As soluções definitivas pura e simplesmente não existem, havendo apenas disponíveis as chamadas abordagens paliativas ou mitigadoras, que valem, o que valem.
O engarrafamento já é de alguns anos a esta parte a maior dor de cabeça dos luandenses e vai continuar a sê-lo com uma tendência preocupante para quem sofre de enxaquecas.
A existência de uma espécie de boletim meteorológico do engarrafmento seria uma dessas soluções, pois sempre era possível fazer algumas previsões em matéria de agravamento, sobretudo quando os mais altos diginitários deste país decidem sair a rua, interrompendo pura e simplesmente a circulação em alguns eixos e por períodos que às vezes chegam a ultrapassar uma hora. É por estas e por outras, que o principio enunciado no inicio desta crónica faz todo o sentido em Angola para o nosso completo desespero, pois não há para já outra solução, enquanto se aguarda pelas próximas eleições.
O engarrafamento, pelos vistos, veio mesmo para ficar e para provocar o máximo de sofrimento possível aos habitantes da "acolhedora" capital angolana, que todos os dias engorda mais uns bons kilos, quer com as viaturas que são importadas e vendidas, quer com os novos luandenses, por sinal todos bem magros, que aqui se instalam provenientes do interior e do exterior.
Os do exterior não se sabe muito bem o que é que vêm aqui fazer (desconfia-se apenas), mas percebe-se perfeitamente que os do interior, os nossos desesperados migrantes*, estão a ser atraídos pelo canteiro de obras com a construção das novas centralidades que tardam em chegar às suas terras de origem, com algumas tímidas excepções que normalmente não ultrapassam o território de algumas (poucas) capitais provinciais.
É a maka das tão faladas assimetrias, que têm naturalmente consequências, sendo ponto assente que os problemas sócio-económicos de Luanda se vão continuar a agravar, enquanto o investimento público não criar as condições mínimas para o desenvolvimento do resto do país.
Até lá, Luanda vai continuar a ser a "festa" a que já nos habituamos.
Todos a ralharem com todos, mas sem razão nenhuma.
[Um novo relatório das Nações Unidas alerta que a população africana nos centros urbanos deve triplicar nos próximos 40 anos, exercendo maior pressão sobre os governos e infrasestruturas em todo o continente.
"O Estado das Cidades Africanas 2010 : Governança, Desigualdades e Mercado de Terras Urbanas," foi divulgado esta terça-feira pelo programa da Nações Unidas para Habitação, ONU-Habitat, e faz um alerta ao planeamento urbano cuidadoso dos governos, para que estes possam suprir as necessidades dos pobres.
*Para quem não sabe, a zunga e o robotismo são as actividades profissionais mais procuradas pelos novos conterrâneos dos calús puros (uma raça em vias de extinção), em virtude das mesmas não carecerem da emissão do atestado de residência, dispensando igualmente a apresentação do BI.Tudo isto devido à grande mobilidade das mencionadas ocupações que proliferam pelas ruas de Luanda.