Onde andavam os Cunhavaz, a Codisa e outras empresas estrangeiras?
Em função das injustiças, nunca me vou calar. Ou me matam, ou me prendem, mas nunca me vou calar.
Não sou contra o poder, sou do MPLA.
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Querem me fazer vida negra. É retaliação. Eles justificam a vinda da empresa Cunhavaz por ter feito o Campeonato Europeu, em Portugal. Se for o caso, temos de mandar vir também a polícia portuguesa para fazer o asseguramento no CAN, assim como o presidente da comissão organizadora do Euro. Que venham todos e ficamos a assistir.
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Nunca fui o menino bonito como as pessoas pensam. Tudo que consegui até hoje foi arrancado. Nunca me deram nada, absolutamente nada. O que tenho foi graças a financiamentos dos bancos. Até hoje, tenho débito e crédito no BPC. Desafio alguém que me vier dizer que me deu dinheiro. Quando veio o Roberto Carlos, o que recebi foi forçado. O ministro da Cultura, no caso o actual Governador de Malanje, influenciou negativamente para o Presidente da República para não me dar apoio financeiro. Com apoio do BPC consegui trazer o músico e depois andaram a pedir-me convites. Depois de ter ido ver o espectáculo, o Presidente autorizou um apoio financeiro para mim mas chegou tarde e num valor muito reduzido comparativamente as necessidades. Ao invés de um milhão de dólares, acabei por receber 400 mil dólares. Ando a ser sacrificado estes anos todos.
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Pretendo tirar isso a limpo. Há vozes no COCAN que dizem haver uma orientação superior do Presidente da República para que eu fique de fora. Pretendo uma informação oficial do Presidente ou do gabinete dele. Temos que deixar de ser cobardes. Senão há nenhuma orientação superior, a direcção do COCAN terá que me dar explicações. Vão se ver comigo! Me usaram no CAN de Andebol, me usaram no Afrobasquete, agora querem me deitar? Vão ter que me matar.
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Sou invejado pelo poder. Mas eu sei porquê: quando levei o Bonga ao Palácio, muita gente não quis, mas ainda assim levei-lhe com os meus meios. Um dia conto esta história. Em relação ainda a carta aberta, escrevi para denunciar os maus-tratos de que fui vítima durante as eleições por parte do MPLA que não soube agradecer todo meu apoio. Levei uma caravana à Venezuela, dei carros a membros da JMPLA, ao Comité Provincial de Luanda, viaturas no valor de 500 mil dólares. Depois disso me tiraram da campanha sem que me dessem nada. Por isso, escrevi ao Presidente da República
ANG: Havia algum acordo entre à sua empresa e Direcção Central do MPLA para o efeito?
H.M.R.: Mas é preciso haver acordo? Se um responsável do partido liga para si e diz que precisamos de viaturas e que serão fundamentais para vencermos as eleições, o que devia fazer? Não tive outra opção que não fosse entregar.
ANG: Foi isso que aconteceu?
H.M.R.: Claro! Por está razão, penso que 80% da dívida que contraí não é minha, é sobretudo do MPLA. A minha divida junto do BPC é assumida e o valor está registado. A dívida de filhos de muito boa gente não está registada. O dinheiro que tirei do BPC não foi para construir ou criar empresas na Europa, foi aplicado aqui em Angola. Se eu não existisse, a JMPLA não tinha ido ao Festival da Juventude e Estudantes, em Caracas, mas hoje a JMPLA pretende me tirar o véu. ANG: Já esgotaram as possibilidades de se encontrar uma solução junto do seu partido, o MPLA? H.M.R.: Já pedi uma audiência ao Presidente da República. Ele não me recebe porquê? Já recebeu o mano Dibango e o Hélder do kuduro. Será que o Hélder vale mais do que eu? Receba-me também. As pessoas só me precisam quando trago artistas de renome, porquê? Me batem nas costas, aí eu só menino bonito! Agora, que estou em dificuldades, ninguém me procura.
ANG: Em várias ocasiões disse que a Casa Real, na sua pessoa, tem prestado serviços relevantes ao país. O que gostaria de receber como recompensa?
H.M.R.: Gostaria que elevassem a Casa Real a categoria de Instituição de Utilidade Pública, como são os casos da AJAPRAZ, Movimento Espontâneo e Kabuscorp. Tirando o Kabuscorp, nenhuma destas organizações fez mais que a Casa Real. Porquê que eles podem ser Instituição de Utilidade Pública e nós não? É injustiça.