[O jornalismo é mais um produto
que está no mercado, com todas as características especiais que possa ter, que
de facto existem, e são pacificamente reconhecidas por todos, entre produtores
e consumidores.
Sendo um produto que circula no
mercado está naturalmente sujeito à fiscalização, sendo aqui igualmente
especial este tipo de acompanhamento, feito antes de mais pela consciência
crítica e a capacidade de observação de cada um dos consumidores.
Em qualquer produto para consumo
humano, o que mais preocupa o consumidor é saber se ele está ou não contaminado
com alguma bactéria ou vírus mais ou menos perigoso para a nossa saúde.
Numa outra latitude, o jornalismo
também não constitui excepção, havendo no entanto aqui que utilizar um
microscópio especial para detectar as eventuais ameaças à saúde das pessoas que
tomam contacto com o referido produto.
Lamentavelmente, embora em doses
ainda limitadas, o jornalismo angolano começa a ficar contaminado por um dos
vírus mais perigosos que ataca o nosso produto.
É o vírus da chantagem e da
extorsão, a configurar um evidente ilícito penal, absolutamente incompatível
com qualquer perspectiva de abordagem do fenómeno jornalístico, mesmo nas
condições concretas e muito especiais de um país chamado Angola, onde tudo pode
acontecer. E acontece mesmo.
É como nas guerras verdadeiras.
Mesmo para as guerras existem
convenções que limitam certas intervenções dos beligerantes em nome do direito
humanitário.
São as famosas convenções de
Genebra que, desgraçadamente, a maior parte das guerras ignora, pisoteia,
agride. Viva a Paz!
Por exemplo não se pode matar um
inimigo se ele estiver desarmado. Não se podem maltratar ou torturar os
prisioneiros de guerra. Não se podem usar certas armas letais.
Na minha dupla condição de
produtor e consumidor de informação participei a semana passada, como
palestrante, nas Jornadas sobre Comunicação Social promovidas pelo CEFOJOR, uma
iniciativa que já vai na sua quarta edição.
As Jornadas parecem assim, pela
mão firme do Mário Costa, ter entrado já para o calendário anual das poucas
actividades relevantes relacionadas com o nosso panorama mediático.
Relevantes sobretudo no plano da
reflexão profissional, ao “serviço do bom jornalismo”, numa altura em que nos
aproximamos de um dos períodos mais complicados para a vida da comunicação
social e dos jornalistas em qualquer país.
Estamos a falar das eleições que
se avizinham de uma data colocada no horizonte de Setembro de 2006, com todas
as expectativas que elas encerram. Boas e más.
Estamos preocupados com o andar
da nossa carruagem mediática, pelo que decidimos propor à classe, desta
tribuna, no espírito da auto-regulação, a discussão e adopção de uma convenção
contra a chantagem e a extorsão, considerando tais ilícitos, como limites
absolutamente inultrapassáveis por quem anda nas nossas lides.
É uma espécie de mínimo
denominador de comum que pensamos ser possível discutir serenamente e adoptar
rapidamente em Assembleia-Geral de todos os interessados em combater o
mencionado vírus.
Estão todos convidados a tomar
parte no encontro que ainda não tem data marcada.]
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Inventada ou
não pela globalização, a transparência está na moda, e ainda bem que assim o é.
O problema é
que a moda está a custar a pegar, embora todos manifestem simpatia e muito apreço
por ela, considerando-a uma onda bué fixe!
Discursos,
intenções e proclamações, num desfile por conhecidas passarelles, onde famosos
estilistas e esbeltos manequins vendem da melhor forma as suas habilidades.
A transparência
é daquelas modas que não faz mal a ninguém, que não coloca problemas de idade,
nem de sexo, nem de raça e muito menos de religião.
Está ao alcance
de todos por uma módica quantia que habitualmente não ultrapassa vontade
efectiva e real de cada um em querer ser transparente, sobretudo quando se tem
responsabilidades públicas.
Aí a
transparência vira exigência, vira cultura, por razões demasiado óbvias para o
mais comum dos cidadãos.
Tendo em conta
as críticas dos mais ferozes adversários da globalização, e como suposto
produto da mesma, a transparência parece-nos ser claramente aquele que menos
choca com as particularidades culturais de cada povo deste planeta-terra.
Antes pelo
contrário, ela, a transparência, assume-se como um valor intrínseco e por
excelência da própria globalização, entendida esta como uma filosofia de vida
mundial que tenta juntar no mesmo saco, que ainda é de gatos, referências que
nos são comuns e que podem viabilizar consensos à escala universal, como a
democracia das urnas e o respeito pelos direitos humanos.
Não é
certamente esta a praxis da globalização de que vamos tendo notícias que
inundam diariamente os espaços informativos que vamos consumindo, muitas vezes
com o sabor amargo das imposições brutais dos donos do planeta que se dão ao
luxo de destruir civilizações inteiras em nome sei lá do quê, para depois
realizarem conferências internacionais de doadores à caça de migalhas.
Na moda está
igualmente o jornalismo. Uma moda mais antiga que, entretanto já pegou, que já
tem raízes profundas em todo o mundo e graças à qual todas as outras modas vão
chegando com maior ou menor rapidez ao conhecimento da opinião pública.
É de facto
graças a actividade jornalística, com todos os defeitos que a mesma possa
enfermar, o principal dos quais parece ser a manipulação da realidade, que as
pessoas se vão apercebendo que existem outras modas dentro e fora do país, como
é o caso da muito badalada transparência, transformada já na principal dor de
cabeça de muitos executivos, sobretudo daqueles que não conseguem resolver os
problemas dos seus cidadãos sem a ajuda de uma tal de comunidade internacional.
Nesta
comunicação resolvemos associar estas duas modas, a transparência e a
actividade jornalística, partindo antes de mais da constatação que são
necessariamente múltiplos e complexos os ângulos existentes quando se pretende
abordar um tal relacionamento que é a todos os títulos profundamente
dialéctico.
Na
impossibilidade de conferirmos a esta modesta comunicação a abrangência
quilométrica de uma tese de doutoramento que ela precisaria para dissecarmos a
problemática em causa de todos os seus ângulos, vamos ficar-nos por dois deles
que terão um pouco mais a ver com a temática deste painel dedicado ao
jornalismo de especialidade, na sua vertente económica.
Vamos assim,
primeiro, ater-nos à transparência enquanto exigência fundamental do jornalismo
económico do ponto de vista do desempenho dos seus profissionais, com as
atenções particularmente voltadas para o seu relacionamento com as fontes.
Em nome da
honestidade, temos de reconhecer que a realidade mediática angolana a este
nível já inspira alguns cuidados à semelhança do que se passa noutros sectores,
incluindo a justiça, onde a conjuntura de apertos, dificuldades e salários
incompatíveis, dominada por uma grande variável chamada gasosa, explica muitos
comportamentos difíceis de entender à primeira vista. Será possível fazer
alguma coisa contra esta tendência, que acaba por ser ditada pelo próprio
mercado?
Uma
interrogação que desde já deixamos à consideração dos presentes, conscientes de
que as coisas estão cada vez mais complicadas para quem pretende sobreviver
neste mercado.
Em nome da
sobrevivência de projectos e postos de trabalho, os fundamentos mais
estruturantes do jornalismo de referência têm estado a recuar para posições
pouco confortáveis para uma profissão que tem a missão de estar a atenta a tudo
e todos, em defesa do interesse público.
Por outras
razões e com outros objectivos assiste-se ao mesmo recuo em outras paragens do
mundo, onde, era suposto os jornalistas terem todas as condições e mais algumas
em matéria de independência, para o cabal exercício da sua actividade.
Os EUA, para a
surpresa de muito boa gente, oferecem-nos situações bastante complicadas onde o
chamado jornalismo financeiro está a transformar-se num parceiro ideal de
empresários e investidores, alguns dos quais são os próprios jornalistas.
Algo triste
ocorreu ao longo do tempo, confessa-nos a jornalista norte-americana Diana B. Henrique reflectindo sobre a
realidade em transformação do exercício da profissão nos States na área do
jornalismo financeiro.
Para a nossa
confrade norte-americana à medida que a audiência pretendida se tornava mais
limitada, acontecia o mesmo com os jornalistas, com os seus horizontes.
Diana Henriques
diz-nos que actualmente o jornalismo financeiro nos EUA, “raramente tange as
cordas sonoras dos temas emocionantes do grande jornalismo. A maioria
simplesmente grunhe e cochicha”.
O segundo
ângulo desta abordagem tem a ver com a capacidade de um jornalismo económico transparente
e actuante contribuir para uma gestão transparente de um dos bens mais
preciosos que qualquer sociedade tem à sua disposição que é o seu erário, o seu
tesouro público. O destaque aqui será conferido ao jornalismo investigativo, o
grande ausente da nossa praça onde por vezes é confundido com outras
intervenções mais superficiais que não têm de facto a profundidade e a
consistência que são exigidos a um tal jornalismo. Uma ausência que tem várias
explicações, uma das quais será o receio alimentado pelos próprios jornalistas
de sofrerem algumas consequências menos simpáticas para a sua saúde física, num
país tão violento como é o nosso.
Para além de
todas as conhecidas desgraças que têm vindo a assolar os países em vias de
desenvolvimento, está hoje mais do que provado que a má gestão da coisa pública
começa a emergir como sendo a principal causa do atraso e da pobreza.
O caso
nigeriano, com os mais de dois biliões de dólares desviados pelo já falecido
Sani Abacha, fala bem desta nova realidade que, no seu conjunto, já terá
custado ao continente africano pelo menos 140 biliões de dólares, de acordo com
as estimativas avançadas há dois anos pelo Presidente Olusegum Obasanjo.
Não conseguimos
saber qual foi a base da estimativa feita pelo actual Chefe de Estado
nigeriano, um dos defensores, da aprovação a nível internacional de convenções
que penalizem todos quantos estejam envolvidos em desvios de fundos públicos,
incluindo os países e os bancos para onde as astronómicas somas são
encaminhadas de forma fraudulenta.
Seja como for, todos parecemos estar de acordo
em relação ao impacto positivo de uma boa governação para a rápida resolução
dos problemas sócio-económicos de qualquer país.
Em Angola foi o
próprio Presidente José Eduardo dos Santos quem muito recentemente, por ocasião
das celebrações do 29º aniversário da independência nacional reconheceu esta
necessidade ao destacar a necessidade de se analisar os erros cometidos, a fim
de os corrigir, melhorar a fiscalização e realizar mais inspecções financeiras.
O jornalismo
económico está aí, com as portas bem abertas, para participar activamente neste
esforço de correcção, que tem de ser necessariamente crítico, transparente e
substantivo, para que um tal exercício possa resultar como deve ser e não ficar
apenas no plano das intenções e das promessas, que acaba por ser a principal
imagem de marca dos políticos, sobretudo em vésperas de eleições.
Entre as várias
questões relacionadas com a transparência que se colocam ao exercício da
actividade jornalística, pensamos que uma das mais estruturantes tem a ver com
o conceito da objectividade, apontado pelo académico brasileiro Perseu Abramo (PA),
como sendo a pedra de toque para se fazer face aos perigos da manipulação, com
maior ou menor sucesso em função de cada contexto mais específico.
Ele separa
claramente a objectividade dos restantes conceitos que normalmente norteiam a
actividade jornalística, no plano da ética e da deontologia.
Abramo que
sustenta e bastante bem a impossibilidade do jornalismo ser imparcial, neutro e
isento, que considera que nem sequer é desejável que tal aconteça, abre uma
excepção para o binómio honestidade/desonestidade, partindo do pressuposto que
todos devem por princípio louvar o pólo positivo da vida, o seu lado bom.
Em relação à
objectividade as coisas são diferentes, encontrando-se aqui, para PA, a chave
para a solução dos problemas de credibilidade e de transparência que o
jornalismo levanta, tendo em conta todo o seu potencial manipulador da
realidade.
“A objectividade, diz-nos o Mestre brasileiro, tem a ver com a relação
que se estabelece entre o sujeito observador e o objecto observável (a
realidade externa ao sujeito ou exteriorizada por ele), no momento do
conhecimento. A objectividade não é um apanágio nem do sujeito nem do objecto,
mas da relação entre um e outro, do diálogo entre sujeito e objecto; é uma
característica, portanto, da observação, do conhecimento, do pensamento.”
A questão fundamental que
ele coloca está relacionada com a possibilidade concreta de procurar a
objectividade e de tentar aproximar-se ao máximo dela.
Perseu Abramo acha que
sim, que é possível e desejável fazer jornalismo com o máximo possível de
objectividade.
Essa, aponta, “é a única
forma de reduzir ao máximo o erro involuntário e impedir a manipulação
deliberada da realidade.
O reino da objectividade é a informação, a notícia,
a cobertura, a reportagem, a análise, assim como o reino da tomada de posição é a opinião, o
comentário, o artigo, o editorial.
É fundamental, conclui
Perseu Abramo, separar e distinguir informação de opinião, indicar as
diferenças de conteúdo e forma dos géneros jornalísticos, e apresentar toda a
produção jornalística ao leitor/telespectador para que ele perceba
imediatamente o que é a exposição da realidade e o que é o juízo de valor.
Temos pois no conceito da objectividade, a pass-word mais
estrutural para entrarmos com alguma segurança no mundo de um jornalismo
económico transparente a altura dos desafios que o mesmo coloca para se poder
afirmar como um parceiro sério e credível aos olhos de toda a sociedade e dos
diferentes poderes com destaque para o político, sem ignorar o económico, num
país onde esta fronteira não é nada fácil de estabelecer.
Uma rápida vista de olhos seguidamente para o relacionamento com
as fontes, no seu sentido mais abrangente, onde parece estar localizado o
principal calcanhar de Aquiles da nossa praxis jornalística, a projectar uma
realidade cada vez mais movediça para a credibilidade dos profissionais e dos
projectos editoriais.
Estamos, sintomaticamente, a falar de um mercado onde o investimento publicitário é manifestamente insuficiente para garantir a sobrevivência dos diferentes projectos, com todas as consequências perversas que daí resultam, sem dúvidas muito más conselheiras para quem quer abraçar a transparência como bússola para a actividade jornalística.
Estamos, sintomaticamente, a falar de um mercado onde o investimento publicitário é manifestamente insuficiente para garantir a sobrevivência dos diferentes projectos, com todas as consequências perversas que daí resultam, sem dúvidas muito más conselheiras para quem quer abraçar a transparência como bússola para a actividade jornalística.
A problemática
das encomendas e da publicidade encapotada surge necessariamente neste contexto
de dificuldades e ameaça de facto tomar conta do nosso panorama mediático, como
uma alternativa em termos de sobrevivência.
Mas, mais grave
do que isso, sem dúvidas muito mais grave, porque configura já um comportamento
passível de condenação judicial, são as informações de muito boa fonte a que
vamos tendo acesso sobre a existência de casos de chantagem e extorsão difíceis
de entender e muito menos de aceitar.
Isto,
sublinhe-se, por mais dificuldades que determinado projecto possa estar a
enfrentar.
Isto, note-se,
por menos reservas morais que a sociedade possa exibir no seu conjunto, com as
atenções voltadas lá para cima, de onde de facto deveria vir o exemplo e
claramente não vem.
Aí sim, aí é o
fim da picada.
Já o escrevemos
noutros espaços que qualquer pessoa ou instituição está no direito de contactar
determinado jornalista por achar que ele é o profissional mais adequado para
dar o melhor tratamento ao assunto que gostaria de ver estampado para consumo
da opinião pública.
Até aqui não
vemos qualquer problema que possa ferir a ética e a deontologia profissionais.
Aliás, os próprios gabinetes de imprensa que hoje pululam por tudo quanto é
instituição, são bem o reflexo desta necessidade de “vender” a melhor imagem
junto da comunicação social, sem haver necessidade, muitas vezes, de se
recorrer à publicidade paga. Uma entrevista, um artigo ou uma reportagem
assinado por um reputado jornalista sobre determinado caso, empresa,
instituição, projecto ou iniciativa vale muito mais do que uma página inteira
de publicidade do tipo eu sou o melhor do mundo, depois de mim há pouco mais
por aí.
Ao ser
contactado directamente por pessoa particular ou por entidade colectiva, seja
ela privada, governamental, partidária ou religiosa, o jornalista que aceita o
“canto da sereia” tem que vincar imediatamente a sua postura profissional em
obediência aos “sagrados sacramentos do métier”.
“Tudo
bem, acho que a história que me sugere tem evidente interesse público, só que
terei que trabalhar com outras fontes para além da sua, sobretudo porque em
jogo está o nome de uma outra pessoa”.
Esta poderia
ser uma resposta a ser dada a quem convida o jornalista para escrever aquele
tipo de história onde existe uma acusação clara ou velada contra alguém.
Assim sendo,
tudo bem, a “encomenda” pode ser perfeitamente aceite, até porque se estará a
lidar não com uma encomenda no verdadeiro sentido da palavra, mas apenas com
uma pista segura, o chamado furo, que é o que jornalistas precisam para
quebrarem a rotina de quando em vez.
Lamentavelmente
o que se está a passar com o jornalismo entre nós é, muitas vezes, a aceitação da
encomenda sem condições, o que leva a que o jornalista contactado se transforme
num puro instrumento de quem está na “ofensiva” por qualquer motivo.
Estas
referências, que como é evidente não esgotam as questões atinentes à
problemática da transparência ou da falta dela no exercício da actividade
jornalística, servirão certamente para alguma coisa em termos de orientação do
debate que pretendemos suscitar nestas jornadas preocupadas com o bom
jornalismo, ou melhor, com a falta dele.
Mais
rapidamente, vamos agora olhar para o segundo ângulo desta abordagem que tem
ver com a contribuição que um jornalismo económico transparente e actuante pode
dar à gestão de um dos bens mais preciosos que qualquer sociedade tem à sua
disposição que é o seu erário, o seu tesouro público. Uma gestão que se
pretende, obviamente, transparente.
O Nobel da
Economia Joseph Stiglitz, defende a transparência no governo e afirma que a
mídia é essencial na promoção da boa governação.
"A
liberdade de expressão e a liberdade de imprensa não somente tornam menos
prováveis os abusos dos poderes públicos, mas também aumentam a probabilidade
de que as necessidades sociais básicas da população sejam atendidas,"
afirma Stiglitz.
O académico
está convencido que "melhorias na informação e nas normas que regem a sua
divulgação podem diminuir o alcance desses abusos em ambos os mercados e nos
processos políticos. Muitas das
decisões tomadas na arena política têm consequências económicas”.
Além disso,
acrescenta Joseph Stiglitz, “informações melhores e mais oportunas resultam em
alocações de recursos melhores e mais eficientes”.
O jornalismo
económico a altura das suas responsabilidades é um "factor de
desenvolvimento" capaz de contribuir para melhorar a responsabilidade,
criar mercados eficientes e sociedades ricas de informação.
Só empresas de
média financeiramente independentes estão, entretanto, em condições de
desempenhar da melhor forma o seu papel, como produtoras de um jornalismo
económico eficaz.
Tendo em conta
o que se passa com a realidade angolana, percebe-se facilmente neste contexto a
importância estratégica desta independência que em condições normais seria o
resultado tanto da economia como da habilidade da própria empresa em fazer com
que um determinado ambiente económico lhe seja vantajoso.
A eficácia do
jornalismo económico enquanto promotor da transparência na governação reside em
grande parte na sua capacidade de investigar o que vai mal, assumindo-se deste
modo como um factor de dissuasão.
A imprensa,
sustenta o professor de jornalismo Silvio Waisbord, de nacionalidade norte-americana, deverá tornar o governo responsável, publicando informações sobre
questões de interesse público, mesmo se essas informações revelarem abusos ou
crimes perpetrados por autoridades.
A partir dessa perspectiva, aponta, “o
jornalismo investigativo é uma das mais importantes contribuições prestadas
pela imprensa à democracia. Ele está relacionado com a lógica de
responsabilidade mútua em sistemas democráticos. Ele fornece um mecanismo
valioso para monitorar o desempenho das instituições democráticas, em sua
definição mais ampla que inclui organismos governamentais, organizações cívicas
e empresas públicas”.
A centralização dos meios de comunicação
nas democracias contemporâneas, segundo Sílvio Waisbord, “torna as elites
políticas sensíveis às notícias, particularmente às "más" notícias
que frequentemente causam comoção pública. A publicação de notícias sobre más
condutas públicas e económicas pode provocar investigações judiciais e parlamentares.”
Em Angola já é
facilmente visível o impacto devastador de tais notícias, embora as suas
consequências nem sempre sejam as mais desejadas e prolongadas em termos de
melhoria da gestão da coisa pública, com a consequente penalização dos
eventuais infractores.
Um impacto que
é sempre directamente proporcional à qualidade e profundidade da matéria dada à
estampa.
Como bússola
orientadora para esta intervenção tem-se o conceito da objectividade atrás
referido, com base na equação formulada pelo seu progenitor, o Professor Perseu
Abramo.
“O conhecimento da realidade é tanto mais
objectivo quanto mais o sujeito observador não se prende às aparências, procura
envolver totalmente o objecto da observação, busca seus vínculos com o todo ao
qual pertence, bem como as interconexões internas dos elementos que o compõem,
investiga os momentos antecedentes e consequentes no processo do qual o objecto
faz parte, reexamina o objecto sob vários ângulos e várias perspectivas”.
Se o sujeito
observador faz isso, Abramo conclui que ele tem grandes probabilidades de
conhecer, com o máximo de objectividade possível, o objecto real em que está
interessado.
Rigor e
competência é pois o que se exige do jornalista na apreensão do real.
Para tal o conselho do francês Claude Julien, é que o “jornalista enquanto observador deve ser capaz de situar todo o problema nacional no seu contexto mundial, prever as evoluções prováveis, apelar a um campo extremamente diversificado de conhecimentos. Se encerra a sua visão num círculo demasiado estreito, será certo que deformará a sua percepção da realidade, deformá-la-á por amputação de um elemento essencial, condenar-se-á a fazer dela um julgamento errado. Sem o querer, ele engana o seu público.”
Para tal o conselho do francês Claude Julien, é que o “jornalista enquanto observador deve ser capaz de situar todo o problema nacional no seu contexto mundial, prever as evoluções prováveis, apelar a um campo extremamente diversificado de conhecimentos. Se encerra a sua visão num círculo demasiado estreito, será certo que deformará a sua percepção da realidade, deformá-la-á por amputação de um elemento essencial, condenar-se-á a fazer dela um julgamento errado. Sem o querer, ele engana o seu público.”
Reside aí a
importância do jornalismo investigativo, pois o seu produto, por resultar de um
outro tratamento mais cuidado, é sem dúvidas muito mais resistente aos
habituais desmentidos e outras tantas acusações menos simpáticas, com que
normalmente os jornalistas são brindados, quando as suas matérias chocam com determinados
interesses bem colocados, particularmente ao nível da super-estrutura.
Quanto a nós o
problema de fundo em Angola está relacionado com a normalização
politico-constitucional em curso, com a entrada do país no ciclo democrático, o
que pressupõe antes de mais a realização periódica de eleições, com toda a
componente de prestação de contas que o democrático exercício encerra.
É por esta via
que a democracia acaba por encher as barrigas vazias de promessas não
cumpridas, de planos não executados, de orçamentos desviados, com um simples
não de quem elege no candidato ou no partido que durante os últimos quatro ou
cinco anos teve um determinado mandato e não o cumpriu à contento do
eleitorado.
Quando
inaugurarmos este ciclo, maior importância do ponto de vista da sua eficácia
terá certamente o jornalismo económico enquanto parceiro de toda a sociedade na
edificação de um sistema de governação transparente.
*Comunicação apresentada às Quartas Jornadas Técnicas
da Comunicação Social promovidas pelo CEFOJOR/Luanda/ 25 de Novembro 2004