domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ser da Esquerda: Entre a dinâmica e a retórica

A elite que dirige este país está a afastar-se de forma muito dinâmica de qualquer contacto com a ideologia de esquerda, se é que existe uma tal ideologia, porque no mundo há várias esquerdas. Agora existe mais uma: "a esquerda dinâmica", que acaba de ser "descoberta" pelo actual líder da bancada parlamentar do MPLA, G. Fontes Pereira. A "esquerda dinâmica" será uma espécie de esquerda neo-liberal, adepta do capitalismo selvagem? Numa das mais arrasadoras apreciações que já ouvi sobre o sistema montado em Angola pelo MPLA, o actual Presidente do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade disse qualquer como isto: "Não tenhamos ilusões: entre nós, não há nem neo-liberalismo, nem capitalismo regulado, temos sim um capitalismo de bairro, onde só se sentam à mesa amigos, fiéis e cúmplices, quer sejam nacionais ou estrangeiros, com uma mão invisível a comandar tudo, a partir da bolinha de cristal..." O MPLA só é realmente de esquerda em matéria de controlo da sociedade e de repressão, da esquerda totalitária, herdada dos antigos regimes socialistas do leste europeu, dos "nuestros hermanos cubanos" e, óbviamente, dos cerca de 14 anos do Partido do Trabalho (ML), que foi proclamado em Luanda por Agostinho Neto sob o olhar silencioso de Lénine. A recente ameaça do SG do MPLA, Dino Matrosse, "vamos tomar medidas sérias", num aviso à navegação dirigido a todos quantos venham a aderir a uma manifestação anti-governamental que foi convocada na NET, traduz em toda a sua plenitude esta herança que se mantém bem presente e actuante. O MPLA através de Gigi de Fontes Pereira reafirmou sexta-feira em Luanda que se mantém um partido de esquerda. À esquerda de quem? Só se for da extrema direita... Aí sim, aí é que é capaz do M ficar colocado de forma mais adequada, ou seja, bem à direita, que é de facto a actual e real postura do maioritário, para além dos discursos. O resto só pode ser conversa... Para mim em Angola ser da esquerda em termos de política real (governamental) é ser solidário com os mais frágeis, é estar ao lado das classes trabalhadoras, é combater realmente a pobreza com acções e não apenas com intenções e proclamações. Quem é da esquerda, mesmo num regime capitalista não pode assumir determinados comportamentos "desviantes". Ser da esquerda e apenas pensar na acumulação de riqueza pessoal a qualquer preço não faz qualquer sentido. Ser de esquerda e acumular dezenas de viatura topo de gama em quintas e fazendas não me parece que seja um bom sinal em termos de coerência. Ser de esquerda e ter milhões de dólares em contas bancárias difíceis de explicar não pode ser o melhor cartão de visitas para quem se quer apresentar como representante desta faixa político-ideológica. Ser da esquerda e ter dezenas de milhares de hectares de terra a custo zero ultrapassa até os sonhos dos grandes latifundiários deste planeta. Ser da esquerda e participar na delapidação do erário público através da corrupção e de outras práticas danosas só pode ser piada de mau gosto, para desgosto de todos aqueles que ouvem o discurso dinâmico. Na actual etapa histórica que o mundo vive (globalização), em que de facto o modelo de desenvolvimento capitalista é o dominante, após a queda do Muro de Berlin e o fracasso do chamado socialismo real, acho que é possível continuar-se a ser de esquerda ao nível da gestão da coisa pública e do próprio desempenho pessoal dos membros das elites no poder. A esquerda ou as esquerdas têm estratégias distintas dos seus colegas da direita no que toca à elaboração e implementação das políticas públicas, através das quais o Estado exibe o seu rosto mais ou menos humano, à sociedade. É por aqui que deve começar o debate sobre o quê ser de esquerda em Angola. É um debate urgente, numa altura em que o combate à pobreza tem de ser de facto uma prioridade. Mas há mais, muito mais em http://www.facebook.com/#!/photo.php?fbid=1499021410079&set=a.1472654430921.54842.1670467054&comments