Na edição deste domingo do Semana em Actualidade um dos temas do debate esteve relacionado com a aprovação das conclusões da CPI sobre a intolerância política no Huambo.
No seu conjunto as conclusões e recomendações foram todas desfavoráveis às queixas apresentadas pela UNITA e que estiveram na origem da criação da referida comissão parlamentar, que desde logo teve o sabor de um "presente envenenado".
Sempre disse que do ponto de vista da estratégia política, que é aquela que mais ordena, não havia qualquer possibilidade do maioritário MPLA permitir que esta CPI desse razão à minoritária UNITA.
Admiti, contudo, que no âmbito das recomendações houvesse um maior espaço de manobra, para acolher outro tipo de preocupações mais relacionadas com a necessidade de se promover a coabitação pacífica entre os angolanos, independentemente dos seus credos partidários, elegendo-se deste modo o valor "ser angolano" como o mais importante.
Estou convencido que este é um terreno que continua demasiado minado e instrumentalizado pelas estratégias partidárias do MPLA e da UNITA, sendo de todo aconselhável que o calor das rivalidades politico-eleitorais não ultrapasse uma determinada temperatura, que pode levar à "fissão nuclear" do nosso ainda demasiado instável tecido social.
Sou das pessoas que acha que para além das motivações e dos resultados, a CPI do Huambo acabou por ser uma boa iniciativa, porque permitiu discutir em concreto o problema da intolerância política, tendo deste modo ajudado as populações locais a gerirem melhor o seu relacionamento do ponto de vista politico-partidário.
Se tivesse havido uma cobertura mediática mais adequada, com a transmissão em directo de todas as audiências públicas pela TPA e a RNA, o impacto positivo desta CPI a nível nacional seria certamente muito maior. A referida cobertura foi má e acabou por ser manipulada, para não variar.
A CPI do Huambo, passe o possível exagero desta afirmação, foi a primeira iniciativa institucional ao nível do Estado virada efectivamente para a promoção da reconciliação nacional entre os antigos "irmãos desavindos" (mas não só), desde que as armas se calaram em Fevereiro de 2002.
De facto não me lembro de ter visto nestes últimos cerca de dez anos, o Estado angolano preocupado com a reconciliação, para além de algumas referências de circunstância, espalhadas pelos discursos dos políticos, onde se inclui o Presidente da República.
Por tudo isto e por muito mais, acredito que na prática esta CPI contribuiu para a aproximação dos angolanos.Contribuiu para a consolidação da paz.
Foi, contudo, um passo muito pequeno, uma gota de água no oceano da intolerância que continua a banhar as nossas costas, com muitas ameaças.
A CPI do Huambo não pode negar algumas evidências com que nos confrontamos todos os dias em todo o país, onde de facto o "ente angolano", ainda vem depois do "ente partidário", com todas as consequências que esta precedência implica para o relacionamento das pessoas, incluindo membros da mesma família.