A sua capital, Caxito, fica a pouco pouco mais de 60 kilometros, à norte de Luanda.
No Bengo, o SG do MPLA, Dino Matrosse, elogiou o trabalho que o seu partido está a fazer naquela região, para depois, estranhamente, concluir que os resultados de tal acção, na prática, estão muito próximos do menos zero em matéria de consequências sociais positivas para as suas populações.
Nas liminares declarações que prestou à imprensa, está bem patente um franciscano balanço recheado de ausências que vão do inexistente abastecimento de água potável até à energia passando pela educação e pela exclusão escolar.
Pior retrato não poderia ter sido feito da própria governação do MPLA, 35 anos depois do país se ter tornado independente e 8 anos depois das armas se terem calado definitivamente.
Se o Bengo está assim, imaginem só o resto do país, imaginem só o resto da Angola profunda...
Não admira pois, que se mantenha o êxodo rural em direcção à Luanda, onde cada vez mais a situação se vai tornar insustentável e explosiva (já é nesta altura, embora ainda não o pareça), tendo em conta a crescente pressão demográfica sobre os equipamentos sociais, com destaque, certamente, para a habitação condigna que já é uma miragem para a esmagadora maioria das famílias pobres que hoje (sobre)vive na capital angolana entre as fronteiras do desespero e as barreiras de uma (re)pressão administrativa e policial permanente.
O desmantelamento do mercado Roque Santeiro (RS), com todas as consequências sociais desastrosas que se adivinham, é apenas e só, o último exemplo desta pressão continuada das autoridades sobre a economia das famílias mais pobres que habitam Luanda.
Não sendo de todo aceitável manter eternamente e nas actuais condições o gigantesco e caótico mercado, parece-nos ser absolutamente pertinente questionar quem de direito sobre o impacto de tal desmantelamento no frágil equilibrio social de Luanda, onde a maior parte da sua população obtém os seus raquíticos rendimentos mínimos através do comércio de bens e serviços.
O Roque Santeiro é, claramente, a maior bolsa livre da actividade económica luandense que se conhece na capital e em todos os seus arredores.
Como alternativa e do ponto de vista de uma abordagem económica mais séria, a transferência para o distante e inacessível Panguila de uma tal "bolsa de valores e derivados", só pode ser uma brincadeira de muito mau gosto...
É sobre todas estas e outras questões, que o MPLA tem de saber reflectir, de preferência em voz alta e com a promoção do recomendável debate público contraditório.
Uma reflexão necessáriamente profunda e frontal em nome da salvaguarda dos interesses mais estruturantes da nossa cada vez mais desequilibrada e injusta sociedade, onde, a manterem-se as actuais tendências, só se pode estar a caminho de um novo e perigoso conflito.
De pouco adiantará coleccionarmos casas em condomínios luxuosos, viaturas topo de gama, fazendas de sonho, milhões em contas privadas, se pelo caminho formos assaltados pela cada vez mais violenta mancha da pobreza e da exclusão social.
"Vamos fazer de Angola um país bom para se viver", foi uma das palavras de ordem mais simpáticas que já ouvimos sair da boca do líder do MPLA.
Assim, como as coisas se apresentam, não vamos, certamente, pelo menos se pensarmos em todos os angolanos, sem exclusões, nem discriminações.