(Este texto foi-me solicitado e publicado pelo Novo Jornal, a propósito da morte em combate de Jonas Savimbi, a 22 de Fevereiro de 2002.)
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
UNITA, oito anos depois
Na sequência do resultado eleitoral de Setembro de 2008, a UNITA, como é evidente, perdeu peso e espaço na principal instituição democrática do país que é o Parlamento, que surge agora na 3ª República (por força da nova Constituição) demasiado subalternizado para os meus gostos e para a minha noção de soberania dos três poderes do estado democrático de direito.
Este cenário não estava nas suas previsões, daí ouvirmos os seus dirigentes referirem-se, de forma recorrente, à existência de um resultado que terá sido fabricado, isto apesar de terem aceite o veredicto final proclamado pela Comissão Nacional Eleitoral.
A prevista e prometida realização das eleições presidenciais em 2009 seria a prova dos noves, para tirar a limpo o resultado de 2008, o que não chegou a verificar-se, depois da polémica reviravolta que o processo conheceu e que atirou para as calendas a realização do próximo pleito. Sou daqueles que acreditam que a real força social e representatividade política da UNITA, está longe de estar reflectida na magra percentagem dos votos conseguida em Setembro de 2008.
Para provar que vale muito mais do que os 10%, a UNITA vai ter agora de esperar, pelo menos, mais 2 anos, estando actualmente o partido a enfrentar, certamente, dificuldades acrescidas a todos os níveis, com destaque para as materiais (financeiras), que condicionam tudo e mais alguma coisa.
Sem a devida valorização deste tipo de impacto nas condições concretas de Angola, corremos o sério risco de fazermos uma apreciação superficial e mesmo injusta da actividade política da oposição. Sem dinheiro já não é possível fazer política. Nem em Angola, nem em sítio nenhum.
Descontando na devida medida este forte condicionamento, acho que a UNITA poderia fazer um pouco mais do que tem feito enquanto força da oposição, o que pode ser explicado pela existência de outros problemas internos que estão a afectar a sua coesão e unidade com o afastamento ou auto-afastamento de muitos dos quadros e militantes que apoiaram Abel Chivukuvuku no último Congresso.
Sem conhecer o estado organizativo e a dinâmica da UNITA a nível nacional, sinto que o partido fundado por Jonas Savimbi não tem sido capaz de produzir factos políticos alternativos com a regularidade necessária e capazes de contrariar a força do cada vez mais omnipresente e omnipotente JES/MPLA.
Sinto igualmente que a mobilização dos seus partidários e simpatizantes não está a produzir os resultados mais satisfatórios em termos de crescimento das suas fileiras.
O último destes factos, que foi a sua estrondosa ruptura com o processo constituinte, acabou por relançar a imagem da UNITA, enquanto principal força da minoritária oposição, restando agora saber como é que ela vai capitalizar este desenvolvimento, que só muito aparentemente terá afectado o seu desempenho e a sua credibilidade, não obstante a feroz campanha de desgaste desencadeada pela comunicação social governamental.
A questão mais sensível que se coloca nesta altura à UNITA, já não é saber que organização temos agora depois do desaparecimento de Jonas Savimbi (JS).
Temos ainda uma organização que está a fazer uma profunda e difícil curetagem em relação ao seu passado, com todas as consequências dolorosas que uma tal intervenção representa e que são visíveis no seu estado actual.
Com JS em vida, é bom que se diga, o actual cenário de luta política pacífica e democrática, seria uma mera e remota hipótese.
A UNITA liderada por Isaías Samakuva nas novas condições políticas resultantes do desaparecimento de Jonas Savimbi em Fevereiro de 2002, está agora confrontada com o dilema da continuidade versus renovação, sem grandes alternativas.
Para outros analistas mais pessimistas, a UNITA pode estar confrontada com um dilema ainda mais complicado, que é o da sua própria sobrevivência política, depois dos raquíticos resultados de 2008.
Após ter realizado já dois congressos (2003 e 2007), a UNITA deverá, de acordo com o seus estatutos, organizar o seu próximo conclave em 2011, isto é, um anos antes das próximas eleições.
Muito dificilmente e depois da humilhante derrota sofrida em 2007, Chivukuvuku aceitará desafiar novamente Samakuva, caso o congresso venha a ter lugar em 2011.
Tudo leva, pois, a crer que vamos continuar a ter uma UNITA com Samakuva na sua liderança, estando assim nas suas mãos toda (e mais alguma) responsabilidade de fazer com que o Galo Negro volte a voar em 2012, diante de um agressivo MPLA que, através do seu novo porta-voz, Rui Falcão, já avisou que o Galo pode voltar a emagrecer.