[NA: Somos citados duas vezes nesta preocupante avaliação de Rafael Marques sobre o actual estado da comunicação social pública neste ano de eleições.
De facto e depois de já termos publicamente partilhado esta visão sobre o reforço do controlismo político em relação ao desempenho dos médias, este trabalho do RM ("MPLA reforça censura na TPA e RNA") , do qual respigamos para aqui alguns extractos, tem o mérito de nos fornecer um quadro de referências mais abrangente sobre como é que as coisas estão e como é que elas vão caminhar pelas nossas bandas. Alguém viu por aí a liberdade de imprensa?]
"(...) Apesar do controlo absoluto que o poder exerce sobre os órgãos de comunicação social do Estado, há 36 anos, os censores desdobram-se em novas descobertas de potenciais focos de abertura, aperfeiçoam e reforçam os métodos de censura. Por exemplo, a TPA retirou do ar o seu programa “Semana em Actualidade”, que ia ao ar às 19h30 de domingo. O debate, dirigido pelo jornalista Antunes Guanje, e no qual participavam os também jornalistas Reginaldo Silva e Ismael Mateus, analisava de forma quase irrestrita os assuntos mais marcantes de cada semana. Era o único programa não censurado e o presidente do Conselho de Administração da estação pública de TV, António Henriques da Silva, retirou-o da grelha sem dar qualquer tipo de satisfação a quem quer que fosse.
Das “instâncias superiores” recebeu a “orientação” que era preciso “travar os excessos do Reginaldo e do Ismael” e agiu em conformidade. O grupo de onze portugueses, liderados por Frederico Roque de Pinho, antigo jornalista da SIC, têm sido responsáveis pela alteração arbitrária de programas da TPA, bem como a sofisticação dos métodos de censura dos seus conteúdos, como tem acontecido com o “Espaço Público” e “Bom Dia Angola”.
Os profissionais portugueses foram contratados pelos filhos do Presidente da República, Tchizé e Paulino dos Santos, através do Grupo de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional da Administração (GRECIA) criado pelo pai para lavar a sua imagem e a dos actos do seu executivo. Perante a resistência passiva e o descaso de muitos jornalistas estatais, os filhos do presidente, que também controlam a TPA apenas confiam nos portugueses e pouco mais para dar cumprimento à sua agenda. Investido de tal poder, Frederico Roque de Pinho tem sido regularmente ameaçado de sova por funcionários a quem usurpa competências, trata com arrogância e faltas de respeito. Com um salário de dez mil dólares mensais e todas as despesas pagas, Frederico Roque de Pinho não se coíbe de manifestar que os seus colegas angolanos são incompetentes e mal-pagos.
Na Rádio Nacional de Angola uma brevíssima análise económica semanal do jornalista Reginaldo Silva (outra vez ele) foi retirada da grelha de programas por causa do “momento especial” que se vive. Um dos mais empedernidos defensores do Eduardismo, o académico Mário Pinto de Andrade, também foi cerceado. Ele tinha um programa de análise política e mesmo exaltando, a cada intervenção, a genial clarividência do “Guia Imortal Adjunto” (entenda-se, José Eduardo dos Santos) não escapou da excomunhão. De tanta bajulação, só faltou Mário Pinto de Andrade afirmar que o ar que os angolanos respiram devem-no ao “grande estadista”.
(In http://makaangola.org/2011/12/mpla-reforca-censura-na-tpa-e-rna/)