora também é assim ou mesmo pior. As comparações com os exemplos bons evitam-se, como é evidente.
O Ministro conseguiu igualmente arranjar mais uns bons e poderosos inimigos dentro da sua própria família política, que, certamente, não lhe vão perdoar por ter ido tão longe e de forma tão rápida. A intriga palaciana encarregar-se-á de fazer o resto.
A esperança é que o seu gesto faça escola ao nível básico, médio e superior e que a partir de agora uma nova cultura de responsabilidade e da responsabilização se implante nos corredores de todos os hospitais deste país, mas não só.
Esta cultura tem que ser implantada primeiro nos corredores da estratosfera do próprio poder político, pois é sobretudo lá onde todos os dias os cidadãos são mortos lentamente por decisões equivocadas que são tomadas e pelos colossais desvios de fundos públicos que são efectuados pela via do despesismo, da corrupção e de outros malabarismos que só nos empobrecem ainda mais.
Podemos ter uma saúde pública e uma educação muito melhores, podemos ter melhores transportes públicos, podemos ter menos pobreza e menos criminalidade, se de facto os recursos forem melhor aplicados.
É tão simples quanto isso.
Será que ninguém entende onde é que está o segredo deste país?
PS- O Director do Hospital Geral de Luanda acaba de ser demitido pela Governadora Francisca do Espirito Santo na sequência de um estarrecedor caso de violação sexual de uma debilitada paciente que se encontrava a receber cuidados naquela unidade sanitária localizada na Camama.