quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O MPLA, a Oposição, os confrontos de Maputo e a destruição do Roque Santeiro

Como há algum tempo já não se via, o MPLA e o seu Governo estão actualmente em plena sintonia nesta ofensiva política contra a UNITA e outros sectores mais críticos da sociedade civil. Para além de Samakuva e a R. Despertar, a estrela da companhia é nesta altura o activista e jornalista Rafael Marques, com a sua produtiva cruzada investigativa sobre a corrupção endémica e a falta de transparência institucionais em Angola, o que já lhe valeu uma "menção honrosa" do BP na passada sexta-feira. Esta sintonia que é claramente estratégica, não constitui por si só uma grande novidade, embora tenha como explicação mais próxima um facto que nos parece encerrar algum renovado interesse analitico. De facto, quando no inicio de Agosto se ouviu o porta-voz do partido governante, Rui Falcão Pinto de Andrade (RF), dizer que o MPLA não tinha que se pronunciar sobre os resultados das investigações jornalísticas que estão a ser conduzidas pelo "inspector" Rafael Marques, ficou-se com a impressão que estava a registar-se uma inédita ruptura na cadeia de solidariedade política do regime angolano. “Angola é um Estado de Direito e tem órgãos competentes para se debruçarem sobre este tipo de acusações. O MPLA não tem de se pronunciar sobre um assunto que deve ser analisado nos órgãos competentes. O que o MPLA gostaria era de ver esses órgãos competentes a pronunciarem-se sobre essas acusações”, disse Rui Falcão. Este pronunciamento em nosso entender não terá sido nada bem digerido pelo topo da pirâmide, o que colocou RF numa situação parecida com aquela viveu Kwata-Kanawa àquando do debate da nova constituição. É caso para concluir que RF coleccionou assim o seu primeiro cartão amarelo, percebendo-se melhor agora a radicalização do seu discurso contra a oposição, que sendo próprio da sua natureza politica mais agressiva, pode de facto ser também o reflexo de algum "puxão de orelhas" interno. Como justificação desta subida de tom e da tensão política parece estar uma jogada clássica de antecipação, tendo como conselheiro os sangrentos acontecimentos de Maputo, na sequência da vitoriosa revolta popular que acabou por forçar a Frelimo e o seu Governo a recuarem em toda a linha, num desenvolvimento que nos parece inédito na história daquele país. Com esta jogada de antecipação, o MPLA está claramente a responsabilizar a UNITA por futuras situações de instabilidade e de insegurança que venham a ocorrer em Luanda (mas não só). A destruição do Roque Santeiro terá certamente consequências inevitáveis no equilibrio precário da caótica capital angolana. O disparo da criminalidade será uma delas, mas pode haver outras mais profundas. Ignorar este facto e tentar transferir de imediato responsabilidades para terceiros, pensando apenas na estratégia da sobrevivência política, não nos parece que seja a melhor solução para atacar os problemas recorrentes de Luanda, que só podem ser agravados com acções como foi a transferência do Roque Santeiro para uma "miragem" chamada Panguila. ************************************************************************************** comentários: Niura disse... Temos aqui um paradigma de falta de habituação democrática do M e apontar o dedo acusador pra terceiros não resolve o problema a começar pelo facto de com o dedo indicador em riste, 3 ficam voltados pra si próprio (M), sendo um sinal de elevada responsabilidade sobre a caótica situação social que o país vive. Acompanhei o discurso de RF e chamou-me a atenção por vê-lo sozinho (a teoria do puxão de orelhas colhe), a falar pra jornalistas que não fazem perguntas (só podiam ser todos da imprensa pública, suspeito isso) a que pretenderam chamar de conferência de imprensa (em jornalismo podia ser um comunicado oficial e jamais conferência de imprensa).Escamoteiar o problema apresentando como argumento a economia crescente e a diminuição da inflação de 3.000 para 13% é enganador a começar pelo facto de ser o M o único responsável pela gestão económica do país, depois a economia cresce, mas o bem-estar custa a chegar (desenvolvimento económico-social é + importante que crescimento económico), e pra terminar a inflação baixou pra 13%, o salário sobe apenas 5.4% (incapaz de aumentar o poder de compra), o preço da gasolina sobe 50% (de Kz 40 para Kz 60), a taxa de juros pra crédito bancário ao consumo é 26%. Diante de tudo isso acho que RF deve ser + comedido e evoluir no discurso sobre gestão da coisa pública, porque de economia quase todos nós começamos a ter opinião porque de "tanto apanharmos nos habituamos"! 9 de Setembro de 2010 14:17