No encerramento do último Congresso do MPLA, há cerca de três semanas, JES disse na abertura da sua curta intervenção o seguinte:
"Aqui no nosso 4º Congresso Extraordinário já cantámos, já dançámos, já apreciámos uma boa peça de teatro, ouvimos um discurso mobilizador do 1ºSecretário da JMPLA. Agora ouvimos a resolução geral do Congresso, que tem as orientações fundamentais e as nossas intenções sobre o que vamos fazer no curto, médio e longo prazo. Realmente a minha margem de manobra agora é muito pequena." (risos do próprio e muitas palmas dos presentes)
Esta passagem não consta do texto integral do discurso que foi publicado pela Angop, o que não deixa de ser preocupante do ponto vista jornalístico, mas não só.
Os historiadores, caso algum dia venham a pegar neste texto, não saberão, obviamente, de tudo quanto foi dito por JES no final daquele conclave. Estamos assim diante de um mau trabalho que o jornalismo presta à história, pois sou daqueles que concordam, parcialmente, com a ideia segundo a qual os jornalistas fazem a história em capítulos diários, ou pelo menos ajudam a fazê-la mal ou bem.
Com estas omissões, o jornalismo está de facto a contar/enviar um péssima história para a história verdadeira que só será feita lá mais para diante.
Considero a referência feita por JES à redução do seu espaço de manobra no seio do MPLA, como tendo sido um dos aspectos mais importantes/interessantes do referido discurso, pelo seu potencial ambivalente.
Os meus companheiros de debate no Semana em Actualidade da TPA não concordaram muito com esta minha (sobre)valorização, àquando da discussão deste tema há duas semanas.
Acharam eles que a alusão de JES tinha sido meramente circunstâncial, isto é, que o Presidente apenas tinha querido dizer que já não havia mais nada para acrescentar no final do Congresso, quando se preparava para fazer o discurso de fecho.
Ora eu acho que o Presidente acabou por dizer muito naquelas poucas e improvisadas palavras, sobretudo em relação ao seu futuro, pondo de lado para já qualquer possibilidade de se vir a afastar do leme rubro-negro nas próximas eleições gerais.
A forma algo encabulada como sorriu, depois de ter dito o que disse, foi quanto mim algo sintomática dos problemas que pode vir a enfrentar intra-muros, caso o Governo não dê satisfação às preocupações que os congressistas manifestaram em relação, nomeadamente, ao seu desempenho sócio-económico, que, pelo que sabemos, foram mais do que muitas.
Contrariamente ao que estará a acontecer com a "margem de manobra" de JES, a nossa "margem de especulação" vai, certamente, aumentar nos próximos tempos, até que sejam em os conhecidos em Dezembro próximo, os nomes da lista dos candidatos a deputados com que o MPLA se vai apresentar às eleições do últimos trimestre de 2012.
Só aí ficaremos a saber quem é, em definitivo, o seu sucessor, ou seja quem será o candidato à Vice-Presidente, numa altura em que se começou a falar com alguma insistência da existência de um novo player nesta corrida chamado Manuel Vicente, sobretudo depois dele ter confidenciado ao NJ que deixará a Sonangol em Outubro deste ano.
Ninguém, como alguém já me disse, deixa a Sonangol apenas por querer mudar de vida. Ou é forçado, ou é convidado a subir um pouco mais, embora eu ache que depois da Sonangol não há muito mais, para além da Presidência da República.
Como até ao momento ainda não sabemos quais foram as alterações introduzidas pelo Congresso nos Estatutos do MPLA, ao nível das competências do Presidente, do BP e do Secretariado do BP, vamos ter de aguadar mais algum tempo para poder relacionar este desenvolvimento estatutário com o próprio futuro de JES.
Enfim, muito mais haveria para dizer, em relação às "misteriosas" palavras de JES.
Haverá certamente tempo e oportunidade para voltarmos a elas no decorrer dos próximos tempos....