O curioso deste momento é que o "saudosista" de serviço foi o Líder da bancada parlamentar do MPLA, Gigi de Fontes Pereira (FP).
FP recordou-se de uma das frases mais famosas do "mano mais-velho", por sinal aquela que mais profundamente beliscou a imagem do regime e que, pelos vistos, continua a fazer estragos.
"Estes tipos não mudam!"-disse certa vez JS, numa das suas tiradas políticas mais brilhantes do ponto de vista do impacto provocado por uma crítica.
Por ser curta e grossa, como mandam as regras do marketing político mais ofensivo, a frase de Savimbi ficou na nossa memória colectiva, a tal ponto que ontem ganhou dignidade parlamentar, com a sua utilização pelo destacado membro do MPLA que a tentou utilizar como arma de arremesso contra a UNITA, no âmbito da actual crise que se instalou entre os dois "paquidermes" da política nacional.
A devolução do histórico mimo por Fontes Pereira acontece numa altura em que os angolanos voltaram a ter medo do seu futuro, por obra e graça dos desentendimentos/agressões/acusações/ que estão a marcar nas últimas semanas o relacionamento entre a UNITA e o MPLA-Governo.
Sem ser ainda alarmante, o tom está de facto a subir.
Mas, mais grave do que isso, pois o calor político também faz parte do boletim metereológico de qualquer processo democrático, é que esta espiral verbal está a ser acompanhada de alguma violência, já com vítimas a lamentar, a ter em conta o balanço apresentado pela UNITA em relação a existência de militantes seus que terão sido mortos ou feitos desaparecer, no quadro das disputas localizadas em alguns municípios do interior.
A confirmarem-se estas "baixas", nove anos depois das armas se terem calado, há de facto motivos de sobra para o país se começar a preocupar novamente com os "irmãos desavindos", tal como já o fez este fim-de-semana a imprensa privada, chamando atenção para os potenciais perigos desta escalada.
O Semanário Angolense resumiu e muito bem este estado espírito na alusão que acompanha a sua principal manchete "Bilo Sangrento".
Escreve a propósito o SA, que "embora se esteja ainda longe das eleições, o jogo político já subiu de tom. MPLA e UNITA estão às turras novamente, com cada um a tentar eximir-se das responsabilidades pelos acontecimentos sangrentos do Huambo, que podem matar a democracia, se a racionalidade não vingar. Parece haver alguma falta de sentido de Estado em ambas as partes. É hora de parar com isto!"