domingo, 14 de novembro de 2010
Celebrações, exclusões e cortes
[ Ponto prévio:Após quatro semanas de ausência regressei este domingo ao Semana em Actualidade tendo do outro lado da "barricada" o Norberto Garcia (NG), um cidadão que muito aprecio e que se tem destacado entre os "fazedores de opinião" deste país que têm acesso regular aos médias.
NG é dos poucos representantes da sua sensibilidade político-partidária que melhor tem correspondido ao espírito do debate público, o que só o enobrece e fala bem da sua condição de cidadão.
Não foi certamente o melhor regresso, pois uma arreliadora falha impediu que o programa chegasse ao seu fim, tendo o brutal corte ocorrido mais ou menos a meio da emissão, sem que fosse dada qualquer explicação aos telespectadores.
Já recebi, entretanto, de um fonte afecta ao novo Conselho de Administração da TPA, garantias de que serão apuradas as causas do incidente com o compromisso de se tornar pública uma nota de esclarecimento. A mesma fonte garantiu-nos igualmente que não houve qualquer interferência extra TPA na origem do sucedido.]
Em relação ao tema que aqueceu o debate deste domingo no SA, as celebrações dos 35 anos da nossa Dipanda, fiz questão de manifestar o meu desapontamento pela sua partidarização, tendo deste modo o país político desperdiçado em Luanda uma soberana oportunidade de exibir uma outra imagem mais próxima da sua diversificada realidade histórica e política.
Depois de se ter desencadeado o processo (via MAT/Bornito de Sousa) que deveria culminar com a entrega da medalha dos 35 anos a todos quantos deram o seu contributo, independentemente da camisola que envergaram durante a luta contra a colonização, na cerimónia da outorga JES apenas distribuiu os distintivos aos seus camaradas, "esquecendo-se" de todos os outros.
Para além de terem sido pedidos os CVs aos antigos combatentes da FNLA e da UNITA e dos mesmos terem sido entregues, pouco mais sabemos sobre o que se passou até ao dia da cerimónia, com o resultado que já se conhece e que foi objecto da nossa crítica no Semana em Actualidade com as atenções voltadas para o MPLA e para a sua permanente "recusa estratégica" em ultrapassar a retórica do seu discurso bem intencionado.
De facto sente-se que a prática institucional tem-se estado a afastar cada vez mais do discurso politicamente correcto, o que é visível a vários níveis do relacionamento do poder com a sociedade política e com a sociedade civil, sem falarmos já do comportamento musculado das autoridades policiais sempre que são confrontadas com alguma manifestação não controlada pelo MPLA.
Claramente, a exclusão registada não foi em nosso entender a melhor solução, por mais que nos tentem convencer do contrário, como foi o que o NG tentou fazer no decorrer do interrompido debate.
O maior ganho destes 35 anos da Dipanda, reforçados com os 8 sem tiros, deveria ser um país mais reconciliado (embora nunca tenha havido conciliação, como diria o falecido Holden Roberto), com os angolanos mais próximos uns dos outros, mais tolerantes, mais solidários, menos egoístas, menos gananciosos, menos trungungueiros, mais nós mesmos, dispostos a levantar a mesma bandeira e a cantar o mesmo hino, mantendo e reforçando mesmo, todas as salutares divergências políticas próprias da competitiva democracia multipartidária que estamos a (tentar) edificar.
É possível e desejável esta coabitação, esta coexistência, sem a qual tudo não passará de um simulacro.
Lamentavelmente a festa dos 35 anos da Dipanda não exibiu este país, pelo menos na capital.