Este não é certamente o caso dos jornais, quando adoptam as suas designações, os seus títulos, as suas denominações.
Obviamente, ao adoptar-se uma determinada designação está-se a fazer a primeira grande opção em termos de conteúdo.
No título do jornal está de facto a primeira e mais visível referência da sua linha editorial.
Esperemos pois que esta relação que o novo titulo sugere à cabeça se faça sentir sempre e sem excepções.
Nos bons e nos maus momentos.
No elogio sem complexos e na crítica frontal e fundamentada sem receios estranhos a um país onde os seus habitantes, estando obviamente neles incluídos os jornalistas, já não devem ter nada a temer.
É deste País que falamos onde, em nome da defesa do interesse público, todas as susceptibilidades deveriam vir depois, o que não tem nada a ver com devassa das intimidades, nem com outras violações dos chamados direitos de personalidade.
As pessoas que neste País estão no exercício de cargos públicos, sejam eles quais forem, têm de perceber, de uma vez por todas, que a prestação de contas é uma obrigação inerente ao seu mandato. Têm de perceber, por outro lado, que na imprensa as mensagens funcionam em vários sentidos. A imprensa transmite mensagens oficiais, mas também faz passar as mensagens da opinião pública, sobretudo quando ela está descontente, quer reivindicar ou denunciar.
A função do jornalismo não é servir de correia de transmissão de nenhum poder em particular, seja ele qual for. As folhas e as colunas da imprensa devem estar sempre abertas a todo o País na sua diversidade, nas suas contradições, nos seus inevitaveis choques.
Sem ser negativista, a imprensa, que é independente por natureza e por definição da maior parte das constituições, tem de se preocupar primeiro lugar em ajudar a resolver o que não está bem, em combater o que está mal, em dar voz aos que não têm, em estimular o debate contraditório, pelo que o seu tom crítico é perfeitamente justificável, o que, em tese, não tem nada a ver com propósitos destrutivos inconfessos ou com estratégias oposicionistas.
Agora mais do que nunca, com a paz das armas consolidada, é importante ser-se xará deste País na identificação dos reais problemas (prioritários) que afectam os angolanos e o seu desenvolvimento sócio-económico, para se atingir a paz social.
É fundamental ser-se xará deste País na aposta numa democracia de qualidade, depois do regime democrático ter voltado a movimentar-se, na sequência das eleições de Setembro 2008.
O peso desta proximidade de nomes deve fazer-se sentir-se no relacionamento em pé de igualdade com todos os protagonistas da cena politico-partidária, da sociedade civil organizada e do quotidiano do cidadão comum na descoberta de novos valores e de novas histórias ofuscados pelo excesso de informação oficial e oficiosa.
O novo jornal chama-se “ O País” e é um semanário. Estará na rua todas as sextas-feiras a partir desta sexta-feira, tem gráfica própria (aos que nos dizem uma super moderna gráfica) e vai “alagar” o mercado com uma tiragem de 20 mil exemplares.
Enquanto aguardamos pelas notícias frescas do novo “País”, para termos uma noção da sua linha editorial, para além das intenções e das proclamações, o País que gosta de ler e estar informado vai ter certamente mais uma opção.
Por si só, este aumento da oferta é muito bom, considerando que é exactamente na diversidade e no pluralismo que reside a solidez e a sustentabilidade de qualquer panorama mediático.
Uma vez mais temos, contudo, que lamentar a falta de ambição dos investidores privados que estão a fazer a sua entrada em força no mercado, ignorando o segmento da imprensa diária, onde de facto é urgente a introdução da concorrência.
A imprensa privada que o país possui (reflectida sobretudo nos semanários editados em Luanda) é o resultado apenas da carolice e da coragem de grupos de jornalistas angolanos que em condições financeiras particularmente difíceis, tendo por pano de fundo uma permanente hostilidade do “establishment”, souberam dar forma e conteúdo ao principio constitucional da liberdade de imprensa.
Depois do “Novo Jornal”, o “ OPaís” é a segunda aposta empresarial, com aparente capacidade para tal, a passar ao lado da necessidade urgente dos angolanos terem acesso a um outro jornal diário. Trinta e dois anos depois, Angola, após extinção por razões políticas do vespertino “Diário de Luanda” em 1976, continua a ter apenas um oficioso matutino nacional, que é o “Jornal de Angola”.