sexta-feira, 4 de junho de 2010
Memória-Há 41 anos um avião da DTA era desviado para o Congo-Brazaville
Esta sexta-feira o calendário gregoriano que orienta a nossa vida nacional, reencontra-se com uma data, o 4 de Junho, que também faz parte da trajectória que conduziu os angolanos à sua libertação e independência.
Os factos que são para aqui convocados aconteceram há 41 anos, quando os angolanos afectos ao MPLA, Loló Kiambata, Nelito Soares e Diogo de Jesus desviaram para o Congo-Brazaville um avião da DTA, a predecessora da nossa TAAG.
O 4 de Junho de 1969 é mais uma data esquecida pelos que fazem a história oficial deste país de acordo com as suas conveniências político-partidárias.
Como é evidente a história oficial não tem nada a ver com a história real de Angola e dos angolanos que ainda não está elaborada, sendo muito difícil que o venha ser, enquanto a partidarização da nossa sociedade se mantiver como a orientação maior do próprio Estado que é o que ainda acontece nesta altura.
A data que marcou uma das mais espectaculares e mediáticas acções de luta contra o colonialismo português entrou para a nossa história com o significado e a força da libertação numa altura em que Angola e os angolanos já não queriam mais viver sob domínio colonial português.
Compreende-se que o 4 de Junho de 1969 nunca tenha merecido a importância devida por parte da direcção do MPLA, porque foi uma iniciativa saída da sua base clandestina que se movimentava na capital angolana e que apanhou completamente de surpresa os “camaradas” em Brazaville.
[A informação que a PIDE fez circular pelas mais altas esferas da governação portuguesa da época referia que “no dia 4/6/69, pelas 15.30, o avião C-3 matrícula CR-LCY, da DTA, da carreira Luanda/Sazaire, com 5 tripulantes e 12 passageiros a bordo, foi obrigado a mudar de rumo para Ponta Negra pelos seguintes criminosos armados:
-LUÍS ANTÓNIO NETO, o “Lóló”, solteiro, estudante, nascido a 4/11/ 47, natural de Luanda, filho de Alberto António Neto e de Josefa Luís António Neto e residente em Luanda.
-DIOGO FERNANDES JACINTO LOURENÇO DE JESUS, solteiro, funcionário do Laboratório de Engenharia de Angola, nascido a 2/11/942, natural de Luanda, filho de Jorge Jacinto de Jesus e de Ana Lourenço de Jesus e residente em Luanda.
-MANUEL CAETANO SOARES DA SILVA, solteiro, funcionário da Imprensa Nacional de Angola, filho de Luís Gomes Soares da Silva e de Isabel Luciana Soares da Silva e residente em Luanda.”
Ainda de acordo com esta informação “ o assalto teve início a meio do percurso Ambrizete/Sazaire, quando Manuel Caetano Soares da Silva entrou bruscamente na cabine de pistola em punho e intimou a tripulação a seguir para Brazaville. Ao mesmo tempo, o Luís António Neto, de frente para os passageiros, ostentava uma GMO fazendo menção de lhe tirar a cavilha de segurança. Nesta altura, porém o passageiro Mário Gameiro envolveu-se em luta para lhe tirar a granada, sendo auxiliado pelo radiografista Luís Torres e Arménio Mata, 1º subchefe da PSP. Entretanto, o assaltante Diogo Fernandes Jacinto Lourenço de Jesus, que se encontrava na retaguarda dos passageiros, ordenou a Luís António Neto, o “Lóló”, para lançar a granada, sublinhando a ordem com dois tiros de pistola que perfuraram o tecto do avião”.]
Dos três nacionalistas que participaram nesta acção de luta contra o colonialismo português, apenas Luís Neto Kiambata se encontra vivo, tendo Diogo de Jesus e Nelito Soares, por ironia do destino, sido ambos mortos pelas tropas portuguesas poucos anos depois em circunstâncias distintas.
O primeiro foi atingido por um obus no leste de Angola antes de 74 e o segundo foi assassinado friamente na Vila-Alice pelos comandos portugueses já depois do 25 de Abril de 1974.