Na passada segunda-feira (15/06) o nosso Radar detectou a RNA-Emissora Oficial a transmitir uma entrevista “atípica” para os seus padrões editoriais, o que de vez em quando acontece naquela frequência.
O entrevistado era o economista José Cerqueira, o homem que entrou em finais dos anos 80 para a nossa história, com a força e a clarividência do reformador SEF que deu origem ao primeiro acordo com o FMI.
Como todas as mentes brilhantes deste país, Cerqueira acabou por ser trucidado pela conjuntura política. Foi apenas mais uma vítima de um longo “cortejo de horrores” que continua a marcar a nossa feira de vaidades, arrogâncias e petulâncias.
Cerqueira que nos últimos tempos anda um bocado “perdido”, como gestor, pela sua “Aldeia Nova” lá pelas bandas do Waku-Kungo, voltou a ser ele próprio, isto é, um imbatível crack da macro-economia. Um intelectual.
Já estávamos com saudades.
A sua apreciação global do desempenho do Executivo em termos de estratégia foi uma lição que há muito tínhamos deixado de ouvir da sua lavra, de onde nos últimos tempos apenas saíam de declarações circunstanciais que nem sempre eram muito bem aceites ou entendidas por alguns dos seus colegas de formação e ofício.
O governo, desafiou Cerqueira, não pode continuar a espatifar os dólares para defender o kwanza dos ataques inflacionistas.
O governo, apontou o economista, tem de encontrar uma solução mais inteligente, que existe, para conseguir uma estabilidade macro-económica que seja efectivamente sustentável, e que ele está em condições de ajudar a definir.
Pelos vistos, deixou entender, a estabilidade conseguida e que já pertence ao passado, não foi fruto do mercado, uma evidência que agora está cada vez mais na cara, nomeadamente, com o regresso das kinguílas em força às ruas de Luanda, de onde elas nunca tinham desaparecido.
Não temos memória curta, disse para depois perguntar pelo paradeiro dos excedentes (comerciais e fiscais) dos anos das vacas gordas, que agora deveriam servir para passarmos ao largo da crise sem outros sobressaltos de maior, para além dos necessários.
Como fazer a gestão destes excedentes, foi a outra referência da sua abordagem.
Vacas gordas ou loucas?- perguntamos nós.