Pelo que sei deste relacionamento (ou julgo saber), se estivesse na pele de JES não só me teria recordado agora em Accra do cidadão ghanense que lutou nas fileiras do MPLA contra o colonialismo português, como teria evocado a figura de Bernardo Kiosa, por razões que se prendem igualmente com a história.
Estarão certamente, nesta altura, os visitantes deste blogue em pulgas para saber o que é que uma coisa tem a ver com a outra?
Mais concretamente, que é que Domingos Kiosa tem a ver com o Ghana?
Em 2006 numa matéria publicada no Angolense que dedicámos ao falecido nacionalista e diplomata, sob o título "Os camaradas esquecidos/ Da clandestinidade luandense até ao convívio com Kwame Nkrumah" escrevémos o seguinte:
Na sequência da primeira crise que abalou e dividiu profundamente o MPLA, entre viriatistas e netistas, com o encerramento do seu escritório em Lepoldville e a passagem para Brazaville, José Bernardo Domingos Kioza, opta por um outro destino africano mais distante das nossas fronteiras, que o leva até a capital do Gahana, Accra.
As relações com Agostinho Neto complicam-se com esta decisão de Domingos Kioza em não seguir para Brazaville. Na altura ele já dirigia o Departamento de Informação e Propaganda do Movimento, nomeado por Neto.
Na capital ganense onde se torna conselheiro de Nkwame Nkrumah para os movimentos de libertação e chefe da secção portuguesa da Rádio Accra, Domingos Kiosa transforma o referida rádio numa voz do MPLA e recupera posteriormente as relações de amizade com Agostinho Neto. A sua casa era o ponto de passagem obrigatório para todos os angolanos que transitavam por aquela “Meca” do pan-africanismo.
Rezam as nossas fontes que Kioza volta a desentender-se com Agostinho Neto em 1970 por razões ideológicas. O nacionalista decide nesta sequência abandonar a militância activa apostando na neutralidade e no ensino, com as atenções particularmente voltadas para a angariação de bolsas de estudos para os jovens angolanos junto das instituições afectas ao sistema das Nações Unidas.
Em 71 troca o Gahana pela Nigéria onde continua a trabalhar no sector da educação e onde permanece até ao seu regresso definitivo a Angola em 1991.
O Governo francês, em diploma passado pelo seu Primeiro-Ministro, atribui-lhe em 1977 a distinção de “Chevalier dans l´Orde des Palmes Académiques” pelos serviços prestados a cultura francesa.
Pelo que aqui fica recordado em mais um flashback, pensamos haver razões mais do que suficientes para JES evocar a figura de Domingos Kiosa no decorrer da sua primeira visita oficial ao Ghana.
Não o fez.
Fazê-mo-lo nós in memoriam de um ilustre filho de Angola, que foi José Bernardo Domingos Kiosa (1929-2002).