terça-feira, 29 de junho de 2010

(Flashback/Novembro-2007) Mukanda dirigida aos irmãos da FNLA

[Ponto Prévio: Este texto foi escrito cerca de dois antes da FNLA ter sido "tomada de assalto" pelo Tribunal Constitucional. No essencial o seu conteúdo enquadra-se perfeitamente no momento actual, em vésperas de mais um Congresso dos irmãos desavindos.]
Qualquer angolano que defenda para Angola um regime efectivamente democrático, sabe que este projecto não é viável sem a existência de uma oposição forte, consistente e actuante. Esta oposição pode ter este perfil, mesmo que a dado momento da sua trajectória, os resultados da aritmética eleitoral não lhe sejam os mais favoráveis, que é o que acontece neste momento em Angola na sequência do longínquo pleito de 1992. De outro modo estaremos apenas diante de um regime multipartidário, com o partido no poder a governar a seu bel-prazer e a ditar as suas regras, sem que a opinião pública tenha acesso a outras abordagens em matéria de gestão da coisa pública. Para um regime democrático as coisas complicam-se ainda mais quando a oposição, que já tem graves problemas de representatividade (por ser minoritária), se vê confrontada com crises internas recorrentes em alguns dos seus destacamentos mais importantes. Diante de tantas fragilidades, o partido da situação deixa de ter outros receios mais estratégicos que, normalmente, assaltam os regimes no poder quando se começam a avizinhar as próximas eleições. São as tais favas contadas ou as vitórias antecipadas. Um destes receios é a existência de uma alternativa credível à sua governação que possa convencer o eleitorado a mudar de calças ou a envergar uma outra camisola com cores mais suaves. Do abstracto para o concreto, a crise da FNLA ilustra bem a realidade da oposição angolana que nesta altura está de facto privada de uma formação histórica com um grande potencial eleitoral. Lamentavelmente, a FNLA todos os dias perde votos devido à incapacidade das suas elites em resolverem um diferendo que esmaga todo um projecto, ameaçando já nesta altura a sua própria sobrevivência política. Com a morte de Holden Roberto (HR) uma luz no fundo do túnel, tendo em vista a procura de uma saída urgente para a crise, foi projectada no horizonte, com o início de uma promissora correspondência entre Lucas Ngonda e Ngola Kabangu que fiz questão de destacar num dos meus comentários radiofónicos. A louvável iniciativa que partiu do sociólogo em nome da reconciliação, não parece ter, contudo, encontrado a melhor receptividade junto do engenheiro, pelo que, lamentavelmente, as coisas voltaram à estaca zero. Uma grande oportunidade foi assim deitada pelo cano abaixo. Devo confessar que, pessoalmente, sempre tive mais apreço pela causa do engenheiro, pois via na altura o sociólogo como sendo apenas mais uma arma de arremesso (descartável) que o regime estava a utilizar indirectamente na sua luta contra Jonas Savimbi (JS), visando o seu completo isolamento. Na altura, como estamos todos bem recordados, Holden Roberto incomodava muito o regime por continuar a insistir na tecla do diálogo com JS como sendo a solução para a guerra. Conhecedor que julgo ser do modus operandi (onde se inclui a sua estrutura mental) partilhado pela geração dos três kotas da dipanda, nunca questionei a legitimidade da contestação interna conduzida por Lucas Ngonda, mas de facto achava que ele estava a ser utilizado por forças externas ao seu partido, o que se veio a confirmar plenamente. Após ter sido reconhecido como novo Presidente da FNLA por via da sua nomeação administrativa para o Conselho da República, Ngonda voltou à primeira forma há já algum tempo com a retirada do tapete vermelho que lhe havia sido estendido. Nos dias que passam e depois da morte de HR, mantendo intacta a minha simpatia pelo engenheiro, que acho ser um político de mão cheia com a necessária capacidade de argumentação para enfrentar qualquer situação, sou forçado a dirigir-lhe um apelo com a melhor das intenções. Um apelo que resulta de tudo o que me foi dado a ver, a ouvir e a ler nos últimos tempos, sobretudo no tocante à forma como decorreu o congresso da sua entronização. A todos os títulos lamentável. O apelo é, obviamente, construtivo. Só podia ser, aliás, vindo da parte de quem acha que Angola tem de se reequilibrar rapidamente a todos os níveis, começando pela gestão do poder político, que acaba por ser a chave-mestra desta interminável transição. O apelo é para o engenheiro voltar a ler com mais calma as cartas do sociólogo que (surpreendentemente!!!) quanto a mim, parece ser nesta altura a pessoa que tem uma perspectiva mais reconciliadora e abrangente do dossier, depois de ter ultrapassado as sua ambições mais pessoais com o consequente e voluntário abandono de todo o seu património anterior conseguido em “congressos” unilaterais a par de outras operações menos conhecidas. Apenas isso, antes que o Tribunal Supremo nas suas vestes de Tribunal Constitucional, tome uma decisão em relação ao futuro da FNLA, o que parece cada vez mais iminente depois de ter fracassado de forma estrondosa a tentativa de mediação que teve lugar naquela instância. Seria de facto um golpe de misericórdia termos a FNLA a ser governada interinamente por uma espécie de administrador judicial à semelhança do que acontece actualmente com a AIA, que já foi a maior e a mais esclarecia associação do sector económico nacional. E o que é mais preocupante para a própria FNLA é que o Tribunal já tem essa competência. A última revisão da Lei dos Partidos Políticos entregou expressamente ao Tribunal Constitucional (artigo 28) o poder necessário para dirimir todos os conflitos internos que resultarem da aplicação dos estatutos ou convenções.
(Novembro/2007)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Nova remodelação ministerial à vista?

A informação já circula à boca pequena, embora nenhum jornal este fim-de-semana tenha feito referência à mesma.
As nossas fontes indicam que o novo "furacão" que passará sobretudo pelos executivos provinciais, deverá, contudo, sacudir fortemente pelo menos dois ministérios centrais.
Em termos de datas, tudo pode acontecer nos próximos dias.
De referir que nova Lei da Probidade Pública entra em vigôr esta terça-feira, dia 29 de Junho, devendo a sua implementação levantar sérios desafios a quem de direito e a todos nós que queremos ver para crer. Vivemos num país onde a cultura do deixa andar, do despesismo, da cunha, do cabritismo e da corrupção já faz parte do ADN nacional, particularmente ao nível dos servidores públicos, começando pelo topo da pirâmide, onde ela tem vindo a provocar mais estragos, afectando profundamente a distribuição do rendimento nacional em benefício de uma robusta minoria bastante conhecida nas passarelles da nossa cidade.

OMUNGA lança SOS Uíge...SOS Uíge...SOS Uíge...

INDÍCIOS DE GRAVE SITUAÇÃO SANITÁRIA NO UIGE A associação OMUNGA teve acesso a informação preocupante sobre a situação sanitária na província do Uíge que está a provocar a mortalidade de crianças da regedoria da Kicumba - Lemboa - Damba. De acordo à informação, esteve no local uma equipa médica, não confirmando se da estrutura local ou central do Ministério da Saúde e que simplesmente evacuou os doentes. As informações apontam para o alastramento da estranha doença para outras localidades. Segundo os apelos recebidos, apontam para a necessidade urgente de intervenção, considerando ainda a distância que estas localidades ficam dos centros de saúde mais próximos (apontam mais de 30 Km). Nesta conformidade, tomando em conta que não se tem acesso a qualquer informação através da mídia, e atendendo à possível gravidade da situação, estamos a dirigir uma carta ao Ministro da saúde com o propósito de nos informarmos sobre a realidade, incluindo o pedido do relatório que possivelmente a equipa médica elaborou após a sua visita ao local. Não havendo qualquer interesse de se vir a considerar que o Ministério da Saúde esteja propositadamente a esconder informação sobre a realidade, a OMUNGA vem por este meio solicitar aos órgãos de comunicação social que ajudem a esclarecer a veracidade e permitam a todos os cidadãos o acesso à informação e facilitem a intervenção rápida para pôr cobro à mesma.
(OMUNGA)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Domingos Kiosa, o primeiro embaixador angolano no Ghana

Por ocasião da primeira visita que o Presidente José Eduardo dos Santos realizou ao Ghana desde que Angola se tornou independente já lá vão cerca de 35 anos, veio-nos à memória a figura do primeiro embaixador de Angola junto do Vaticano, Domingos Bernardo Kiosa, que nos idos de 60 integrou o primeiro Comité Director doMPLA, (ainda) na antiga Leopoldville, actual Kinshasa, quando Agostinho Neto e Lúcio Lara (ainda) estavam a caminho do "ÊME", quer dizer (ainda) não tinham assumido as rédeas do movimento.
Pelo que sei deste relacionamento (ou julgo saber), se estivesse na pele de JES não só me teria recordado agora em Accra do cidadão ghanense que lutou nas fileiras do MPLA contra o colonialismo português, como teria evocado a figura de Bernardo Kiosa, por razões que se prendem igualmente com a história.
Estarão certamente, nesta altura, os visitantes deste blogue em pulgas para saber o que é que uma coisa tem a ver com a outra?
Mais concretamente, que é que Domingos Kiosa tem a ver com o Ghana?
Em 2006 numa matéria publicada no Angolense que dedicámos ao falecido nacionalista e diplomata, sob o título "Os camaradas esquecidos/ Da clandestinidade luandense até ao convívio com Kwame Nkrumah" escrevémos o seguinte:
Na sequência da primeira crise que abalou e dividiu profundamente o MPLA, entre viriatistas e netistas, com o encerramento do seu escritório em Lepoldville e a passagem para Brazaville, José Bernardo Domingos Kioza, opta por um outro destino africano mais distante das nossas fronteiras, que o leva até a capital do Gahana, Accra. As relações com Agostinho Neto complicam-se com esta decisão de Domingos Kioza em não seguir para Brazaville. Na altura ele já dirigia o Departamento de Informação e Propaganda do Movimento, nomeado por Neto. Na capital ganense onde se torna conselheiro de Nkwame Nkrumah para os movimentos de libertação e chefe da secção portuguesa da Rádio Accra, Domingos Kiosa transforma o referida rádio numa voz do MPLA e recupera posteriormente as relações de amizade com Agostinho Neto. A sua casa era o ponto de passagem obrigatório para todos os angolanos que transitavam por aquela “Meca” do pan-africanismo. Rezam as nossas fontes que Kioza volta a desentender-se com Agostinho Neto em 1970 por razões ideológicas. O nacionalista decide nesta sequência abandonar a militância activa apostando na neutralidade e no ensino, com as atenções particularmente voltadas para a angariação de bolsas de estudos para os jovens angolanos junto das instituições afectas ao sistema das Nações Unidas. Em 71 troca o Gahana pela Nigéria onde continua a trabalhar no sector da educação e onde permanece até ao seu regresso definitivo a Angola em 1991. O Governo francês, em diploma passado pelo seu Primeiro-Ministro, atribui-lhe em 1977 a distinção de “Chevalier dans l´Orde des Palmes Académiques” pelos serviços prestados a cultura francesa.
Pelo que aqui fica recordado em mais um flashback, pensamos haver razões mais do que suficientes para JES evocar a figura de Domingos Kiosa no decorrer da sua primeira visita oficial ao Ghana. Não o fez.
Fazê-mo-lo nós in memoriam de um ilustre filho de Angola, que foi José Bernardo Domingos Kiosa (1929-2002).

Angola, o exemplo do Ghana e Barack Obama

«O Chefe de Estado angolano assinalou que o Ghana tem sido citado também pelos países ocidentais como um exemplo a seguir no domínio do processo democrático e da gestão económica e financeira. "Aceite as nossas felicitações por essas grandes conquistas do povo do Ghana e do seu Governo", concluiu
Fonte: Angop
"Ao decidir comprar sua primeira passagem para a África Subsaariana como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama não escolheu um destino aleatório. Voou para Accra para prestigiar uma das democracias mais saudáveis do continente. Gana é hoje uma inspiração para a África, exemplo de que ela pode, sim, caminhar com as próprias pernas. E, devagarzinho, se sair bem. Comecemos pelo final da história, nas últimas eleições, em 2008.
O então presidente, John Kufuor, respeitado dentro e fora do país, saiu do governo depois de cumprir a reeleição a que tinha direito.
Sim, parece simples, óbvio, mas o histórico africano mostra que um líder deixar o poder numa boa é raro. Kufuor, claro, tinha seu candidato. E numa eleição apertadíssima, com menos de 1% de diferença no segundo turno, o homem do presidente perdeu para John Atta Mills.
Não houve fraude, jeitinho, golpe, a vontade do povo simplesmente foi respeitada.
Mills assumiu o cargo como manda o figurino e está lá até hoje. Ponto para Gana." Fonte: Globoesporte
Foi no Gahana em Julho do ano passado que Barack Obama disse:
"Nenhum país cria riqueza se os seus líderes exploram a economia para se enriquecerem a si próprios – ou se a polícia – se a sua polícia é passível de ser comprada pelos narcotraficantes. Não há empresa que queira investir num local onde o governo, à partida, retém 20 por cento dos lucros, ou onde o director das Autoridades Portuárias é corrupto.
Ninguém deseja viver numa sociedade em que o Estado de direito é preterido a favor da brutalidade e do suborno.
Isso não é democracia; isso é tirania, mesmo se de vez em quando se realiza uma ou outra eleição. E chegou o momento de pôr cobro a este tipo de governação.
(...)
Não tenhamos dúvidas: a História está do lado destes corajosos africanos e não daqueles que fazem golpes de Estado, ou alteram as Constituições, para se manterem no poder.
África não precisa de indivíduos poderosos mas, sim, de instituições fortes."
(...)
Apesar de todas as dificuldades, o presidente Barack Obama reafirmou a sua esperança em que, em África, neste século XXI, "instituições capazes, transparentes e em que possamos confiar" irão dar vida à democracia, com "parlamentos fortes e forças policiais honestas; juízes e jornalistas independentes; com um sector privado e uma sociedade civil vibrantes".

quarta-feira, 23 de junho de 2010

As novas tendências quixotescas de um certo jornalista

Este cartoon foi inspirado pela seguinte citação:
"Mas também [o Semanário Angolense] não se armará no papel de Dom Quixote e o seu escudeiro Sancho Pança, investindo inutilmente contra os moinhos de vento desta Angola"
-Graça Campos in "O meu «testamento»"-SA,Edição 370.Ano VII, 5/06/10

terça-feira, 22 de junho de 2010

(Flashback/Junho-2001) O marketing como solução para os problemas nacionais

Num esforço apontado para o melhoramento da sua imagem que tem, contudo, implicado o dispêndio de vários milhões de dólares, o Governo angolano descobriu nos últimos tempos, com a sua assessoria brasileira, o “paraíso” do marketing político, com que volta e meia se produz junto da opinião pública com campanhas de embelezamento entre permanentes e pontuais. A Televisão tem sido o veículo principal desta nova aposta governamental, com que se pretende contrariar o tom, tido como demasiado catastrofista das apreciações sobre a situação global do país, feitas pela oposição mas não só. A imprensa privada e os seus jornalistas são igualmente responsabilizados pelos círculos oficiais de contribuírem decisivamente com as suas informações, comentários e análises, onde o destaque é dado apenas aos aspectos negativos da governação. Este “esforço” na área do marketing político, corresponde em principio a uma “legítima defesa” do regime de José Eduardo dos Santos, que deste modo tenta contrariar a onda de “catastrofismo” que grassa pelo país real com doses industriais de “positivismo mediático”. Até dizer basta! Definitivamente, segundo os adversários políticos do MPLA, não é envernizando as unhas ou pintando os lábios com sorrisos televisivos que Angola vai vencer. Enquanto o país não melhora, o que parece tardar, a receita tem de ser para já virtual, embora seja bastante real, como já se disse, a fatia do orçamento destinada a este tipo de tratamento cosmético altamente sofisticado, a ter em conta os valores disponibilizados. Presume-se que com o dispêndio de tão elevadas somas do OGE o tratamento seja altamente eficaz, embora até agora os resultados práticos não demonstrem exactamente isso. Antes pelo contrário. Alguns partidários deste tratamento cosmético, discordam contudo da forma como ele tem estado a ser implementado, numa alusão a presença neste novo segmento do mercado de uma conhecida agência publicitária brasileira. Eles acham que seria antes de mais para o reforço das capacidades nacionais na área da comunicação social, que as milionárias verbas actualmente destinadas ao exterior, deveriam ser canalizadas. Eles não compreendem, por exemplo, como é que a principal estação de rádio governamental não esteja ainda devidamente informatizada, o que em seu entender melhoraria bastante a prestação dos seus quadros, quando chamados a desenvolver outras intervenções em defesa da imagem do regime que tão pouca atenção lhes presta na hora da divisão do bolo. Espera-se que com a recente aprovação do Código de Publicidade a balança venha a pender um pouco mais para os publicistas locais na distribuição dos envelopes governamentais. Acontece que a nova lei parece ser omissa em relação ao tratamento especifico da propaganda política, pelo que ainda haverá possivelmente necessidade, um dia destes, se calhar, de elaborar um Código da Propaganda Política.
Junho 2001

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago, Muhammad Yunus e Eduardo dos Santos

José Sarmago de Portugal, Prémio Nobel da Literatura 1998.
Morreu hoje na ilha de Lanzarote, Espanha.
Muhammad Yunus do Bangladesh, Prémio Nobel da Paz 2006.
Está vivo.
José Eduardo dos Santos de Angola é Chefe de Estado há mais de 30 anos.
Está vivo.
E agora, o que é que os dois têm a ver com com o Presidente José Eduardo dos Santos e com Angola?
Em principio quase nada. Apenas uma mera circunstância.
Em épocas distintas, os dois estiveram em Luanda. O primeiro em 1999 e o segundo o mês passado. Nenhum dos dois foi recebido pelo Presidente José Eduardo dos Santos.
Na próxima semana visita-nos um outro Nobel, o Prémio Nobel da Economia 2008, o norte-americano Paul Krugman (PK), que é tido como sendo o colunista político (New York Times) mais influente dos EUA.
Pode ser que PK tenha um pouco mais de "sorte" que os seus dois anteriores colegas.
PS- Na matéria que a TPA dedicou esta quinta-feira à morte de Saramago, sentimos quão importante foi a tal mera circunstância.
Se JES tivesse recebido JS, a matéria que é global, iria certamente ser preenchida pela imagem do encontro entre os dois, a projectar da melhor forma a imagem do Presidente angolano ao lado de um dos maiores ícones da literatura mundial.
Não é todos os dias que se tem e se perde uma tal oportunidade.
JES deitou-a fora.
PS1- Na mesma semana em que o "Banqueiro do Povo" como também é conhecido Muhammad Yunus, esteve em Luanda, JES recebeu em audiência o empresário português, José Récio (JR), a quem o governo angolano fez mais uma generosa concessão de valiosos terrenos na Barra do Kwanza para o desenvolvimento de uma urbanização turística de alta renda, entenda-se para os novos ricos locais e para os seus "colegas" do estrangeiro.
Récio disse que o investimento que é totalmente privado está orçado em 600 milhões de dólares.
JR ficou famoso pelas piores razões pelo fracasso do "seu" Projecto Baía que acabou por ser viabilizado financeiramente por capitais públicos que andam por aí disfarçados em vários bancos privados.
PS2- Cavaco Silva foi o grande ausente nas cerimónias funebres de José Saramago. Foi a sua vingança de chinês. O Nobel da Literatura, em vida, referiu-se uma vez ao Professor como sendo um mestre das banalidades. Cavaco nunca lhe perdoou tamanha "estiga" e deu-lhe agora na "hora di bai" um troco, que os portugueses não estão a digerir muito bem.
De facto é pouco aceitável que a principal figura do Estado português tenha estado ausente das cerimónias fúnebres oficiais (de estado) daquele que pode ser considerado o português mais famoso a nível mundial, pelas melhores razões.
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Flashback/Setembro 1999
Quando Saramago esteve em Luanda
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Luanda acolheu durante alguns dias o Prémio Nobel da Literatura 98, o escritor português José Saramago que começou por surpreender tudo e todos ao afirmar que não gostava de utilizar a palavra lusofonia por falta de conteúdo histórico do referido étimo. Sem se assumir como um lusófobo, Saramago explicou que a Lusitania do passado, onde há mais de 800 anos viveu um tal de Viriato, era um espaço geográfico que englobava o que é hoje parte de Portugal e parte da Espanha. Daí que em seu entender não faz muito sentido a utilização do termo lusofonia, para designar apenas o universo dos falantes da língua portuguesa. Sem uma solução alternativa, já que a utilização de “portugalofonia” seria simplesmente desastrosa até em termos estéticos, José Saramago ficou-se pelo “mundo dos que falam português”, onde ele é, nos dias que passam, possivelmente, a pessoa mais conhecida pelo resto dos outros mundos. O Prémio Nobel da Literatura 98 o escritor português José Saramago deixou terça-feira (14/8) Luanda com destino a Maputo, no final da sua primeira visita a Angola, iniciada na passada sexta-feira. Por razões óbvias, chamou particular atenção o facto do comunista José Saramago não ter sido recebido pelo Presidente Eduardo dos Santos, apesar do encontro ter estado programado, embora não tivesse sido fixada nenhuma data. A sua concretização ficou dependente do surgimento de uma “brecha” no calendário presidencial, que pelos vistos não veio a acontecer. Surpreendentemente. Por razões que não nos foi possível apurar, o Presidente Eduardo dos Santos acabou por não conhecer pessoalmente o primeiro Nobel da Literatura de expressão portuguesa, apesar de Saramago ter estado em Angola durante mais de quatro dias. Várias são as leituras que se podem fazer desta “lacuna”, sendo a menos plausível aquela que apontará para as já famosas e oficiais “razões de calendário”. Em tempos de “clarificação política”, algo de mais substancial terá estado provavelmente na base da “recusa” do Futungo de Belas em ter como hospede durante alguns minutos uma personalidade com o actual nível internacional e mediático de José Saramago. Para além, naturalmente, de toda a “lusofonia” que aparentemente nos une e nos enche de orgulho como membros de uma tal de CPLP, por termos pela primeira vez na história universal alguém galardoado com o Nobel da Literatura. De facto não é bem um acontecimento rotineiro ter entre nós uma tal individualidade.
Setembro 1999

Mukanda para um simpático provocador anónimo

"Anónimo disse... Sr. Wilson Dada, deixa de estar a defender e a congratular algo que ainda não se realizou...Nós sabemos que a Carolina Cerqueira é sua COMADRE...E que todos comentários, matérias, rubricas, etc que você tecer de maneira positiva terá impacto positivo em algum lado na sua vida pessoal...Deixe de materialismo...Continue sempre firme, como sempre foi!!! O anónimo!!!Um abraço. 17 de Junho de 2010 10:16"
Apresentada a provocação que nos foi gentilmente (?!?) enviada na última quarta-feira, passemos à anunciada mukanda da nossa epígrafe.
Caro Anónimo(a),
As melhores saudações e votos de que se encontre a gozar a melhor das saúdes deste mundo, (onde se inclui necessariamente e sobretudo a financeira) ao lado de todos os anónimos entes queridos que o/a rodeiam, a quem também quero endereçar colectivos e sinceros votos de prosperidade e felicidade.
A distribuição do rendimento nacional numa base minimamente racional seria mais do que suficiente para nenhum angolano ter preocupações com a sua saúde financeira. Infelizmente a justiça social ainda não faz morada entre nós e pelos vistos não vai fazer tão cedo.
Antes de mais devo confessar-lhe que não é nada fácil trocar "galhardetes" com um provocador anónimo, por razões que me/lhe parecem ser demasiado óbvias.
Decidi, entretanto, responder-lhe de forma tão aberta e destacada por me parecer ser (sétimo sentido!?!) uma pessoa bem intencionada, que em principio não terá nada a ver com (des)conhecidos patrulheiros que, de quando em vez, fazem a sua intervenção no "nosso Pravda", com as armas apontadas para os alvos de sempre. Agora as armas são as outras. Agora o dinheiro resolve de outra forma (mais higiénica) os problemas criados pela liberdade de expressão.
Como o anonimato é um instituto que a lei protege em nome da própria liberdade de imprensa, não estaria a ser coerente comigo mesmo, se questionasse a sua legitimidade em "alvejar-me" a partir da sua desconhecida trincheira.
Aqui chegados, começaria por agradecer-lhe o elogio vísivel na referência à "firmeza", como sendo um elemento estruturante da minha própria personalidade.
Partindo do principio que me conhece razoavelmente bem, esta alusão parece fazer algum sentido.
Devo, contudo, reconhecer que às vezes sou mais teimoso do que firme, pelo que talvez possamos estar apenas diante de um defeito, que, por sinal, não me tem "facilitado" muito a vida num país esquemático (real) chamado Angola, o que poder ser rapidamente confirmado pela minha trajectória profissional e pessoal.
Passemos agora ao "compadrio" com a Ministra e os benefícios pessoais que espero retirar deste relacionamento pessoal. Aqui reside claramente o cerne da sua provocação que eu dividiria em duas partes. Uma parece-me ser salutar, mas a outra é demasiado rasteira e bem poderia ter ficado na sua algibeira.
De facto somos compadres e amigos há mais de 25 anos. Está pois de "parabéns" por ter acertado em cheio. No chamado jornalismo tabloide (sensacionalista), isto até poderia ser transformado num grande "furo" com direito à manchete e tudo. Só espero é que não me acuse de ter convidado a CC para ser minha comadre já com o palpite em relação à possibilidade de ela vir a ser 25 anos depois MCS.
Se por acaso tem prestado alguma atenção ao que escrevo e digo sobre o desempenho da nossa comunicação social e dos seus protagonistas, o que já faço há mesmo muitos anos, como colunista, mas não só, deveria reparar que, quando o anterior titular (MR) foi nomeado, eu fui uma das pessoas a encorajá-lo a mudar de rumo ao mesmo tempo que crticava duramente a anterior gestão de VN. Não poderia ser de outra forma, tendo em conta o seu asfixiante desempenho.
E fí-lo numa perspectiva optimista, contrariando de algum modo o meu pessimismo genético, que acaba por ser o meu melhor e mais objectivo conselheiro.
Sempre que me afasto dele em Angola, normalmente tenho-me dado mal com os meus prognósticos e as minhas apostas, o que voltou a acontecer com o consulado de MR, que acabou por "parir" um rato demasiado pequeno e decepcionante para as elevadas expectativas iniciais que eu alimentava em relação à tão ansiada mudança. As ingenuidades pagam-se caro.
O balanço da gestão MR ainda está por fazer, mas já não tenho a mínima dúvida quanto ao tamanho descomunalmente pequeno do ratinho parido pelas suas opções.
Diante do novo quadro que resultou do inesperado afastamento de MR e do surpreendente surgimento de CC, uma vez mais a minha postura tem sido apenas de encorajamento e não de elogio ou de "congratulação" para usar a sua expressão, pelo que não concordo muito com o meu anónimo provocador.
Em relação à suposta "defesa", o pouco ou quase nada que eu tenho escrito (denunciado) sobre o assunto, prende-se com a existência de uma "conspiração" contra a pessoa de CC que está a ser urdida por elementos descontentes com os novos rumos do MCS e que estão sobretudo entrincheirados na RNA e na TPA.
Se isto constitui uma "defesa da minha dama", assim seja, pois tem toda a liberdade de chegar a uma tal conclusão. Eu também tenho a mesma liberdade de denunciar o que de menos transparente acho se está a passar actualmente nos bastidores, depois de CC ter sido nomeada.
Seja como for, agradeço-lhe o "reparo", estando perfeitamente de acordo com todos aqueles que acham que os prognósticos só se devem fazer mesmo no fim dos jogos para reduzirmos a margem do erro a zero.
É o que eu vou continuar a fazer.
É o que, mal ou bem, tenho feito, pelo que a única coisa que lhe peço é que não confunda a árvore com a floresta e sobretudo não faça acusações/insinuações gratuitas.
O encorajamento não é um cheque em branco, documento que há mais de 30 anos deixei de passar seja a quem fôr neste país.
Sou daqueles que, em definitivo, acredita no papel altamente estruturante da crítica e do debate em qualquer dimensão da vida, como condição indispensável do progresso e da procura das melhores soluções para os problemas nacionais, que continuam a ser mais do que muitos.
A sua ausência explica em grande medida a desastrosa trajectória que a Nação angolana tem conhecido.
Atenciosamente,
RS/TA/WD

Assim estaria um pouco melhor...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Kapossoka para a comunicação social

Pela primeira vez e por ocasião do acto que marcou a passagem do 20º aniversário do Ministério da Comunicação Social assistimos a um concerto de música clássica protagonizado por uma orquestra constituída básicamente por crianças angolanas (violinos/violoncelos), com a agradável surpresa de entre os seus executantes se encontrar uma sobrinha minha. A orquestra chama-se Kapossoka e está ligada em termos institucionais à administração muncipal da Samba, que desde já tem o grande mérito de ter idealizado e concretizado o projecto, que tem à sua frente uns três ou quatro "caras", que têm todo o ar de ser filipinos.
Durante mais de meia hora fomos brindados com vários temas, incluíndo o Hino Nacional e o Muxima.
Se por alguma razão jamais me poderei esquecer deste aniversário do MCS, estou certo que será, certamente, pela actuação da Orquestra Kapossoka e pelo significado profundo que ela representa em termos mais gerais no âmbito das opções que as nossas crianças têm disponíveis para além da escola.
Com o Kapossoka fiquei um pouco mais descansado em relação ao futuro dos nossos putos.
Com o Kapossoka, lembrei-me de uma "praga" chamada kúduro e voltei a ter esperança.
Ainda nada está perdido.
Ainda é possível que os nossos jovens se voltem a interessar e a aprender a música conforme ela foi concebida pelos clássicos.
Faz falta no meio de tanta barulheira, de tanto disparate, de tanta agressividade, de tanta mediocridade.
Que venham pois mais Kapossokas que eu já não aguento mais com tanto kúduro.
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2 comentários: JCRC disse... Aí está uma bela iniciativa da (minha) administração da Samba. A badalada reforma escolar inclui o ensino da música nas classes primárias? Se não, é mais uma falha das tantas que o ministério esconde.Para completar seria útil a edificação de uma Opera House dígna de apresentações deste género e não só, aposto que serveria melhor o país do que uma vila paradisíaca a beira do rio Kwanza.Abraço e bom fds.P.S.: Gostei da nova cara do "morro". 18 de Junho de 2010 09:43 Koluki disse... Os meus parabens aos kanukos da Orquestra Kapossoka e seus criadores...Sem pretender trazer para aqui as minhas "makas de sanzala" (leia-se "posicoes algo controversas", ou "mal compreendidas", ou simplesmente "pouco confortaveis" para alguns) sobre este tipo de questoes, gostava apenas de reiterar que nao tenho nada contra a musica classica (muito pelo contrario...) - o que tenho contra e' que se fale em "musica classica" apenas em referencia a "musica classica europeia". Assim, o que esses jovens tocam sao "instrumentos musicais classicos" ou "musica classica", tal como "os classicos europeus os conceberam".Ha' instrumentos classicos africanos como a kora, a marimba e o kissange que, quando tocados tal como "os classicos africanos" os conceberam podem ter o mesmo efeito melodico e orquestral que os violinos, violoncelos e pianos "classicos europeus" (o mesmo se poderia dizer de instrumentos classicos de outras culturas, como o sitar, ou o santoor da musica classica indiana, por exemplo).O ideal, quanto a mim, seria que, especialmente nos paises africanos como Angola, se cultivassem de forma pelo menos igual os classicos africanos e os classicos europeus, entre outros.Quanto ao Kuduro... bem, isso e' outra conversa (mas tenho a certeza que os kuduristas se saberao defender melhor do que eu)! 18 de Junho de 2010 18:38

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Carolina Cerqueira com luz verde (do BP) para romper com o passado

"O jornalismo investigativo no âmbito da reconstrução nacional", foi o tema da palestra que a jovem licenciada Ana Luísa Silva teve a responsabilidade de nos apresentar no super-lotado anfiteatro do CEFOJOR, numa iniciativa do Ministério da Comunicação Social (MCS) que este mês está a celebrar o 20ºaniversário da sua criação.
Tema da maior importância e oportunidade que até agora não havia ainda conhecido o espaço do debate profissional, a traduzir bem (mal) a ausência entre nós do próprio género/método, onde ele deveria ser transversal a todas as editorias, não só como espírito, mas também como letra de uma praxis diária a ser assumida com naturalidade pelos jornalistas e incentivada pelos editores.
De uma forma geral o propósito do método investigativo é retirar do jornalismo a superficialidade e o imediatismo que lhe são inerentes, para lhe conferir a consistência, densidade e profundidade que as sociedades democráticas exigem deste "quarto poder", evitando-se assim que ele fique refém das estratégias da propaganda, da manipulação, da desinformação e das manobras dos gabinetes de relações públicas.
["Diz-se justamente que um artigo tenta responder a algumas das seis perguntas fundamentais: quem? o quê? onde? quando? como? porquê?
A investigação vai apenas um pouco mais longe reformulando cada uma dessas perguntas de maneira mais incisiva.
Mas quem é então verdadeiramente o actor deste acontecimento?
Que é que se passou exactamente e em pormenor?
Qual é o lugar exacto onde se desenrolaram os factos?
Qual foi o emprego do tempo dos actores?
Como é que funciona o sistema que está no coração do acontecimento?
Porque é que pôde ocorrer?
O quotidiano da actividade jornalística é muitas vezes repetitivo, ao ponto de o seu sentido profundo não ser visível à primeira vista. Aí está a investigação para o revelar."
-Jacques Mouriquand in "O jornalismo de Investigação" Editorial Inquérito 2002]
Apesar da sua juventude, Ana Luísa Silva esteve a altura do tema com o lançamento de várias "flechas editoriais" em direcção a uma plateia recheada de algumas conhecidas "raposas velhas" do jornalismo oficial.
Apenas duas intervenções, a nossa e a da Xana Aragão da Angop, quebraram o sintomático silêncio que se apoderou de todos os "séniores" que encontravam presentes esta terça-feira no CEFOJOR. As restantes questões foram colocadas à palestrante pelos "juvenis e juniores", todos eles estudantes de comunicação social.
Vinte anos depois quase que somos tentados, por esta e por outras iniciativas do género, a afirmar que está a nascer um novo MCS sob a batuta de Carolina Cerqueira, nesta altura sujeita a um intenso e agressivo fogo cruzado por parte de destacados membros do "ancién régime", que com grandes saudades do passado recente, sentem o terreno das mordomias, dos privilégios, dos desvios, da má gestão e da locupletação a fugir-lhes a cada dia que passa.
Parece agora só faltar mesmo o quase.
Do todo poderoso Bureau Político do MPLA (já foi muito mais), de que é membro, Carolina Cerqueira acaba de receber a luz verde para ir em frente, para fazer a ruptura definitiva com o passado, para (tentar) acabar com mais um pesadelo que foi a gestão das empresas públicas do sector.
Com efeito e de acordo com a Angop, o Bureau Político do MPLA apreciou, na sua quarta reunião extraordinária, realizada segunda-feira em Luanda, a proposta de Estratégia e Políticas de Desenvolvimento da Comunicação Social para 2010/2012. Nesta sessão, orientada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, o Bureau Político do MPLA considerou prioritário o saneamento das empresas públicas da Comunicação Social, a aprovação dos seus estatutos orgânicos e a adopção de contrato-programas, para uma gestão mais racional e profissional do sector. O BP incentivou o Ministério da Comunicação Social a trabalhar para uma imprensa cada vez mais isenta, independente e responsável, no quadro de um Estado Democrático e de Direito, assim como a valorização e dignificação do profissional do ramo. Carolina Cerqueira tem agora em suas mãos a "carta de alforria" que precisava para abordar com mais confiança e determinação, agora já na fase de implementação, o seu projecto num sector onde os seus detractores/adversários/inimigos são mais do que muitos e até agora ainda não deram sinais de terem atirado a toalha para o chão.
Antes pelo contrário.
De facto e tendo em conta o conteúdo desta reunião do BP com todas as suas envolventes e consequências, tudo leva a crer que Carolina Cerqueira vai acelerar o passo, numa altura em que o descrédito já se estava a apossar novamente da classe jornalística (mas não só) em relação ao surgimento de uma nova etapa na vida no MCS, sobretudo de ruptura com um passado tão tormentoso.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O grande erro (teórico) de Albert Einstein!

Ao físico Albert Einstein(14 Março1879/18Abril 1955) foi atribuída a seguinte citação: "O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no diccionário." Ele enganou-se redondamente, porque há pelo menos mais um outro lugar no mundo onde tal acontece, com uma frequência preocupante. Este lugar chama-se Angola! Mas de facto, temos de concordar, mesmo para um "mago" da dimensão do "nosso" Alberto, não era fácil adivinhar que iria nascer em África um país com características tão originais, tão especiais.

(Flashback/Junho 2008) Institucionalizar o diálogo com a imprensa privada

O Ministério da Comunicação Social (MCS) realizou recentemente a sua jornada anual de trabalho e reflexão com os ingredientes habituais que já fazem parte desta movimentação institucional. O Governo, refira-se, é particularmente atento ao fenómeno mediático por razões relacionadas com a estratégia de poder, que tem a ver com a sua sobrevivência política e a preservação da sua imagem. Imagem, note-se, não é exactamente aquilo que somos, mas é o que pretendemos que as pessoas acreditem que realmente somos ou que podemos vir a ser. Uma vez mais, aqui estamos a (re)clamar no deserto, para dizer que um destes ingredientes, que tarda em ser considerado habitual, é o diálogo construtivo com a comunicação social privada e com as associações de jornalistas que deveria de facto e de jure ser institucionalizado no quadro desta consulta anual que o MCS leva a cabo por ocasião do seu aniversário. É um diálogo absolutamente necessário até por força da actual lei de imprensa que, em termos de deveres e direitos, não estabelece qualquer diferença entre a comunicação social pública e privada. Elogiámos aqui, no seu arranque, o actual consulado de Manuel Rabelais (MR) por ter sabido, rapidamente, inverter a anterior orientação do MCS, numa altura em que o ministério que tinha herdado, era apenas da comunicação social estatal/governamental. Mais grave do isso, era um ministério que hostilizava abertamente a imprensa privada e estimulava a repressão com o seu silêncio. A gestão do antecessor de MR decorreu numa apertada conjuntura politico-militar que também não lhe permitiu um outro jogo de cintura mais arejado, embora este condicionamento não lhe retire, de todo, a responsabilidade política dos ombros.É nosso entendimento que quando não se está de acordo e não se tem possibilidades de alterar a situação, a melhor solução é a demissão. De outra forma, não temos como nos demarcar da conjuntura. Estamos com ela. Afundamo-nos com ela. Este ano[2008], sentimos particularmente a necessidade do diálogo do MCS com o sector privado, depois de ter sido dado a conhecer que já estava elaborado o projecto de diploma que vai regulamentar os incentivos de apoio à comunicação social. Fazia pois todo o sentido que o projecto fosse dado a conhecer a todos, embora nos tenham dito que o mesmo foi o resultado de consultas preliminares e abrangentes. Seja como for e enquanto o MCS se mantiver no nosso ordenamento institucional /governamental, iremos continuar a defender uma maior abrangência do seu relacionamento com todos os protagonistas do sector em nome do espírito da concertação social que o Governo já adoptou ao mais alto nível. Um relacionamento que deve, entretanto, possuir balizas próprias de orientação e pernas sólidas para se movimentar com alguma determinação, para além da resolução de questões pontuais relacionadas com necessidades e carências. De outra forma, será mais um “show-off”, dos muitos que andam por aí, sem grande utilidade, nem sustentabilidade. Mais um descartável!

domingo, 13 de junho de 2010

O quê que o MPLA anda a fazer?

Para quem não sabe, o Bengo é uma província "inventada" por Agostinho Neto em 76 que fica situada bem ao lado da toda poderosa e centralizadora Luanda.
A sua capital, Caxito, fica a pouco pouco mais de 60 kilometros, à norte de Luanda. No Bengo, o SG do MPLA, Dino Matrosse, elogiou o trabalho que o seu partido está a fazer naquela região, para depois, estranhamente, concluir que os resultados de tal acção, na prática, estão muito próximos do menos zero em matéria de consequências sociais positivas para as suas populações.
Nas liminares declarações que prestou à imprensa, está bem patente um franciscano balanço recheado de ausências que vão do inexistente abastecimento de água potável até à energia passando pela educação e pela exclusão escolar.
Pior retrato não poderia ter sido feito da própria governação do MPLA, 35 anos depois do país se ter tornado independente e 8 anos depois das armas se terem calado definitivamente. Se o Bengo está assim, imaginem só o resto do país, imaginem só o resto da Angola profunda...
Não admira pois, que se mantenha o êxodo rural em direcção à Luanda, onde cada vez mais a situação se vai tornar insustentável e explosiva (já é nesta altura, embora ainda não o pareça), tendo em conta a crescente pressão demográfica sobre os equipamentos sociais, com destaque, certamente, para a habitação condigna que já é uma miragem para a esmagadora maioria das famílias pobres que hoje (sobre)vive na capital angolana entre as fronteiras do desespero e as barreiras de uma (re)pressão administrativa e policial permanente.
O desmantelamento do mercado Roque Santeiro (RS), com todas as consequências sociais desastrosas que se adivinham, é apenas e só, o último exemplo desta pressão continuada das autoridades sobre a economia das famílias mais pobres que habitam Luanda.
Não sendo de todo aceitável manter eternamente e nas actuais condições o gigantesco e caótico mercado, parece-nos ser absolutamente pertinente questionar quem de direito sobre o impacto de tal desmantelamento no frágil equilibrio social de Luanda, onde a maior parte da sua população obtém os seus raquíticos rendimentos mínimos através do comércio de bens e serviços.
O Roque Santeiro é, claramente, a maior bolsa livre da actividade económica luandense que se conhece na capital e em todos os seus arredores.
Como alternativa e do ponto de vista de uma abordagem económica mais séria, a transferência para o distante e inacessível Panguila de uma tal "bolsa de valores e derivados", só pode ser uma brincadeira de muito mau gosto...
É sobre todas estas e outras questões, que o MPLA tem de saber reflectir, de preferência em voz alta e com a promoção do recomendável debate público contraditório.
Uma reflexão necessáriamente profunda e frontal em nome da salvaguarda dos interesses mais estruturantes da nossa cada vez mais desequilibrada e injusta sociedade, onde, a manterem-se as actuais tendências, só se pode estar a caminho de um novo e perigoso conflito.
De pouco adiantará coleccionarmos casas em condomínios luxuosos, viaturas topo de gama, fazendas de sonho, milhões em contas privadas, se pelo caminho formos assaltados pela cada vez mais violenta mancha da pobreza e da exclusão social.
"Vamos fazer de Angola um país bom para se viver", foi uma das palavras de ordem mais simpáticas que já ouvimos sair da boca do líder do MPLA.
Assim, como as coisas se apresentam, não vamos, certamente, pelo menos se pensarmos em todos os angolanos, sem exclusões, nem discriminações.

Desclassificados (2)

sábado, 12 de junho de 2010

Semanário Angolense "desmente" o novo Patrão

A "errata" que o "novo" Semanário Angolense, dirigido agora pela dupla Severino Carlos/Silva Candembo, publicou esta semana é no mínimo muito estranha, para não utilizarmos outros adjectivos que seriam mais adequados em nome da transparência.
É uma "errata" que desmente categóricamente o comunicado oficial da então desconhecida Media Investments, que o próprio SA deu à estampa na edição anterior com honras vermelhas de primeira página.
Nesta "errata" o SA diz que afinal de contas a Media Investments só comprou o Semanário Angolense, tendo a Capital e o Novo Jornal sido adquiridos "por outras empresas, cujos nomes não conseguimos apurar".
De facto e no mínimo, esta atabalhoada "errata" é uma brincadeira muito pouco digna de um projecto que se apresenta como sendo líder do mercado.
A responsabilidade desta pretensão, como é evidente, não é nossa.
Claramente eu já percebi, entretanto, as razões que se escondem por trás desta "errata", que terei a oportunidade de partilhar com os visitantes deste Morro dentro de mais alguns dias, enquanto tento apurar os nomes das tais outras empresas.
Para inicio de um novo ciclo, o SA começa muito bem, para não variar.
Os desmentidos, quer ao abrigo do direito de resposta, quer por iniciativa própria (rectificações/erratas/pedidos de desculpa), como se sabe, foram um dos pontos mais "altos" da anterior gestão editorial.
A certa altura, eram uns atrás dos outros, semana sim, semana também.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mundial começa com violência, bebedeira e morte

De facto a festa ainda não começou, mas a questão que se coloca já é saber como é que vai terminar. Pelo andar da violenta carruagem sul-africana, os prognósticos não podem, obviamente, ser os melhores. Aqui fica o registo de alguém extremamente preocupado que teme o pior, a poucas horas do Mundial ter inicio, sem a presença do Kota Madiba e a ausência definitiva da sua canuka(bisneta) Zenani. Com mais de 90 anos, Mandela prepara-se para enterrar uma jovem com 13, por causa da irresponsabilidade de um bêbado que conduzia a viatura e que, ao que sabemos, ainda por cima, desconseguiu de morrer.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Empresas Públicas: O pesadelo segue dentro de momentos...

TPA Internacional em silenciosa reflexão

"Por motivos de ordem técnica alheios à ZON, a emissão encontra-se temporariamente interrompida. Pedimos desculpa pelo incómodo".
Há muito mais de uma semana que em Portugal e no resto do mundo, não é possível ver-se Angola através da TPA-Internacional.
Como é evidente Angola não deixou de existir, mas a TPA-Internacional, claramente, desapareceu dos "radares".
Para além das oficiais "razões técnicas", admite-se que este temporário "desaparecimento" também possa ter a ver com a existência de problemas financeiros com um senhorio chamado Satélite.
Será uma "avaria financeira"?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Desclassificados (1)

Alves da Rocha afastado do Ministério do Planeamento?

Segunda-feira tive acesso a informação segundo a qual Alves da Rocha (AR) teria sido abruptamente afastado do Ministério do Planeamento (MP) onde é consultor há cerca de duas décadas.
Soube depois que Alves da Rocha não se encontrava em Luanda.
Ainda não me foi possível confirmar junto de quem de direito, se de facto os préstimos do conhecido economista e professor universitário foram mesmo dispensados pelo MP.
O que é facto para já é que, tudo o que de menos positivo vier a acontecer no relacionamento de AR com o MP só pode ter uma explicação.
E esta explicação está na Internet, no site da Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/740451-reconstrucao-de-angola-precisa-alcancar-o-estado.shtml) onde o SA foi "descobrir" uma verdadeira bomba que publicou na última edição da sua primeira fase, antes de ser engolido pelo "papão dos pasquins".
["A sensação que se tem é que a taxa de desemprego é muito elevada. O governo no relatório que acabou de ser aprovado em conselho de ministro de execução do plano de 2009, afirma que no ano passado a economia de Angola criou 385 mil novos postos de trabalho, o que ninguém acredita. O governo apresenta os dados, sector a sector, mas todos duvidam. Quando essas informações são apresentadas ao público, os empresários dizem que isso não é possível. Porque nomeadamente no domínio da construção, junto com a agricultura, que são sectores que mais empregam, houve dispensas. Mesmo assim, o governo apresenta números que dão conta de um aumento da criação líquida de postos de trabalho na construção, o que ninguém acredita"- Alves da Rocha ao FS]
De facto as declarações de AR ao FS não podem deixar ninguém indiferente e pelos vistos não deixaram mesmo.
Só é pena, caso se venha a confirmar o afastamento de AR por ter "pensado em voz alta", que o poder ou os poderes deste país, continuem a fazer tábua rasa de um direito fundamental que deve ser estimulado e protegido que é a liberdade de expressão.

terça-feira, 8 de junho de 2010

EGO- Qual dos dois, o maior? (actualizado)

Modéstia à parte, parece já não haver dúvidas que foi o surgimento do Novo Jornal que pautou a mudança que até hoje se vinha verificando na imprensa angolana. Independentemente do que se possa vir a suceder daqui para frente, haverá sempre um antes e um depois no jornalismo angolano que tem no Novo Jornal, indiscutivelmente, o seu porta-estandarte." -Víctor Silva, ainda como Director do NJ
"No que toca a entrada no mercado, além de outras coisas, ajudou a criar um novo hábito aos sábados. Não nos tomem como arrogantes, mas há um “antes” e um “depois”. Cabe ao “novo” Semanário Angolense influenciar - se disso podemos falar- o que será o “depois” daqui para diante".
-Graça Campos ainda como Director-Geral do SA
O que é curioso nesta disputa de "egos", é que a partir de agora, os dois jornais (que afirmam ser os melhores da praça, com cada um dos contendores a convocar para o seu lado as estatísticas (?!?) mais favoráveis) passaram para a tutela do mesmo proprietário, cujo plano estratégico ainda é desconhecido.
São as ironias do destino.
Os dois petulantes "egos" talvez agora se ponham de acordo em relação aos novos "antes" e "depois".
Sugerimos que seja antes e depois da "mediainvestments"entrar no mercado da forma tão "normal" como aconteceu.
A estarem de acordo com a nova referência da futura história da imprensa luandense que aqui sugerimos,cada um dos dois, certamente, fará contas diferentes ao nível mais pessoal, em relação ao impacto desta entrada, deste virar de página.
É o que ficaremos a saber mais lá para diante, pois o futuro do primeiro ainda não está muito bem definido, enquanto que em relação ao segundo a caminho do seu "exílio dourado", especula-se, já com algumas certezas, quanto aos valores embolsados na transacção que estarão situados na casa dos seis zeros.
O que mais receamos, entretanto, desta entrada em cena da "mediainvestments", é que "depois", a médio prazo, não se venha a falar mais nem de um, nem do outro, como resultado da sua extinção ou, na melhor das hipóteses, da sua fusão, ou ainda da sua transformação em folhas indigestas.
Não é, certamente, o que desejamos, mas pelos dados em presença e conhecendo este país "bem mal" como conhecemos, não podemos pôr de lado estes e outros cenários, onde ainda podemos incluir o surgimento, finalmente, de um segundo diário para fazer concorrência ao "nosso Pravda".
Caso se decidam por esta última hipótese, sugiro que a Média Investments compre também o falecido "Diário de Luanda" e o volte a pôr em circulação, como um vespertino.
Que saudades daquele tempo...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A midia não é um mercado "normal"

O mercado da comunicação social não é um “mercado normal” onde se podem fazer “transacções normais”, como se estivéssemos a vender uma fábrica de sapatos, para depois a transformarmos numa outra unidade virada, por exemplo, para a produção de papel ou de massa de tomate. Por outras palavras neste mercado existe a chamada liberdade condicionada ou vigiada o que quer dizer que uma única empresa ou um único accionista maioritário por mais dinheiro que tenha não pode comprar todos os órgãos de comunicação social, no caso vertente que estamos com ele, não pode tomar conta de todos os semanários luandenses. A lei fundamental deste país não permite que tal aconteça, tendo a este respeito o Estado assumido a responsabilidade directa de impedir que a concentração se verifique, através da supervisão que foi entregue parcialmente ao Conselho Nacional de Comunicação Social (CNCS) . (Não confundir com Ministério da Comunicação Social, que também deveria ser chamado, em princípio, a ter uma voz activa neste tipo de movimentação. Como não conheço o seu novo estatuto orgânico e muito menos o anterior, aguardarei por mais informações a respeito.) Trata-se, contudo, no caso do CNCS de uma supervisão de fachada pois o Conselho limita-se a receber a informação das empresas que adquirem activos no mercado dos médias, sem ter qualquer capacidade de agir, caso verifique alguma movimentação “estranha”. Contrariamente ao que acontece noutros ordenamentos jurídicos, a Lei angolana não confere ao CNCS poder de impugnar ou vetar um determinado negócio, competindo-lhe apenas “colaborar na fiscalização do cumprimento das normas referentes a participação de capital nacional e estrangeiro nas empresas de comunicação social”. A questão que deve ser discutida imediatamente é como é que (com quem) esta colaboração deve ser efectivada, pois está implícita a existência de outras estruturas envolvidas na mesma fiscalização. A Lei de Imprensa e na sequência do correspondente postulado constitucional, proíbe “ a concentração de empresas ou órgãos de comunicação social, numa única entidade, de modo a constituir monopólio ou oligopólio, pondo em causa a isenção e o pluralismo da informação e a sã concorrência”. Para se saber quem é quem neste mercado, a lei exige que “as acções das empresas de comunicação social que assumam a forma de sociedade anónima têm de ser todas nominativas”. Mais do que isso, a lei diz que devem ser remetidas ao CNCS para efeitos de respeito pela liberdade de concorrência, “ a relação dos detentores de participações sociais nas empresas de comunicação social, a sua discriminação, bem como a indicação das publicações que àqueles pertençam, ou a outras entidades com os quais mantenham uma relação de grupo”. E mais do que isso a lei não diz, mas dizemos nós. A “anormalidade” deste mercado é, pois, ditada pelo próprio Estado, porque em causa está a protecção de um bem maior que a todos interessa manter intacto e à salvo de outros interesses inconfessos que podem, eventualmente, perseguir uma obscura agenda anti-constitucional e anti-democrática. É assim que a nossa Constituição estabelece, é assim que está bem e que deve continuar a ser. Nada a reclamar da nossa parte. O bem maior que se pretende proteger é um direito fundamental, chamado LIBERDADE DE IMPRENSA, que de facto pode ser posto em causa se qualquer dia em Angola todos os jornais e revistas pertencerem a uma “investments” qualquer. Já basta termos o Estado/Governo/Partido no poder a dominar a paisagem mediática na assustadora proporção que se conhece. Neste âmbito a esperança idosa de virmos a ter um serviço público de informação renasceu agora com o compromisso assumido na nova Constituição, mas pode voltar a ser um sol de pouca duração, para não variar. Nos Estados Unidos onde a constituição, através da sua primeira emenda proíbe que se regulamente de qualquer forma a imprensa, existem as mais agressivas leis anti-trust que impedem o estabelecimento do monopólio em qualquer segmento do mercado como sendo a melhor garantia da liberdade de concorrência e por extensão da própria liberdade, enquanto direito fundamental e abrangente dos cidadãos. Em Angola o debate a sério sobre esta “maka” ainda nem sequer começou.

É "normal" o quê? (actualizado)

Não é uma história fácil de digerir nem de contar, por mais que os seus protagonistas, de ambos os lados da barricada, se esforcem por nos convencer que tudo o que aconteceu é normal; que é assim que se passa em qualquer parte do mundo. Aliás, nunca ouvimos a palavra "normal" ser tão maltratada, ser utilizada de forma tão estranhamente anormal. É normal o quê? É normal gastarem-se milhões de dólares com a compra de três "produtos" que só dão prejuízos ou que, muito dificilmente, poderão compensar tão avultados investimentos? É normal assinar-se uma cláusula de auto-silenciamento e de auto-afastamento da única profissão que se tem? É normal comprar-se tudo o que um jornal tem, menos o seu único património que é um espaçoso escritório com dois pisos, situado numa das zonas mais valorizadas da cidade? É normal acreditar-se que tudo ficará na mesma depois de tudo quanto aconteceu e como aconteceu ao longo dos meses em que decorreram as tais "negociações"? É normal que os arautos da transparência, hoje não consigam falar dos valores envolvidos na transacção? É normal que os mesmos arautos do rigôr e do combate à desgovernação hoje não consigam falar-nos das verdadeiras razões que os levaram a claudicar, depois de terem gasto rios de tinta a lamentarem-se publicamente do silencioso cerco que estavam a ser alvo por via do bloqueio publicitário, mas não só? É normal que um jornal que sempre fez questão de propalar aos quatro ventos que era o líder do mercado, que era o mais lido, que era o melhor de todos, não tenha conseguido encontrar alternativas para sobreviver e resistir a uma "OPA" tão hostil? É normal o quê? Para já a única coisa que é normal em todo este negócio, é a sua completa anormalidade, começando pela sinuosoa trajectória do principal player de toda esta embrulhada do lado dos vendidos. O dito cujo, agora em apoteose, acabou apenas por confirmar a verdadeira essência da postura mercantilista com que sempre encarou o jornalismo, mesmo quando ainda não havia os milhões dos dias de hoje a circular. É uma história muito longa e muito triste...

sábado, 5 de junho de 2010

Já cheira à pré-campanha eleitoral

Pode parecer forçado, mas há qualquer coisa nas últimas movimentações do "capital privado", pelo território dos médias, que já tem a ver com a preparação das eleições que em principio terão lugar em 2012. Pode parecer forçado este relacionamento, mas no discurso que proferiu na inauguração da terceira da República, o Presidente José Eduardo dos Santos e incentivou "o surgimento e desenvolvimento da iniciativa privada nacional, nos diferentes domínios da Comunicação Social". Claramente, já me cheira à pré-campanha eleitoral.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Media Investments confirma sucesso da "OPA Hostil"

"A Media Investments, um grupo de multimédia angolano de capitais privados, leva ao conhecimento do público que adquiriu a totalidade da sociedade Semanário Angolense, Lda e da sua principal publicação, o Semanário Angolense. Com a venda do título, passaram também para a Media Investments todos os activos inerentes à produção do jornal, excepto a sua sede social. Tratou-se de uma transacção normal, ditada exclusivamente por factores de mercado, mercê da qual uma empresa, a Media Investments, fez uma oferta de aquisição aos proprietários da sociedade Semanário Angolense, Lda. Da transacção efectuada não resultarão alterações no formato gráfico e editorial e na periodicidade do Semanário Angolense. O novo director da publicação é o jornalista Severino Carlos, que era até então o seu Editor-chefe e Editor de Política. O jornalista Silva Candembo mantém-se como Director-adjunto da publicação, ao mesmo tempo que continuará a assegurar a edição da secção de Desporto. Por último, a Media Investments informa que adquiriu igualmente a totalidade do semanário A Capital, bem como 40% do capital do Novo Jornal, neste caso por cedência da parte da participação da ESCOM. Luanda, 05 de Junho de 2010."

Pauta Jornalística- Investimentos públicos mal parados

Acho que já é altura da nossa informação económica se começar a preocupar um pouco mais com a qualidade e a operacionalidade do conjunto dos equipamentos sociais (entre hospitais e escolas, mas não só) que o Governo tem vindo a colocar à disposição do país ao abrigo do seu milionário programa de investimentos públicos.
De facto já não basta dar a notícia ou fazer a cobertura das inaugurações e das entregas dos referidos equipamentos sociais.
É preciso que o jornalismo preocupado com o desenvolvimento nos diga agora como é que de facto e um pouco por todo o país este tipo de equipamentos tem estado a participar na solução dos problemas sociais das populações, no combate às assimetrias regionais e no fomento do emprego de qualidade.
Algumas informações que têm chegado ao nosso conhecimento não são as mais animadoras e apontam mesmo para um desperdício de recursos públicos decorrente da não operacionalização dos ditos equipamentos por falta do grande investimento estratégico de qualquer economia que é o capital humano.
Efectivamente e a manter-se este défice ao nível do capital humano, de nada adianta continuarem a gastar-se balurdios de dinheiro público a fazer mais escolas e mais hospitais.
É preferível reorientar-se o programa de investimentos públicos e pensar em apostar o nosso dinheiro em outras prioridades com um outro tipo de abordagem, que tenha em devida conta as capacidades locais de absorção.
Por exemplo e depois dos desanimadores resultados registados com a compra e distribuição dos barcos de pesca, parece-nos ser muito pouco aconselhável que continue a ser o Governo a importar directamente determinados equipamentos ao nível dos transportes e depois não haver qualquer capacidade de assistência/manutenção dos mesmos.
Não seria preferível financiar-se o sector privado e deixar que o mesmo se ocupe de todas as questões relacionadas com a gestão de tais equipamentos?
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comentários: Anónimo disse...
INVESTIMENTO NO VAZIO
É um tanto quanto caricato o facto do governo ter criado novas Escolas(POLITECNICOS),sem antes ter pensado no factor humano. Entenda-se, foi no dealbar das eleiçoes de 2008 e tudo interessava e valia ao "sistema".
Hoje por hoje, no caso concreto de Benguela, de uma gritante falta de professores das cadeiras técnicas no Politecnico da Graça(laboratorios sem quimicos, sem professores, sem tudo) porque só agora agora alguns professores foram enviados para o Brasil estagiar.
Incrível quando se caminha para o terceiro ano academico, para um curso de tres anos.Mais grave, dos poucos professores com alguma qualificaçao, estao há 12 meses sem salarios(maioritariamente colaboradores). No Instituto Medio de gestao na Catumbela é sintomática esta problemática. 80% das cadeiras técnicas sao leccionadas por Professores-colaboradores que há 14 meses nao vêm a sua situaçao salarial resolvida. Este Politecnico ao que se sabe, nao tem orçamento por ser uma(UD).Os Professores incluiseve ameaçam paralizar as aulas se até 30 de Agosto nao verem esta situaçao resolvida.Os poucos recuros que a direcçao recebe das finanças nem para comprara material gastável chega.Caminha-se para o terceiro ano e algumas cadeiras tecnicas, tidas como fundamentais nao têm professores.Os que fizem o "dito concucurso publico" aguardam pelos resultados. Sabendo-se de como esta pais marcha a passo de camaleao, só mesmo lá para janeiro de 2011.Onde anda a Direcçao Provincial da Educaçao, Ciencia e tecnologia neste embroglio todo????Que tipo de tecnicos esperam formar com estas dificuldades todas¿!!!!! COITADOS DOS ALUNOS, se a situaçao se mantiver serao forçados a um 4º ano de escolaridade por mera negligencia...... Sao coisas da NOSSA ANGOLA. 4 de Junho de 2010 09:26

Memória-Há 41 anos um avião da DTA era desviado para o Congo-Brazaville

Esta sexta-feira o calendário gregoriano que orienta a nossa vida nacional, reencontra-se com uma data, o 4 de Junho, que também faz parte da trajectória que conduziu os angolanos à sua libertação e independência. Os factos que são para aqui convocados aconteceram há 41 anos, quando os angolanos afectos ao MPLA, Loló Kiambata, Nelito Soares e Diogo de Jesus desviaram para o Congo-Brazaville um avião da DTA, a predecessora da nossa TAAG. O 4 de Junho de 1969 é mais uma data esquecida pelos que fazem a história oficial deste país de acordo com as suas conveniências político-partidárias. Como é evidente a história oficial não tem nada a ver com a história real de Angola e dos angolanos que ainda não está elaborada, sendo muito difícil que o venha ser, enquanto a partidarização da nossa sociedade se mantiver como a orientação maior do próprio Estado que é o que ainda acontece nesta altura. A data que marcou uma das mais espectaculares e mediáticas acções de luta contra o colonialismo português entrou para a nossa história com o significado e a força da libertação numa altura em que Angola e os angolanos já não queriam mais viver sob domínio colonial português. Compreende-se que o 4 de Junho de 1969 nunca tenha merecido a importância devida por parte da direcção do MPLA, porque foi uma iniciativa saída da sua base clandestina que se movimentava na capital angolana e que apanhou completamente de surpresa os “camaradas” em Brazaville. [A informação que a PIDE fez circular pelas mais altas esferas da governação portuguesa da época referia que “no dia 4/6/69, pelas 15.30, o avião C-3 matrícula CR-LCY, da DTA, da carreira Luanda/Sazaire, com 5 tripulantes e 12 passageiros a bordo, foi obrigado a mudar de rumo para Ponta Negra pelos seguintes criminosos armados: -LUÍS ANTÓNIO NETO, o “Lóló”, solteiro, estudante, nascido a 4/11/ 47, natural de Luanda, filho de Alberto António Neto e de Josefa Luís António Neto e residente em Luanda. -DIOGO FERNANDES JACINTO LOURENÇO DE JESUS, solteiro, funcionário do Laboratório de Engenharia de Angola, nascido a 2/11/942, natural de Luanda, filho de Jorge Jacinto de Jesus e de Ana Lourenço de Jesus e residente em Luanda. -MANUEL CAETANO SOARES DA SILVA, solteiro, funcionário da Imprensa Nacional de Angola, filho de Luís Gomes Soares da Silva e de Isabel Luciana Soares da Silva e residente em Luanda.” Ainda de acordo com esta informação “ o assalto teve início a meio do percurso Ambrizete/Sazaire, quando Manuel Caetano Soares da Silva entrou bruscamente na cabine de pistola em punho e intimou a tripulação a seguir para Brazaville. Ao mesmo tempo, o Luís António Neto, de frente para os passageiros, ostentava uma GMO fazendo menção de lhe tirar a cavilha de segurança. Nesta altura, porém o passageiro Mário Gameiro envolveu-se em luta para lhe tirar a granada, sendo auxiliado pelo radiografista Luís Torres e Arménio Mata, 1º subchefe da PSP. Entretanto, o assaltante Diogo Fernandes Jacinto Lourenço de Jesus, que se encontrava na retaguarda dos passageiros, ordenou a Luís António Neto, o “Lóló”, para lançar a granada, sublinhando a ordem com dois tiros de pistola que perfuraram o tecto do avião”.] Dos três nacionalistas que participaram nesta acção de luta contra o colonialismo português, apenas Luís Neto Kiambata se encontra vivo, tendo Diogo de Jesus e Nelito Soares, por ironia do destino, sido ambos mortos pelas tropas portuguesas poucos anos depois em circunstâncias distintas. O primeiro foi atingido por um obus no leste de Angola antes de 74 e o segundo foi assassinado friamente na Vila-Alice pelos comandos portugueses já depois do 25 de Abril de 1974.