terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Governo deixou a Angola Telecom de tanga

O mais recente "apagão" ao nível das telecomunicações que afectou durante cerca de 24 horas o acesso à Internet e outras comunicações com o exterior, traduz um problema bem mais grave do que se possa imaginar, embora não tenha nada de muito complexo.
É um problema económico (falta da chamada cash caw=vaca leiteira) que espelha bem (mal) a forma como o património público tem estado a ser privatizado, a favor de interesses particulares bem conhecidos, porque afectos à mais alta hierarquia do poder político que dirige o país.
Na avaliação de fontes especializadas que acompanham de perto a evolução do sector das telecomunicações, o "apagão" tem a ver com a forma como a Angola-Telecom tem vindo a ser "desnatada", depois de lhe ter sido retirado o negócio da telefonia celular com a privatização da MOVICEL na sequência de um processo que, do ponto de vista da transparência e da racionalidade, deixaria chocado até o próprio contabilista do Al Capone.
Por outras palvras e indo directo ao assunto, o problema da falta de energia referido como tendo estado na origem do "apagão", pode ter sido apenas o resultado da falta de dinheiro nos cofres da Angola-Telecom para comprar o combustível de que necessitava para pôr os geradores da sua estação de Cacuaco a funcionar, depois de se ter registado uma quebra na energia da rede provocada pela queda de um poste.
De facto é chocante constatarmos hoje que a toda poderosa Angola-Telecom do passado, nem dinheiro terá já para manter os geradores operacionais de uma instalação tão estratégica como é a estação de Cacuaco, porque lhe foi retirada a sua "vaca leiteira" e entregue de mão beijada a um conjunto de três ou quatro empresas privadas, cujos novos proprietários hoje se divertem a contar dinheiro, transformados em verdadeiros herdeiros do Tio Patinhas.
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Informação de background
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Angola tem apenas um cabo submarino internacional (o SAT3) que amarra em Cacuaco.
O cabo que liga vários paises desde a Africa do Sul até Portugal, entra em Angola por intermédio de uma estação terminal localizada precisamente na Vila de Cauaco. Deste ponto segue para as instalações da Angola telecom em fibra óptica terrestre.
O cabo é complementado por sistemas de comunicações por satélite da própria Angola Telecom, da MS Telecom e da TV Cabo, mas essa capacidade não é suficiente para substituir o cabo em caso de falha deste.
A tecnologia "satélite" tem intrínsecamente muito menos capacidade que a tecologia "cabo".
Está em construção um segundo cabo submarino internacional com amarração a sul, na localidade de Sangano.
Com a entrada desse segundo cabo, Angola ficará mais "resiliente" a este tipo de falha.
No passado houve várias paragens do cabo, mas foram todas motivadas por cortes no prolongamento nacional, ou seja, na ligação entre a estação terminal em Cacuaco e a Cidade.
Esta última paragem foi diferente. Deveu-se, como já foi dito, à falta de energia. Houve uma avaria na linha de alimentação de energia da ENE (queda de um poste) e a estação ficou alimentada por geradores. Ao que se sabe, faltou combustível.
Na avaliação das fontes que temos vindo a citar, a Angola Telecom está a passar por um mau momento, com problems recorrentes de liquidez. Isto é consequência, como já vimos, do facto de ela ter sido "desnatada", ao se lhe tirar o negócio mais rentável que é a telefonia móvel.
Hoje, nenhum operador de telecomunicações do porte de uma Angola Telecom sobrevive sem o concurso do negócio móvel. A privatização da Movicel, nos moldes em que foi feita, deixou a Angola Telecom sem o "cash caw".
Poderá até ter havido alguma negligência, mas esta falha, na opinião das nossas fontes, é mais uma manifestação das dificuldades de tesouraria por que passa a empresa.
Há cerca de um mês soubemos que a empresa de segurança abandonou todos os postos, por falta de pagamento dos serviços.
E outros tipos de problemas motivados por dificudade de tesouraria tem sido recorrentes.