sexta-feira, 30 de outubro de 2009
(Flashback/Novembro 2006) O nosso artista da desinformação
“A comunicação Social Vítima dos Negociantes”- é o título de um livro que comprei em Lisboa em 1996 e que me tem acompanhado desde então, como um precioso auxiliar em termos de orientação para me movimentar pelas zonas mais cinzentas do nosso métier, que de facto existem e são mais do que muitas.
O livro editado em 1992, reúne uma vintena de textos analíticos dos mais consagrados jornalistas internacionais (e não só), maioritariamente europeus.
É coordenado pelo já falecido Claude Julien que assina algumas das mais brilhantes e lúcidas análises que integram esta publicação com quem já tenho uma sólida amizade de longa data.
Na mais recente visita que efectuei ao dito cujo, ainda esta semana, meti conversa com “A arte da desinformação”, um dos textos assinados por Claude Julien, que, salvaguardas as devidas distâncias e contextos, tem muito a ver com a nossa realidade mediática.
Parece uma evidência, mas talvez a maior parte de nós não saiba qual é o objectivo da desinformação que todos os dias nos é servida, com particular generosidade ao fim de semana, sem que nos apercebamos da sua existência.
“Influenciar a opinião pública difundindo mentiras que parecem verdades, é este”- segundo Claude Julien- “o objectivo da desinformação”.
Atenção que desinformação não tem nada a ver com a chamada propaganda clássica, que acaba por ser ao lado da primeira um verdadeiro e inofensivo bebé. Até dá gosto ser vítima da propaganda.
Claude Julien diz-nos que o grande público nem sequer pode imaginar a amplidão deste drama concebido não só para lhe esconder a verdade mas também para lhe insuflar insidiosamente informações que parecem autênticas, ideias falsamente sãs, juízos enganadoramente equilibrados.
Mais do que isso, e para a nossa desgraça enquanto homens dos “médias”, o Mestre Julien descobriu que particularmente eficazes nesta sujeição dos espíritos são os jornais, que são tanto mais de temer quanto é certo que têm todas as aparências da boa-fé e da objectividade.
Aqui chegados só nos resta olhar à nossa volta, com alguma atenção porque a desinformação é de facto uma imensa cadeia sem grades que aprisiona milhões de leitores sem qualquer custo especial, para pagar agentes penitenciários.
Eles (que afinal somos todos nós), segundo Claude Julien, não sabem que são prisioneiros de ideias, de pensamentos, de concepções instilados no seu espírito por um mestre diabolicamente hábil, trabalhando com obstinação de há décadas a esta parte, nunca falho de astúcia e de processos novos.
Mais preocupante do isso é que o Artista já percebeu que aumenta a eficácia da sua actuação se propagar o seu veneno em doses pequenas, como se matam os ratos, para eles não desconfiarem logo à primeira toma que estão a ser “engolidos definitivamente”.