Sobre o aumento das taxas de juros gostaríamos de chamar a vossa atenção para as recentes considerações que o PCA do BESA, Álvaro Sobrinho fez ao "Semanário Económico".
Talvez as mesmas nos ajudem a responder à questão colocada em epígrafe.
Com a devida vénia aqui vão elas:
(...)
O que faz disparar as taxas de juros de crédito é a escassez de dinheiro dos depósitos. Os depósitos da banca praticamente não cresceram, o que não aconteceu em anos anteriores. Em anos anteriores, os depósitos cresciam numa média de 30 a 40% ao ano.
(...)
Temos que olhar para as normas, para a lei. E a lei é cada vez mais restritiva(...), essas restrições são ainda mais severas em relação aos bancos, aos quais impõe graves condições para a concessão de crédito. Portanto, nós hoje temos uma rigidez monetária que nos obriga a ter muito dinheiro paralisado, o que nos impede de dar crédito….
(...)
Os países mais desenvolvidos têm taxas de bancarização e depósitos de quase 100% da população. Nós temos 7%. Não é possível. O Banco Central, ao ter 30% dos recursos, no fundo, está a enxugar liquidez aos bancos e até tirar dinheiro aos bancos que poderia ser usado no crédito. E poderia ser injectado na economia.
(...)
Se não há dinheiro não há liquidez, logo não faz sentido ter reservas mais altas. Se há muita liquidez tem sentido ter reservas mais altas. O exemplo que temos é o Brasil. Teve reservas altíssimas, mas depois teve que ajustar as suas reservas em função da liquidez que tinha no mercado. Quando há muito dinheiro para não gerar inflação, aumenta-se as reservas; ora não havendo dinheiro para tirar ao mercado como é que se faz?
Álvaro Sobrinho, PCA do BESA In "Semanário Económico/Edição nº29/8-04-10)
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JCRC disse...
Meu caro,
Penso que já tinha dito nesta casa que a política monetária angolana é completamente inovadora, não há manual nenhum de economia que sugere o aumento das taxas de juro como receita para combater o crescimento fraco. Álvaro Sobrinho está certo quando diz que taxas de reserva obrigatória de 30% reduzem significativamente o espaço de manobra dos bancos, sobretudo se considerarmos que os títulos de dívida públicos são remunerados à 24%, ou seja, o banco comercial não pode emprestar dinheiro em kwanzas abaixo da taxa directora (24%) porque em alternativa podem deixar o seu dinheiro no BNA e receber mais 24% no fim do ano, ou seja, não esperando fortes desvalorizações/depreciações do kwanza, para quem tem muitos kwanzas, aplicar em TBCs é o melhor investimento que existe no país.
Com a intenção de acumular dinheiro para fazer face as suas despesas o governo orientou o BNA à:
(i) aumentar a taxa de reserva obrigatória e (ii) aumentar a taxa de juro de referência (TBC) que tem muitos contras:
1. Congelamento do crédito nos bancos comerciais
2. Forte taxa de incumprimento dos clientes que contraíram créditos a taxas variáveis no "bom tempo"
3. Baixo investimento privado (sector não petrolífero)
4. Sem investimento, não se criam empregos
5. Forte pressão inflacionista por estrangulamentos no processo de importação de mercadorias.
Os nossos governantes venderam nos últimos anos a imagem do "trabalho do governo" quanto ao crescimento registado (2003-2008), mas muitos atentos sempre chamaram a atenção para o petróleo que foi o principal factor do crescimento (aumento da produção e dos preços, sendo que quem produz são estrangeiros e os preços são ditados no mercado).
Num mundo com petróleo mais barato e com restrições da OPEP (quem teve esta ideia de nos amarrar ao cartel dos sauditas?) os nossos dirigentes têm demonstrado uma incapacidade constrangedora.
23 de Abril de 2010 11:33