segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Resposta antecipada a Dino Matrosse

Sem conhecer ainda as declarações que o SG do MPLA , Dino Matrosse (DM), fez ao Novo Jornal sexta-feira última e em resposta a um pedido da Capital para me pronunciar sobre a a "maka das medalhas", escrevi um artigo de opinião, onde considero que o famoso trungungu de alguns está na origem da partidarização da nossa história. Como estou em completo desacordo com o ponto de vista de DM, aqui vai a minha posição sobre o assunto, que tem a particularidade de ser uma resposta antecipada aos pronunciamentos do SG do MPLA, tendo em conta a cronologia dos factos. Considero assim que as condecorações que até agora foram feitas no quadro do 35º aniversário da Independência, nem sequer foram abrangentes do ponto de vista da sensibilidade maioritária, entenda-se MPLA, quanto mais em relação às outras. A exclusão do panteão nacional de muitos combatentes do MPLA (vivos e já falecidos) que deram o seu melhor em prol da independência e que hoje foram votados ao mais completo esquecimento (ostracismo) é verdadeiramente chocante. De facto quem se “esquece” dos seus (?!) muito dificilmente se poderá lembrar dos outros. Vários destes esquecidos, entre desaparecidos e sobreviventes, são camaradas que foram conotados com um tal de “fraccionismo” em 1977, estando até ao momento a aguardar (sentados) pela sua reabilitação, que tarda em chegar, mais de 33 anos depois. E mesmo os que foram “recuperados” ou “reintegrados”, também não conheceram uma melhor sorte, apesar de terem resolvido todos os seus problemas “carreirísticos”. Para além das pessoas ligadas à FNLA e à UNITA, não nos podemos esquecer de todos os outros angolanos e mesmo alguns estrangeiros, que não envergando nenhuma camisola politico-partidária mais conhecida, também participaram da luta anti-colonialista em diversas frentes e com acções relevantes. Estou-me a lembrar, nomeadamente, de muitos religiosos que foram presos pela PIDE-DGS pela sua confessa prática subversiva, de acordo com os padrões repressivos das autoridades portuguesas da época. Como não encontro uma outra explicação para este tipo de resistência, diria que já se situa nos limites do absurdo a suposta incapacidade da actual direcção política do País de promover uma verdadeira reconciliação nacional. O País que temos, mesmo com todas as outras incapacidades e debilidades, poderia hoje estar bem melhor, muito mais saudável, do ponto de vista da coabitação na diferença entre todos os angolanos, independentemente das suas opções. Na estratosfera do actual regime ninguém parecer dar qualquer valor mais produtivo a esta variável macro-politica. É mais um erro que se está a cometer. E não estamos melhor, é bom que se diga e se reconheça, apenas por causa do “trungungú” de algumas pessoas que continuam a decidir por todos nós, ignorando o país real e o verdadeiro sentir dos angolanos, todos eles, sem discriminação. Neste país as poucas sondagens de opinião que são feitas, obedecem a propósitos muito estratégicos. É lamentável… Trinta e cinco anos depois, os angolanos em uníssono, não se reconhecem num único monumento que espelhe este valor absoluto chamado independência nacional. O actual regime prefere investir de facto na partidarização da história, construindo monumentos que evocam batalhas ganhas/perdidas apenas por um dos protagonistas. Algumas delas verdadeiras vitórias de Pirro. Assim não vamos lá… É por estas e por outras que às vezes fico mesmo com a impressão que há um desejo (ainda reprimido) de fazer o país regressar ao passado naquilo que for possível.