terça-feira, 26 de julho de 2011

A cobertura jornalística eleitoral e as sondagens(2)

No seu conjunto o pacote legislativo eleitoral vai agora ser revisto, mas acredito que não haverá muitas alterações em relação ao que está estabelecido para o trabalho da imprensa, com a lamentável excepção de um aspecto que eu reputo de grande importância e que em meu entender poderá alterar bastante, caso venha a ser aprovado, o tipo de cobertura jornalística eleitoral que nos preparamos para fazer no próximo ano, caso as previsões iniciais não venham a sofrer algum adiamento, o que sempre é possível.
Este aspecto tem a ver com a divulgação de sondagens no decorrer do período da campanha eleitoral, o que vai introduzir um elemento novo e perturbador no que toca a cobertura jornalística eleitoral.
Sou das pessoas que sempre defendi que a ainda actual interdição divulgação de sondagens durante a campanha eleitoral foi uma medida bastante acertada do nosso legislador pelo que se deveria manter em nome da igualdade de tratamento que os concorrentes têm direito.
Antes de mais estou convencido que o referido instrumento cria demasiado ruído na campanha e acaba sempre por beneficiar um dos concorrentes que eventualmente é o mais bem colocado, mas que também pode não ser efectivamente, beneficiando deste modo dos seus resultados que têm sempre um valor muito relativo, já que são feitas com base numa determinada amostragem que normalmente não ultrapassa os dois mil inquiridos.
As sondagens funcionam muitas vezes de forma perversa e podem ser facilmente manipuláveis, já que são elaboradas por empresas privadas que obviamente têm sempre os seus interesses próprios, incluindo os políticos, mesmo quando são estrangeiras.
No caso de Angola a nossa realidade concreta no que toca as capacidades e potencialidades é caracterizada por um desequilíbrio acentuado entre os partidos concorrentes, tendo de um lado o partido no poder com todas as soberbas vantagens que se conhecem e do outro as formações da oposição cujas disponibilidades materiais e financeiras são tão modestas que até dá dó falar delas, quando se trata de fazer comparações.
Mesmo vivendo a UNITA uma outra realidade, as coisas actualmente já não se alteram muito quando chega a hora de comparar dimensões, tendo do outro lado o MPLA.
Neste contexto a entrada de empresas de sondagem para o barulho da campanha eleitoral só vai acentuar os desequilíbrios estruturais existentes, já que à partida os partidos da oposição não têm recursos disponíveis para encomendar tais pesquisas de opinião junto do eleitorado.
Em Angola há ainda um outro problema mais complicado que é a ausência de uma entidade reguladora que supervisione e fiscalize a actividade das empresas de sondagens de forma a prevenir o surgimento de produtos fraudulentos no mercado.
Por tudo isto e por muito mais sou daqueles que continua a defender a proibição das sondagens durante a campanha eleitoral, numa altura em que o parlamento ainda não deu inicio ao processo de revisão do pacote legislativo eleitoral. Sabendo que esta alteração faz parte da proposta do partido maioritário, ainda alimento a esperança que o debate parlamentar possa produzir um outro resultado. Como esperança aqui fica ela lavrada a partir das férteis terras malanjinas que já não visitava há cerca de 40 anos.
(cont)