domingo, 25 de outubro de 2009

Bilo no NJ entre Fernando Pacheco e Adelino de Almeida

O engenheiro Fernando Pacheco e o parlamentar Adelino de Almeida, que já foram "jogadores da mesma equipa" em tempos que já lá vão, envolveram-se nas últimas semanas numa interessante e acesa troca de galhardetes, na sequência do amargurado texto que o deputado do MPLA publicou no SA a propósito da morte do seu "amigo de peito", André Passy.
O ringue deste bilo, do qual respigamos para aqui algumas passagens (com a devida vénia), acabou por ser o espaço editorial do NJ.
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"Um dos dramas de Passy e de muitos outros quadros ligados ao MPLA tem a ver com a orfandade em que caiem – ou a que se submetem – quando, por qualquer motivo, deixam de estar sob a asa protectora do MPLA ou do Estado. Frequentemente ouve- se dizer que fulano, depois de ter cessado uma função, “está à espera” de uma colocação ou de outra coisa qualquer, que alimenta a dependência em relação aos chefes, ainda que tenham formação académica e profissão. Nesse aspecto, a corajosa confissão do deputado Adelino de Almeida a propósito da partida de Passy é chocante e suficientementereveladora."-Fernando Pacheco (FP)
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"Receio que eu tenha sido mal interpretado quando, a propósito da partida do amigo André Passy – ex-deputado à Assembleia Nacional –tivesse sido referido como refém de um pensamento fossilizado, um dinossauro, talvez, à espera que o Estado “colocasse” o dito cujo, após perda do mandato parlamentar, em 2OO8. Já insinuaram, numa coluna semanal, que andariam por aí saudosistas do MPLA. É evidente que captámos a mensagem. O problema parece estar na individualização do André Passy como o “último dos camaradas”! É, apenas, uma metáfora, que evidentemente, não tira mérito aos muitos angolanos que se mantêm firmes nas suas convicções filosóficas e políticas de outrora."-Adelino de Almeida (AA)
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"Trata-se da mesma forma de pensar e de estar que advém da máxima de Agostinho Neto “o mais importante é resolver os problemas do povo”. Num quadro de Estado Providência, de forte pendor paternalista, e de economia administrativamente centralizada, como era o de há 30 anos atrás, fazia sentido esperar que o Estado tivesse a obrigação de resolver os problemas do povo. No quadro actual, em que se pretende um Estado democrático e uma economia de mercado – a componente social desta parece ter sido metida na gaveta – o mais importante para o poder de Estado já não pode ser “resolver os problemas do povo”, mas ajudar, criando um ambiente mais favorável, o povo a resolver os seus próprios problemas." -FP
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"Eu tenho uma visão diferente. Devemos ter os pés bem assentes na terra, para concluir que não vivemos (ainda) em situação “normal”. Acomodámos os generais da UNITA e as suas tropas, enão ouvimos um ai! dos novos arautos da democracia. Antes, já tivemos a “política de clemência”. Lembram-se da FNLA e do COMIRA? Saberão, com certeza, os leitores, que Vladimir Putin, ex-presidente da Federação Russa é,hoje, o primeiro- ministro do país. E que o controverso ministro dos transportes de Portugal, Mário Lino, veio dizer, há dias, que nada estava em aberto quanto à sua recondução ao cargo. Também se fala da eventualidade de Tony Blair – antigo primeiro ministro da Grã-Bretanha – se tornar Comissáriochefe da comunidade europeia. Eu pergunto: não faltarão a todos eles competências académicas e profissionais para irem às suas vidas? Seria isso motivo bastante para inferir que, nos respectivos países, estariam a ser criadas “as condições para a edificação de um Estado totalitário?" -AA
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"Têm de ser os próprios cidadãos, e ninguém melhor do que eles, a assumir, individualmente ou através de acções colectivas, as soluções dos seus problemas. É esta participação dos cidadãos e das suas organizações que dá conteúdo à construção de uma cultura democrática e, consequentemente de um Estado democrático. Doutra forma, os cidadãos permanecerão eternamente órfãos. Poderemos estar até a fazer crescer e a fazer crer que estamos a modernizar o país, mas seguramente estaremos a criar as condições para a edificação de um Estado totalitário, algo que não é moderno com toda a certeza."-FP
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"A questão que aqui se coloca, agora, é o da correcta gestão previsional dos quadros– que combina a competência técnico- profissional, os valores pátrios e a convicção de que “o mais importante é resolver os problemas do povo”. Recuso- me a supor que o papel do Estado se resuma à criação de um ambiente favorável para que seja o povo a resolver os seus próprios problemas. Cheira-me, isso, a um liberalismo puro e duro, que ignora as nossas condições histórico concretas, exigindo-se do Estado uma intervenção dinâmica, reguladora e com bastante autoridade."-AA