terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Todos para Luanda e em força!

[Luanda continua a ser um polo de "atracção fatal" para todos os angolanos que nas outras regiões do país não conseguem encontrar soluções locais para os seus problemas sócio-económicos.
É a armadilha da capital.
De acordo com os dados constantes da análise feita ao OGE2011 pelo OPSA/ADRA, só há uma forma de se inverter esta tendência, que no próximo ano se vai manter mais ou menos inalterável, pois a estratégia governamental continua a ser muito tímida na vertente do combate às assimetrias regionais.
Luanda continua a "comer" demasiado, tendo em conta as necessidades prementes do resto do país depauperado.
A luandização do poder vai continuar assim a ditar a suas regras explosivas, com a agravante de a capital ser agora também a praça eleitoral mais importante do país.
Em traços gerais pode dizer-se que o Governo do MPLA também já está politicamente refém desta crescente pressão demográfica, num verdadeiro ciclo vicioso. Quanto mais se investe em Luanda, mais gente (eleitores) das outras provincias é atraída para a capital à procura do "El Dorado". Quanto mais gente chega a Luanda menos capacidade o Governo tem de resolver os problemas decorrentes deste aumento da procura por novos equipamentos sociais.
Como facilmente se pode concluir, não há nada mais prioritário para o actual regime, que a sua manutenção no poder. Tudo é pensado e feito em função deste desiderato maior. O resto (do país) pode esperar.]
Depois de quase uma década de paz, os fluxos migratórios em direcção aos principais centros urbanos do país continuam a ser importantes. Com base nos dados do registo eleitoral de 2007 constata-se que cerca de 63% da população do país está concentrada em apenas cinco províncias (Luanda, Huíla, Benguela, Huambo e Kwanza Sul). Deste total, cerca de 30% encontra-se na província de Luanda. A actual distribuição significativamente assimétrica da população foi agravada nos últimos 15 anos, com a população residente na província de Luanda a aumentar em 11 pontos percentuais.
Isto é um resultado lógico das políticas seguidas e que são caracterizadas por um persistente e inadequado desequilíbrio nos investimentos entre regiões.
Estes desequilíbrios nos investimentos contribuem para agravar os desequilíbrios demográficos e causam uma pressão insustentável sobre os serviços básicos nos grandes centros urbanos, tornando a sua gestão num enorme desafio.
As assimetrias demográficas dão lugar a problemas económicos e sociais tais como a degradação sanitária das zonas urbanas, o aumento da economia informal, o aumento das periferias, o aumento das actividades criminosas, o aumento do desemprego (dado que os emigrantes tomam as suas decisões com base em probabilidades de obterem um emprego), a alocação assimétrica dos investimentos, o abandono de grandes extensões do território nacional (o que coloca problemas de soberania nacional), bem como outros de pendor psicológico e cultural. Em 2007, enquanto o PIBpc da província de Luanda ascendia os 8 700 dólares e o da província de Benguela ascendia os 4 300 dólares, outras quatro província (Kwanza Sul, Malange, Namibe e Uíge) apresentaram um PIBpc entre os 2 000 dólares e os 1 500 dólares, enquanto as restantes províncias apresentam um PIBpc abaixo dos 1 000 dólares. Com esta distribuição do PIBpc não surpreende que cada vez mais famílias migrem para Luanda. As diferenças significativas que se verificam no PIBpc resultam das diferenças verificadas entre as províncias nos volumes de investimento, tanto privado como público. No entanto, sabe-se que o investimento privado tende a ser realizado naquelas regiões onde a infra-estrutura (que depende do investimento público) está melhor desenvolvida e onde a dimensão do mercado é significativa.
Sendo assim, o principal instrumento de redistribuição regional da actividade económica é, claramente, o investimento público.
In "OGE 2011 Elementos para o debate/OPSA-ADRA"