Falar da experiência da Rádio
Nacional de Angola em matéria de jornalismo especializado, é antes de mais, com
todas as limitações editoriais que se possam apontar, destacar o tratamento
positivo e relevante que a informação económica sempre conheceu, desde que foi
para o ar a primeira grelha de programas da RNA, o que aconteceu nos idos de
1978.
Em termos de história do
jornalismo angolano do pós-independência, podemos pois localizar na Rádio
Nacional o surgimento do primeiro projecto devidamente estruturado de
jornalismo económico, com a elaboração e transmissão do Programa Semanal
“Azimute- Os Novos Rumos da nossa Economia”, que ia para o ar em primeira
emissão às quintas-feiras às 23.30 com reposição às sextas a partir das 14.30.
Cerca de 25 anos depois, com
o mesmo propósito, e já sem o asfixiante colete ideológico do passado, o
programa Azimute mantém-se bem vivo na grelha da Rádio Nacional, o que faz dele
o programa especializado mais antigo da estação emissora estatal.
Uma antiguidade, estamos
convencidos, que se estende a todo o espaço nacional, o que quer dizer a toda a
informação angolana.
O Azimute é assim uma espécie
“do mais kota do conjunto”, um verdadeiro sobrevivente em relação à todas as
remodelações, alterações e últimamente, autênticas varridelas, que a
programação da RNA tem vindo a conhecer ao longo do seu primeiro quarto de
século de existência.
Estamos de facto em presença
do decano do jornalismo especializado em Angola.
Um caso singular de longevidade radiofónica que tem, certamente, a sua explicação no interesse especial que a informação e a análise económicas sempre suscitaram junto do público.
Uma explicação que podemos igualmente encontrar na escolha feliz do nome que foi encontrado para designar o programa.
Um caso singular de longevidade radiofónica que tem, certamente, a sua explicação no interesse especial que a informação e a análise económicas sempre suscitaram junto do público.
Uma explicação que podemos igualmente encontrar na escolha feliz do nome que foi encontrado para designar o programa.
De facto, nunca uma luva
serviu tão bem uma mão tão pesada e complexa, como foi o caso da descoberta do
nome Azimute para designar um programa de economia em rádio em plena época do
marxismo-leninismo e do socialismo científico, quando parecia não haver
qualquer dúvida em relação à edificação de uma pátria de trabalhadores em
Angola, na trincheira firme da revolução em África.
Em termos de estratégia
editorial, o Azimute foi criado, entre outros, com os seguintes objectivos:
“Mudar radicalmente o estilo
e método de trabalho dos dirigentes e responsáveis do Sector Económico;
Consolidar a direcção centralizada e a organização das unidades económicas
estatais; Velar pela gestão e controlo dos preços e pela actividade da banca; Destacar
as vantagens do sistema económico dos países da comunidade socialista, com
referências particulares ao cálculo económico, através de exemplos
compreensíveis aos trabalhadores e camponeses.”
O Azimute original era
especialmente destinado a todos quantos na época tinham responsabilidades na
condução da economia do país, desde a mais pequena empresa até ao nível de
dirigente nacional.
Desde logo o seu realizador
reconheceu que a abordagem de matérias tão complexas, de modos a tornar o programa
cativante para o público-alvo era uma tarefa difícil.
Uma dificuldade do tipo
estrutural, note-se, sentida desde sempre por todos os profissionais que se
movimentam nas águas do jornalismo económico.
A questão de fundo aqui é comunicar com eficácia num terreno onde a descodificação tem de ser permanente, pois está-se de facto numa área de intervenção especializada para o grande público de uma rádio generalista.
A questão de fundo aqui é comunicar com eficácia num terreno onde a descodificação tem de ser permanente, pois está-se de facto numa área de intervenção especializada para o grande público de uma rádio generalista.
O grande desafio do
jornalista especializado é preservar a precisão dos dados colhidos
(informações) usando uma linguagem acessível.
O programa Azimute entrou para
as antenas da Rádio Nacional determinado a ficar até aos dias de hoje, pela mão
criadora e realizadora do jornalista José Oliveira, com a apresentação do
locutor Aguinaldo Caldeira e com sonorização e montagem do Victor Filipe.
Cerca de dois anos depois, a realização do
programa é entregue ao Joaquim Pereira de Almeida, tendo o autor destas linhas
sido o terceiro realizador na sua história a assumir a responsabilidade pela
condução do Azimute ainda na primeira metade dos anos oitenta por um período de
cerca de cinco anos consecutivos.
A nossa pesquisa de memória
não nos permite neste momento identificar com o necessário rigôr e ordem de
precedência, os restantes jornalistas que, posteriormente, foram conduzindo na
RNA, “Os novos rumos da nossa economia”, até aos dias de hoje.
Estamos, entretanto, mais ou
menos certos e desde já queremos pedir a vossa compreensão por alguma falha ou
omissão, que depois da nossa passagem pelo Azimute, por lá passaram igualmente
como timoneiros do mesmo barco, o Silva Júnior e o Ismael Mateus.
Este último jornalista viria
a ser o primeiro chefe da redacção económica da RNA criada por nossa
iniciativa, na segunda metade da década de oitenta no decorrer do nosso
consulado à frente do Departamento de Informação da Rádio Nacional de Angola.
O surgimento desta primeira
redacção especializada na RNA, com a categoria de sector, penso que mesmo antes
da própria redacção desportiva, foi, sem dúvidas, o resultado bem sucedido das
reprodutivas sementes lançadas no terreno daquela emissora pelo Programa
Azimute.
Pelas informações que vamos
tendo sobre o funcionamento actual da RNA, com base nos novos ventos que vão
soprando pelos seus estúdios centrais, em termos de enquadramento do jornalismo
especializado, o esquema de trabalho estabelecido com a redacção económica
parece ter sido substituído por um outro, cujos contornos desconhecemos.
A forma temática como o
programa Azimute foi estruturado desde o seu surgimento era já em si uma boa
base para, a partir dela, se evoluir no sentido da criação de uma estrutura
ampla que viria a permitir uma abordagem mais em profundidade das diferentes
questões colocadas pela cobertura da actividade económica, quer em termos de
informação quer de análise.
O Azimute estava sub-dividido
em quatro temas, a saber, teoria, produção, estatística e debate/entrevista, a
serem transmitidos ao longo das quatro edições mensais do programa.
O programa teórico serviria para tratar de questões como o sub-desenvolvimento, as características da economia angolana, a planificação, o cálculo económico, os preços, a moeda, a inflação, o centralismo democrático e o burocratismo.
O programa teórico serviria para tratar de questões como o sub-desenvolvimento, as características da economia angolana, a planificação, o cálculo económico, os preços, a moeda, a inflação, o centralismo democrático e o burocratismo.
Um programa sobre as Unidades
de Produção com a identificação à partida de 12 das mais importantes unidades
existentes no país e com as atenções voltadas para os novos métodos de direcção
de empresa, o seu enquadramento na economia nacional, as realizações, os
problemas enfrentados e os projectos de desenvolvimento.
O programa de estatística
tinha como temas gerais a sua importância na planificação da economia, a
interpretação quantitativa, qualitativa e política do instrumento, os problemas
que se colocam a um país subdesenvolvido para a realização da estatística,
aspectos da informática e a divulgação de dados a nível nacional e no mundo.
Um quarto programa seria
consagrado aos debates, do tipo mesa-redonda ou com depoimentos recolhidos
separadamente, em torno da actividade dos diferentes sectores da economia.
Em alternativa ao debate optar-se-ia pela entrevista.
Em alternativa ao debate optar-se-ia pela entrevista.
Por várias razões, este
esquema de trabalho nunca chegou a ser implementado integralmente pelo programa
Azimute, que o transferiu depois com outras referências para a Redacção Económica
(REC).
Esta redacção pelo que julgamos saber e à semelhança do que aconteceu com o programa Azimute, também foi pioneira na história do nosso jornalismo especializado.
A RNA foi o primeiro órgão de comunicação social no pós-independência a dar vida própria a uma redacção económica.
Esta redacção pelo que julgamos saber e à semelhança do que aconteceu com o programa Azimute, também foi pioneira na história do nosso jornalismo especializado.
A RNA foi o primeiro órgão de comunicação social no pós-independência a dar vida própria a uma redacção económica.
A redacção económica surge na
estrutura da RNA, inicialmente adstrita ao Departamento de Informação, com o
propósito de elaborar todas as notas de redacção, artigos crónicas,
comentários, notícias e reportagens sobre a actualidade económica nacional e
internacional.
O programa Azimute passou naturalmente para a alçada desta nova estrutura, sendo o seu principal produto.
O programa Azimute passou naturalmente para a alçada desta nova estrutura, sendo o seu principal produto.
O Azimute chegou a ter na
altura duas edições distintas por semana, com o Azimute-Formação e o Azimute-
Actualidade.
A REC propunha-se igualmente
fornecer material económico aos demais departamentos e áreas de produção da RNA
que dele necessitassem.
A estrutura orgânica da RNA
conheceu posteriormente mais um desenvolvimento com a criação do Departamento de
Programas Especializados (DPE) que passou a integrar, para além da Redacção Económica,
outras que foram surgindo como a cultural e não só.
Na altura começou a entrar na
ordem do dia a discussão sobre a necessidade do surgimento de uma nova
direcção, a Direcção de Informação, pois tudo quanto era área de produção,
estava integrado na Direcção de Programas.
Numa reflexão que elaboramos
na época sobre o que deveria ser a estrutura ideal para a RNA, sustentávamos
que o crescimento da RNA deveria passar fundamentalmente pelo aparecimento de
uma direcção que tivesse a incumbência de se ocupar exclusivamente da
Informação, entendida no seu sentido global.
Em defesa desta necessidade,
da criação do que viria a ser a futura Direcção de Informação e com base numa
rápida análise do funcionamento do Departamento de Informação e do Departamento
de Programas Especializados, tínhamos chegado à conclusão que as duas áreas,
por falta de uma coordenação efectiva, não tinham conseguido funcionar numa
perspectiva de continuidade, o que se reflectiu de maneira preocupante na
qualidade dos serviços noticiosos, na cobertura da actualidade e na recolha de
informação.
A Direcção de Informação da
Rádio Nacional viria a ser criada alguns anos, muito poucos, depois desta
reflexão.
Estava-se, salvo erro, bem no início da década de noventa, quando por razões de força maior vejo interrompida a minha relação juridico-laboral com aquela estação emissora, na sequência de um processo complicado de desentendimentos e ao mesmo tempo contraditório com o espirito de abertura que se começava a respirar timidamente na época, com o inicio das negociações com a UNITA.
Estava-se, salvo erro, bem no início da década de noventa, quando por razões de força maior vejo interrompida a minha relação juridico-laboral com aquela estação emissora, na sequência de um processo complicado de desentendimentos e ao mesmo tempo contraditório com o espirito de abertura que se começava a respirar timidamente na época, com o inicio das negociações com a UNITA.
Pelo que aqui ficou dito
nesta retrospectiva pela sua programação, fica claro que a necessidade de
especialização sempre esteve bem presente na forma como a RNA foi
jornalísticamente crescendo ao longo dos tempos.
Uma especialização que conferiu ao jornalismo económico honras de primeira página, numa altura em que o seu impacto ainda não tinha os contornos críticos de um jornalismo feito em condições mais independentes do ponto do seu relacionamento com os diferentes poderes estabelecidos, incluíndo o poder político.
Uma especialização que conferiu ao jornalismo económico honras de primeira página, numa altura em que o seu impacto ainda não tinha os contornos críticos de um jornalismo feito em condições mais independentes do ponto do seu relacionamento com os diferentes poderes estabelecidos, incluíndo o poder político.
Na altura, tudo,
a bem ou a mal, fazia parte
do chamado sistema das correias de transmissão.(1) Mesmo assim, acomodado neste
colete-de-forças, o jornalismo económico que então era possível fazer-se na
RNA, não deixava de jogar o seu papel, sem, contudo, pôr em causa as grandes estratégias
de política económica do Partido/Estado.
*15/Agosto 2003