É por esta drenagem feita a partir do OGE, que também se consegue perceber que actualmente e de acordo com a própria ANIP, uma percentagem crescente e significativa do investimento privado fora do sector petrolífero, já esteja localizada em solo nacional, já seja assumida por angolanos genuínos.
Lembro-me de em finais do ano de 2003 ter feito um patético apelo bem revelador das minhas preocupações como cidadão e jornalista nesta matéria e que de lá para cá tenho repetido e reiterado sempre que a oportunidade surja.
Na altura escrevi algures, como resultado de uma conversa mantida com os meus botões, cheguei a conclusão que para engalanar os meus votos de ano novo próspero num país chamado Angola, com uma longa e contumaz tradição de má gestão da coisa pública, com todo o seu cortejo de grandes e pequenos desvios de fundos dos vários OGEs existentes, para conhecidos mas não comprovados bolsos, o melhor seria fazer um apelo sincero à contenção. Apenas isto. Nada de grandes exigências.
Sincero e realista.
Modéstia à parte, mas somos já conhecedores profundos da movediça realidade nacional, das suas limitações e sobretudo do feitio mal-humorado e por vezes violento dos seus protagonistas, alguns dos quais optaram claramente há já bastante tempo pela teoria dos dois discursos. Uma teoria que tem no terreno da política o seu principal campo de ensaio, com resultados muito animadores para os seus adeptos.
O resto faz-se na comunicação social e com a repetição até à exaustão de alguns chavões do discurso oficial.
O apelo lançado nos últimos dias de 2003 teve como principais e únicos destinatários todos aqueles que têm a responsabilidade de gerir o erário público, aos vários níveis, do topo à base, dos vários OGEs e de todos os sacos azuis, vermelhos, verdes e pretos que integram o arco-íris da nossa desgraçada existência.
“Que em 2004 se roube menos!” foi, preto no branco, o conteúdo do apelo sincero que subscrevi, convencido que uma tal economia de recursos se apresenta com um potencial de soluções muito grande, na luta contra a escandalosa pobreza que humilha, desespera e faz sofrer tremendamente muito mais de metade da nossa população, numa altura em que assistimos a uma briga de estatísticas entre o IBEP e o CEIC, sobre o nível efectivo da pobreza em Angola. Um tema da maior importância que seria de imediato e noutras latitudes matéria mais do que suficiente para vários debates públicos promovidos pela comunicação social.
Aqui é o que se vê…
Como é evidente, tais considerações feitas há mais de sete anos mantêm no essencial, lamentavelmente, a sua preocupante robustez física, depois da tolerância zero ter já caído no esquecimento de mais uma partida em falso, como ficou bem patente no famoso discurso feito por JES em Março último.
Dizia que apesar de muito estar a fazer, a média só parcialmente tem contribuído com a necessária profundidade para que a cruzada contra a corrupção atinja os seus objectivos.
Constata-se que grande parte dos espaços mediáticos dedicados ao tema é preenchido com as chamadas histórias da carochinha, enquanto ainda vemos jornalistas preocupados com o facto dos vendedores ambulantes não pagarem impostos e fazerem disso matérias de capa, num país onde a evasão fiscal é brutal e se estima em largos milhões com os mais ricos a não pagarem um tostão do que devem pelos rendimentos que deviam declarar ao fisco e nunca o fizeram.
De facto sobre a corrupção, seus anexos, arredores e periféricos vamos continuar a ter histórias da carochinha na imprensa enquanto não nos concentrarmos no que é fundamental.
(cont)