Tema da maior importância e oportunidade que até agora não havia ainda conhecido o espaço do debate profissional, a traduzir bem (mal) a ausência entre nós do próprio género/método, onde ele deveria ser transversal a todas as editorias, não só como espírito, mas também como letra de uma praxis diária a ser assumida com naturalidade pelos jornalistas e incentivada pelos editores.
De uma forma geral o propósito do método investigativo é retirar do jornalismo a superficialidade e o imediatismo que lhe são inerentes, para lhe conferir a consistência, densidade e profundidade que as sociedades democráticas exigem deste "quarto poder", evitando-se assim que ele fique refém das estratégias da propaganda, da manipulação, da desinformação e das manobras dos gabinetes de relações públicas.
["Diz-se justamente que um artigo tenta responder a algumas das seis perguntas fundamentais: quem? o quê? onde? quando? como? porquê?
A investigação vai apenas um pouco mais longe reformulando cada uma dessas perguntas de maneira mais incisiva.
Mas quem é então verdadeiramente o actor deste acontecimento?
Que é que se passou exactamente e em pormenor?
Qual é o lugar exacto onde se desenrolaram os factos?
Qual foi o emprego do tempo dos actores?
Como é que funciona o sistema que está no coração do acontecimento?
Porque é que pôde ocorrer?
O quotidiano da actividade jornalística é muitas vezes repetitivo, ao ponto de o seu sentido profundo não ser visível à primeira vista. Aí está a investigação para o revelar."
-Jacques Mouriquand in "O jornalismo de Investigação" Editorial Inquérito 2002]
Apesar da sua juventude, Ana Luísa Silva esteve a altura do tema com o lançamento de várias "flechas editoriais" em direcção a uma plateia recheada de algumas conhecidas "raposas velhas" do jornalismo oficial.
Apenas duas intervenções, a nossa e a da Xana Aragão da Angop, quebraram o sintomático silêncio que se apoderou de todos os "séniores" que encontravam presentes esta terça-feira no CEFOJOR. As restantes questões foram colocadas à palestrante pelos "juvenis e juniores", todos eles estudantes de comunicação social.
Vinte anos depois quase que somos tentados, por esta e por outras iniciativas do género, a afirmar que está a nascer um novo MCS sob a batuta de Carolina Cerqueira, nesta altura sujeita a um intenso e agressivo fogo cruzado por parte de destacados membros do "ancién régime", que com grandes saudades do passado recente, sentem o terreno das mordomias, dos privilégios, dos desvios, da má gestão e da locupletação a fugir-lhes a cada dia que passa.
Parece agora só faltar mesmo o quase.
Do todo poderoso Bureau Político do MPLA (já foi muito mais), de que é membro, Carolina Cerqueira acaba de receber a luz verde para ir em frente, para fazer a ruptura definitiva com o passado, para (tentar) acabar com mais um pesadelo que foi a gestão das empresas públicas do sector.
Com efeito e de acordo com a Angop, o Bureau Político do MPLA apreciou, na sua quarta reunião extraordinária, realizada segunda-feira em Luanda, a proposta de Estratégia e Políticas de Desenvolvimento da Comunicação Social para 2010/2012.
Nesta sessão, orientada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, o Bureau Político do MPLA considerou prioritário o saneamento das empresas públicas da Comunicação Social, a aprovação dos seus estatutos orgânicos e a adopção de contrato-programas, para uma gestão mais racional e profissional do sector.
O BP incentivou o Ministério da Comunicação Social a trabalhar para uma imprensa cada vez mais isenta, independente e responsável, no quadro de um Estado Democrático e de Direito, assim como a valorização e dignificação do profissional do ramo.
Carolina Cerqueira tem agora em suas mãos a "carta de alforria" que precisava para abordar com mais confiança e determinação, agora já na fase de implementação, o seu projecto num sector onde os seus detractores/adversários/inimigos são mais do que muitos e até agora ainda não deram sinais de terem atirado a toalha para o chão.
Antes pelo contrário.
De facto e tendo em conta o conteúdo desta reunião do BP com todas as suas envolventes e consequências, tudo leva a crer que Carolina Cerqueira vai acelerar o passo, numa altura em que o descrédito já se estava a apossar novamente da classe jornalística (mas não só) em relação ao surgimento de uma nova etapa na vida no MCS, sobretudo de ruptura com um passado tão tormentoso.