terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os novos conselhos de administração

A pedido de várias famílias aqui vão as primeiras notas (breves) sobre a nomeação dos primeiros conselhos de administração dos órgãos governamentais da comunicação social com a esperança de que eles se transformem rapidamente em órgãos públicos, o que muito dificilmente acontecerá neste país, pelo menos de acordo com a concepção que temos deste tipo de perfil editorial.
Mas como a esperança é a última a morrer...
De uma forma geral a composição dos novos CAs não alimenta grandes expectativas em relação à mudança desejada por todos aqueles que não comungam das ideias do partido que está no poder e que se têm reflectido profundamente na forma muito pouco isenta e imparcial como a média governamental tem conduzido a sua intervenção, sobretudo quando a temperatura política aumenta.
Acreditamos piamente que também serão muitas as pessoas afectas à sensibilidade do maioritário que não acharam muita piada a algumas das escolhas, sobretudo ao nível dos "reconduzidos". Estamos a falar daqueles que tiveram responsabilidades de topo na gestão anterior, que como sabemos foi bastante desastrosa do ponto de vista administrativo. O destaque vai para a Rádio e a Televisão.
Constata-se que houve assim apostas em determinadas cartas que, por razões óbvias (por estarem demasiado viciadas), já não deveriam figurar neste "novo" baralho, mesmo com todas as limitações que qualquer exercício de renovação implica nas condições concretas de Angola. Houve de facto muito pouca ambição nesta movimentação, depois de tantas e tão prolongadas consultas de bastidores.
O único "paraquedista" que acabou por fazer a sua entrada no sector, foi o PCA da TPA, um jovem com quem temos um relacionamento pessoal bastante cordial, o que não é, entretanto, suficiente para dizer muito mais em relação ao que será o seu desempenho, no âmbito das expectativas relacionadas com uma maior abertura política e social da televisão estatal.
Só nos resta dar-lhe o benefício da dúvida e o habitual período de graça, antes de nos voltarmos a pronunciar sobre o seu desempenho.
Sinceramente gostamos de ver o Ernesto Bartolomeu fazer parte deste primeiro CA da TPA, um verdadeiro balde de água fria e quente para muita gente daquela estação, mas não só. O Ernesto tem potencial para, nos limites sempre apertados da navegação que é permitida pelo Big Brother, introduzir algum ar fresco na programação do canal estatal.
A referência que já é de algum modo polémica nesta movimentação foi a nomeação de Victor Aleixo (TPA), Victor Silva (JA) e José Patrício (RNA) para os novos CAs, como administradores não executivos.
Chamou particularmente a nossa atenção o caso de Victor Silva pois ele está ligado e dirige projecto Novo Jornal afecto a New Média SA (que agora mudou de patrão) desde a sua fundação há cerca de três anos. O Victor Aleixo está na mesma situação pois lideram igualmente um projecto editorial privado.
É pois com alguma expectativa que vamos acompanhar estes dois "dossiers", pois ainda não se sabe se eles vão acumular ou se irão optar, considerando a existência de um potencial conflito de interesses entre o público e o privado.
Curiosamente o Novo Jornal manifestou-se bastante crítico em relação à composição dos novos CAs, "esquecendo-se", entretanto, que o seu Director era uma das "gorduras" verberadas na nota negativa que o semanário dedicou ao assunto.
[A recente nomeação dos conselhos de administração para os media públicos mostrou que isto de cortar na despesa para equilibrar as contas do Estado não faz parte das preocupações do EXECUTIVO. Se existiu o mérito de boa parte dos nomeados serem quadros com longa carreira no sector e nas respectivas empresas, já o número de administradores executivos (sete) na TPA, RNA, ANGOP e Edições Novembro, esta detentora do Jornal de Angola, é um exagero. Para além da subida nos custos em salários e regalias, há ainda que nomear novos directores para cobrir as vagas deixadas por alguns dos promovidos. Tudo isto deixa no ar que o mais importante é acomodar pessoas- In Novo Jornal (5/Nov/2o10)]
Lamentavelmente continuamos sem saber qual será o novo modelo de gestão editorial da média estatal que é a nossa grande preocupação, tendo em conta o compromisso constitucional que o Estado assumiu ao assegurar "a existência e o funcionamento independente e qualitativamente competitivo de um serviço público de rádio e televisão".
Não há informação disponível pois continuam ser ser publicados os novos estatutos dos órgãos.
Voltaremos ao assunto.
(cont)