quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

2011, O Ano de Todos os Desmaios...


A ideia de basear esta retrospectiva na figura do"desmaio", inspirada nos estranhos acontecimentos que sacudiram as nossas escolas, pareceu-me ser bastante expressiva para explorar os aspectos mais polémicos/ negativos que vivemos em 2011, que são aqueles que acabam por ficar na memória colectiva de um país que continua a viver entre duas realidades distintas. 
A realidade do discurso e da propaganda e a realidade da própria realidade que estamos com ela em relação à qual, por falta de dados credíveis/estatística, todos os dias nos desentendemos na avaliação do que deverá ser a verdadeira  (falta) saúde sócio-económica do país real.
O primeiro "desmaio" aconteceu logo em Fevereiro com a entrada em vigor da nova Constituição, na sequência de uma das mais rocambolescas etapas da nossa história política, onde (uma vez mais) o dito foi dado pelo não dito, com a anulação pura e simples das eleições presidenciais acordadas e anunciadas para 2009, de acordo com o compromisso assumido por JES.
A segunda República desapareceu assim do mapa com um silencioso e pacífico golpe de estado constitucional sem qualquer perturbação da ordem estabelecida num país que, politicamente, até pode ser considerado o mais  estável do mundo, pois para além de ser governado desde a sua criação em 1975 pelo mesmo partido/ideologia, só teve até ao momento dois presidentes, o último dos quais está no poder há mais de 32 anos, embora um dos seus mais conhecidos generais nos queira convencer, com cabalísticas fórmulas aritméticas, que esta contagem não está nada bem feita ao pecar por excesso.
Diante do novo texto constitucional, comecei logo por "desmaiar" quando vi que os angolanos maiores de 35 anos de idade só podiam chegar ao cargo de Presidente da República se tivessem uma militância partidária activa ou se conseguissem fazer um acordo com algum partido ou coligação de partidos concorrente às eleições que agora são únicas (duas em uma), enquanto não surgem por aí as autárquicas, onde constituição, ao que parece, se esqueceu de colocar o cadeado partidário. 
Isto quer dizer, que o poder local é para já a única "zona ecológica" do país formalmente libertada da "poluição partidária", o que significa dizer que a esperança continua a ser a última a morrer para todos aqueles que (ainda) querem servir o país apenas como cidadãos, sem terem necessidade de envergarem a camisola do clube mais famoso da esquina.
Voltei a "desmaiar" quando vi que, agora, se pode ser Presidente de todos os angolanos com pouco mais 20% do eleitorado, se o número de partidos concorrentes rondar os cinco.
Agora pode-se governar Angola com uma "minoria absoluta", a confirmar todas as suspeitas anteriores segundo as quais o atípico modelo foi desenhado pelos seus estrategos com régua, esquadro e compasso, a pensar em todos os cenários/hipóteses, incluindo o da saída de JES, menos um, que é o de uma possível derrota eleitoral.
Continuei a "desmaiar" com as notícias das escolas, mas "desmaiei" ainda mais quando assisti a primeira conferência de imprensa da polícia sobre os "desmaios". Aí ia tendo mesmo "um ataque de caspa", por causa das tissagens e da fome que foram apontadas como sendo também possíveis causas dos "chiliques" que se estavam a generalizar entre os jovens estudantes de de Luanda mas não só, pois a onda espalhou-se a outras cidades do país.
O outro "desmaio" que tive em 2011, foi-me provocado pelos putos (já grandinhos) que perderam o medo, viraram revolucionários, saíram à rua, xingaram tudo e todos, fizeram estremecer o sistema de alto a baixo e conseguiram mesmo acabar com o carnaval do 7 de Março, para além de terem posto "BB e sus muchachos" a trabalharem como nunca tinham imaginado na organização de uma contra-manifestação, a que deram a pomposa designação de "manifestação dos milhões". 
Na história do país, nunca tão poucos, tão novinhos e sem qualquer recurso para além da sua coragem física, tinham conseguido tanto e em tão pouco tempo. 
Uma verdadeira proeza! 
Deixo os outros "desmaios" de lado, para terminar esta retrospectiva com o último "desmaio" de 2011 que me foi provocado pelo apagão da ENE/EDEL. 
Foi tão forte que até tive de voltar a comprar gerador, eu que já tinha jurado a mim mesmo, nunca mais ter um fofandó, depois de ter despedido o último que esteve a bumbar no kubicú, já já lá vão mais de dez anos.
Além fronteiras,  ainda fui a tempo de "desmaiar" com as violentíssimas e incríveis imagens de Kadahfi a ser linchado em directo, com direito a um "reality show", que pôs fim a um consulado de 40 anos, sem honra e sem glória, com a mais completa humilhação de alguém que teve o poder absoluto.