Ao fim de longos meses de notada ausência, cerca de um ano e meio, o jornalista e comentarista político, Ismael Mateus, participou este sábado no programa de debates da RNA, Tendências e Debates, que discutiu a entrada em cena da 3ª República, tendo como referência o conteúdo da nova e polémica Constituição.
A polémica, quer se queira quer não, acabou por ser o traço mais visível do processo constituinte, apesar de mais de 90% do seu articulado ter sido aprovado por consenso, como os seus defensores se têm esforçado por propagandear, sem convencer ninguém, ao ponto de um deles já ter afirmado que é a "constituição mais consensual do mundo"(sic).
Estranho consenso esse, que provocou o abandono na fase derradeira do processo do maior partido da oposição, que, seguramente, representa muito mais em termos de opinião pública, do que a "quota" que lhe foi atribuída em Setembro de 2008.
Efectivamente faltou o quase que é quase tudo, que é o coração, que é o sistema político de governação, que acaba por condicionar tudo o resto e de que maneira num país real chamado Angola.
Faltou o quase que é de facto o quase tudo que nos divide em torno de valores fundamentais como a própria noção de democracia efectiva, de equilibrio, de igualdade, de participação, de cidadania.
No debate em que participou este sábado na RNA, Ismael Mateus fez a diferença pela positiva e pela frontalidade, num painel integrado por Simão Helena, Belarmino Vanduném, Fiel Constantino, Sebastião Isata e Mário Pinto de Andrade, todos eles, é bom que se diga, indefectíveis apoiantes políticos das teses governamentais, o que lhes tem retirado parte da objectividade e do distanciamento que se recomenda nestes exercícios opinativos.
Numa relação de cinco contra um, Mateus esteve em minoria e só não foi trucidado em directo pelos seus ferozes oponentes, porque tal procedimento ainda não faz parte dos métodos de silenciamento utilizados pela estação governamental que tarda em envergar as suas vestes de média público.
Seja como for, o convite feito a IM para participar neste debate e depois de uma tão prolongada ausência, entenda-se silenciamento que é extensivo a outras vozes, pode ser visto já como uma consequência dos novos ventos que começaram a soprar sobre a Comandante Gika, na sequência da nomeação de Carolina Cerqueira para nova MCS.
Os ventos são, entretanto contraditórios, porque o tema que foi agendado para este sábado, acabou por ser um recurso de última hora para cobrir o vazio resultante da não transmissão do debate (gravado) sobre o seguro automóvel obrigatório que deveria ter ido para o ar.
E tal não aconteceu porque o tom do debate foi considerado demasiado crítico para o projecto governamental, tendo neste contexto a sempre vigilante Direcção de Informação da RNA optado por censurar completamente o programa gravado.
Aliás, o recurso à gravação dos debates, que até Setembro de 2008 sempre foram feitos em directo e com a participação dos ouvintes, serve exactamente para isso, para censurar quando necessário, pois em directo não é possível aplicar a famigerada lei da rolha, como devem imaginar.
Os ouvintes perderam assim o direito de manifestar as suas opiniões nos debates da RNA, uma conquista importante da liberdade de opinião que foi assim mandada para as urtigas.
Os "opinion-makers" têm que ter mais cuidado com o que dizem em relação ao governo, pois podem pura e simplesmente não ouvir nada do que disseram, como aconteceu agora com o programa sobre o seguro obrigatório. Nem eles, nem ninguém.
Ganda RNA!