Não há aqui nenhuma novidade nesta equação, mas em Angola, nos dias que correm, nunca é demais bater em determinadas teclas.
Gostei da prioridade por ele concedida no seu texto ao assunto, tendo a família recebido honras de primeira página no seu derradeiro discurso de 2010.
Já não gostei muito da forma como JES equacionou a realidade familiar na situação concreta de Angola, onde de facto um número muito significativo de famílias, que cremos ser a maioria delas, não está em condições, por razões objectivas, de assumir este papel de produtor, guardião e disseminador de valores e principios.
É aqui a equação feita por JES aparentemente perde algum contacto com a dura realidade sócio-económica que vivemos e que é típica de países que têm os nossos preocupantes indicadores ao nível do desenvolvimento humano.
Convenhamos que um chefe de família que não consegue suprir as necessidades básicas dos seus descendentes, não está, obviamente, em condições de fazer muito mais em matéria de educação e formação.
A sua autoridade não resiste à mínima turbulência e ele próprio acaba por se demitir da sua função social o que tem como consequência o fenómeno da desestruturação familiar que caracteriza a nossa realidade.
Por outras palavras, só haverá uma clara e sustentada inversão desta tendência, quando os angolanos forem melhor servidos à mesa de um PIB que não pára de crescer, mas que mesmo assim tarda em fazer a sua repartição per capita de forma mais justa e equilibrada.
Com os actuais níveis de exclusão social/miséria aos quais se junta uma enorme mancha de pobreza, não será possível conseguirem-se resultados mais animadores na frente do resgate dos valores éticos.
É pura miragem. É pura retórica. Não nos parece que seja muito sério.
Sem se desistir da intervenção na área da ideologia/propaganda (campanhas para todos gostos e feitios), a prioridade tem de ser dada à uma mais racional distribuição do rendimento nacional, pois já é possível de imediato termos um outro desempenho, muito mais positivo, muito mais de acordo com as necessidades das famílias.
O emprego/salário é pois a variável macroeconómica que tem de merecer a melhor atenção de quem nos governa em 2011, mas não só.
As empresas públicas e privadas têm de saber investir na repartição dos seus rendimentos, pagando salários reais.
Pagar actualmente menos de 1000 dólares a um trabalhador começa a já não fazer muito sentido.
Só com esta atenção será possível inverter a tendência da desestruturação social que assistimos, com resultados a médio prazo no que toca ao resgate dos valores que se pretende.
Família sem rendimentos, acaba por não ser nada, acaba por ser apenas discurso.