terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Esquadrão da Morte entre nós

A primeira versão do Esquadrão da Morte surgiu bem no inicio da década de 60 no Brasil (Rio de Janeiro). Era uma organização secreta integrada por policias, entre oficiais e sub-alternos, que tinham decidido fazer justiça com as suas próprias mãos, com as suas atenções letais dirigidas para supostos bandidos altamente perigosos. O Esquadrão da Morte evoluiu, cresceu, espalhou-se por todo o país, tendo sido posteriormente adoptado por outras corporações policiais fora do Brasil, como um modelo mais expedito de combater a criminalidade à margem da lei. Como é evidente, o Esquadrão da Morte rapidamente se transformou numa associação de malfeitores e passou a ser utilizado por este mundo fora pelos poderosos (políticos mas não só) para todos os efeitos e contra todos os seus adversários no âmbito das suas estratégias de poder. Definitivamente Angola não escapou ao "charme" do Esquadrão da Morte, que começou a sua actuação entre nós fortemente motivado pelos ventos stalinistas que sopravam neste país há 35 anos. Nesta vertente o stalinismo tinha sobretudo a ver com a "eliminação física de todos os adversários, incluíndo os camaradas". A nossa história está recheada de um infindável número de execuções extra-judiciais, com o pós 27 de Maio de 1977 a liderar o periodo mais sinistro da intervenção dos esquadrões da morte no nosso país. Embora depois do monumental banho de sangue que se seguiu ao 27, as coisas tenham sossegado em matéria de execuções extra-judiciais, o que é facto é que o Esquadrão da Morte como "solução", nunca desapareceu do nosso mapa institucional, tendo passado a ser gerido com uma maior "parcimónia". O alcance da paz em 2002 teve como consequência mais dramática o disparar da criminalidade violenta, o que determinou uma reorganização/relançamento do modelo Esquadrão da Morte, como um instrumento draconiano de contenção do avanço dos nossos cada vez mais ferozes e eficazes "bad guys". Esta era, contudo, a parte mais visível e denunciada pela imprensa da actuação do Esquadrão da Morte nestes últimos anos, sempre desmentida pelas autoridades, para não variar, até que as mesmas foram confrontadas com o "Massacre da Frescura". Já não havia como negar o que era tão evidente, o que levou o Comissário Quim Ribeiro (agora caído em desgraça) a reconhecer que o caso tinha sido um mau momento para a polícia. Muito mau mesmo. Se este caso foi encerrado, há, contudo, muitos outros homícidios que estão por esclarecer que têm claramente a mão de uma criminalidade (modus operandi) dificil de enquadrar na actuação "normal" da nossa delinquência, por mais violenta que ela se apresente. Em relação à outra parte mais selectiva/secreta deste agressivo desdobramento muito poucos saberão dos seus verdadeiros contornos e motivações, onde as políticas não deixam de estar presentes ao lado das mais económicas e que têm a ver com uma intensa febre que anda por aí chamada enriquecimento ilícito. Com o inquérito instaurado a Quim Ribeiro surge agora uma tímida possibilidade de se fazer alguma luz sobre os bastidores deste tipo de crime altamente organizado e protegido que ameaça destruir os pilares frágeis do incipiente edifício democrático que estamos a erguer.