sábado, 3 de abril de 2010
Cuito Cuanavale, 22 anos depois... (actualizado)
A propaganda, a manipulação e a desinformação continuam a ser mais fortes.
A história vai ter de esperar, de preferência bem sentada para não se cansar muito, para não se desesperar com tantos adiamentos.
Os milhares de jovens angolanos que morreram na campanha, mais de 4 mil (só do lado das FAPLA), continuam a ser os grandes esquecidos.
Cuito Cuanavale não foi apenas uma batalha. Foi uma campanha que durou vários meses(Dezembro87/Março 1988).
Pelo que todos sabemos a campanha foi uma iniciativa estratégica do Governo/FAPLA e destinava-se a desalojar a UNITA da Jamba, o seu quartel-general.
Como todos também sabemos este grande objectivo não foi conseguido.
Em defesa do seu aliado da época, a UNITA, os sul-africanos entraram na "porrada" exactamente para impedir que as FAPLA chegassem à Jamba.
Tudo o resto, até ver, são apenas versões (memória) da história contadas pelos seus protagonistas, que, por razões óbvias, não podem sózinhos fazer essa mesma história.
A memória, para além de ser fragmentada, é pessoal e trai-nos todos os dias, quando não somos nós mesmos, e de forma deliberada, a traí-la, sobretudo quando se trata de políticos que assumiram responsabilidades em momentos particularmente conturbados da vida dos respectivos países.
Um livro de memórias tem sempre um valor muito relativo do ponto de vista da objectividade.
Um livro de memórias é apenas um contributo, um subsídio.
A história é assunto mais sério. É para investigadores, é ... para historiadores que em meu entender são pessoas que não podem ter preocupações políticas com o passado.
O passado é mesmo e só passado. As gerações futuras precisam apenas de saber o que realmente se passou (causas e consequências) e como se passou.
Este é o grande compromisso da história e dos historiadores.
É verdade que o inicio da caminhada para a independência da Namibia e para o fim do apartheid foi uma consequência política do que se passou no Cuito Cuanavale.
Mas também é igualmente verdade que, na mesma linha de raciocínio, a saída das tropas cubanas de Angola, o fim do regime marxista angolano e a abertura do país ao multipartidarismo com a realização em 92 das primeiras eleições, também foram uma consequência do que se passou no Cuito Cuanavale.
É assim tão difícil admitir tudo isto?
É assim tão complicado para a imagem deste regime meter tudo no mesmo pacote chamado
Cuito Cuanavale?
O que é mais do que "certo", conforme reconheceu nos últimos dias o Presidente José Eduardo dos Santos, "é que depois da Batalha do Cuito Cuanavale nada ficou como antes na nossa região".
Mas nada mesmo, acrescentaríamos nós, com os olhos postos na realidade política angolana, que de lá para cá sofreu uma alteração de 360º, mesmo se em muitos aspectos, esta completa reviravolta ainda continua a ser mais cosmética do que efectiva.
Os recentes acontecimentos do Lubango e de Benguela estão aí para demonstrar que, mesmo com a entrada em vigôr da nova Constituição, o discurso político e a prática institucional em Angola ainda não fizeram as pazes.
O processo negocial (agora apenas no seio do regime) continua até ao momento sem produzir resultados mais definitivos e convincentes ao ponto de já termos lido desbafos como este: " A 3ª República é apenas e tão somente mais um embuste!"
Sintomático.
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1 comentários:
Camilo disse...
Amigo W. Dadá...
Este é mais um "mistério"... a juntar ao do "Fraccionismo".
"Estive" presente em ambos.
Um Abraço.
4 de Abril de 2010 01:54
Anónimo disse...
Afinal quem ganhou essa guerra? Vimos no Luena a Unita de rastos e os Kamorteiros e Gatos em estado lastimável cheios de piolhos... As imagens são indesmentíveis!!! O resto de kuitos... São pura conversa para esconder a derrota dos que veladamente defendiam o regime racista na RSA.
6 de Abril de 2010 07:39