segunda-feira, 7 de junho de 2010
É "normal" o quê? (actualizado)
Não é uma história fácil de digerir nem de contar, por mais que os seus protagonistas, de ambos os lados da barricada, se esforcem por nos convencer que tudo o que aconteceu é normal; que é assim que se passa em qualquer parte do mundo.
Aliás, nunca ouvimos a palavra "normal" ser tão maltratada, ser utilizada de forma tão estranhamente anormal.
É normal o quê?
É normal gastarem-se milhões de dólares com a compra de três "produtos" que só dão prejuízos ou que, muito dificilmente, poderão compensar tão avultados investimentos?
É normal assinar-se uma cláusula de auto-silenciamento e de auto-afastamento da única profissão que se tem?
É normal comprar-se tudo o que um jornal tem, menos o seu único património que é um espaçoso escritório com dois pisos, situado numa das zonas mais valorizadas da cidade?
É normal acreditar-se que tudo ficará na mesma depois de tudo quanto aconteceu e como aconteceu ao longo dos meses em que decorreram as tais "negociações"?
É normal que os arautos da transparência, hoje não consigam falar dos valores envolvidos na transacção?
É normal que os mesmos arautos do rigôr e do combate à desgovernação hoje não consigam falar-nos das verdadeiras razões que os levaram a claudicar, depois de terem gasto rios de tinta a lamentarem-se publicamente do silencioso cerco que estavam a ser alvo por via do bloqueio publicitário, mas não só?
É normal que um jornal que sempre fez questão de propalar aos quatro ventos que era o líder do mercado, que era o mais lido, que era o melhor de todos, não tenha conseguido encontrar alternativas para sobreviver e resistir a uma "OPA" tão hostil?
É normal o quê?
Para já a única coisa que é normal em todo este negócio, é a sua completa anormalidade, começando pela sinuosoa trajectória do principal player de toda esta embrulhada do lado dos vendidos.
O dito cujo, agora em apoteose, acabou apenas por confirmar a verdadeira essência da postura mercantilista com que sempre encarou o jornalismo, mesmo quando ainda não havia os milhões dos dias de hoje a circular.
É uma história muito longa e muito triste...