Morreu hoje na ilha de Lanzarote, Espanha.
Muhammad Yunus do Bangladesh, Prémio Nobel da Paz 2006.
Está vivo.
José Eduardo dos Santos de Angola é Chefe de Estado há mais de 30 anos.
Está vivo.
E agora, o que é que os dois têm a ver com com o Presidente José Eduardo dos Santos e com Angola?
Em principio quase nada. Apenas uma mera circunstância.
Em épocas distintas, os dois estiveram em Luanda. O primeiro em 1999 e o segundo o mês passado. Nenhum dos dois foi recebido pelo Presidente José Eduardo dos Santos.
Na próxima semana visita-nos um outro Nobel, o Prémio Nobel da Economia 2008, o norte-americano Paul Krugman (PK), que é tido como sendo o colunista político (New York Times) mais influente dos EUA.
Pode ser que PK tenha um pouco mais de "sorte" que os seus dois anteriores colegas.
PS- Na matéria que a TPA dedicou esta quinta-feira à morte de Saramago, sentimos quão importante foi a tal mera circunstância.
Se JES tivesse recebido JS, a matéria que é global, iria certamente ser preenchida pela imagem do encontro entre os dois, a projectar da melhor forma a imagem do Presidente angolano ao lado de um dos maiores ícones da literatura mundial.
Não é todos os dias que se tem e se perde uma tal oportunidade.
JES deitou-a fora.
PS1- Na mesma semana em que o "Banqueiro do Povo" como também é conhecido Muhammad Yunus, esteve em Luanda, JES recebeu em audiência o empresário português, José Récio (JR), a quem o governo angolano fez mais uma generosa concessão de valiosos terrenos na Barra do Kwanza para o desenvolvimento de uma urbanização turística de alta renda, entenda-se para os novos ricos locais e para os seus "colegas" do estrangeiro.
Récio disse que o investimento que é totalmente privado está orçado em 600 milhões de dólares.
JR ficou famoso pelas piores razões pelo fracasso do "seu" Projecto Baía que acabou por ser viabilizado financeiramente por capitais públicos que andam por aí disfarçados em vários bancos privados.
PS2- Cavaco Silva foi o grande ausente nas cerimónias funebres de José Saramago. Foi a sua vingança de chinês. O Nobel da Literatura, em vida, referiu-se uma vez ao Professor como sendo um mestre das banalidades. Cavaco nunca lhe perdoou tamanha "estiga" e deu-lhe agora na "hora di bai" um troco, que os portugueses não estão a digerir muito bem.
De facto é pouco aceitável que a principal figura do Estado português tenha estado ausente das cerimónias fúnebres oficiais (de estado) daquele que pode ser considerado o português mais famoso a nível mundial, pelas melhores razões.
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Flashback/Setembro 1999
Quando Saramago esteve em Luanda
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Luanda acolheu durante alguns dias o Prémio Nobel da Literatura 98, o escritor português José Saramago que começou por surpreender tudo e todos ao afirmar que não gostava de utilizar a palavra lusofonia por falta de conteúdo histórico do referido étimo.
Sem se assumir como um lusófobo, Saramago explicou que a Lusitania do passado, onde há mais de 800 anos viveu um tal de Viriato, era um espaço geográfico que englobava o que é hoje parte de Portugal e parte da Espanha. Daí que em seu entender não faz muito sentido a utilização do termo lusofonia, para designar apenas o universo dos falantes da língua portuguesa.
Sem uma solução alternativa, já que a utilização de “portugalofonia” seria simplesmente desastrosa até em termos estéticos, José Saramago ficou-se pelo “mundo dos que falam português”, onde ele é, nos dias que passam, possivelmente, a pessoa mais conhecida pelo resto dos outros mundos.
O Prémio Nobel da Literatura 98 o escritor português José Saramago deixou terça-feira (14/8) Luanda com destino a Maputo, no final da sua primeira visita a Angola, iniciada na passada sexta-feira.
Por razões óbvias, chamou particular atenção o facto do comunista José Saramago não ter sido recebido pelo Presidente Eduardo dos Santos, apesar do encontro ter estado programado, embora não tivesse sido fixada nenhuma data. A sua concretização ficou dependente do surgimento de uma “brecha” no calendário presidencial, que pelos vistos não veio a acontecer. Surpreendentemente.
Por razões que não nos foi possível apurar, o Presidente Eduardo dos Santos acabou por não conhecer pessoalmente o primeiro Nobel da Literatura de expressão portuguesa, apesar de Saramago ter estado em Angola durante mais de quatro dias.
Várias são as leituras que se podem fazer desta “lacuna”, sendo a menos plausível aquela que apontará para as já famosas e oficiais “razões de calendário”.
Em tempos de “clarificação política”, algo de mais substancial terá estado provavelmente na base da “recusa” do Futungo de Belas em ter como hospede durante alguns minutos uma personalidade com o actual nível internacional e mediático de José Saramago. Para além, naturalmente, de toda a “lusofonia” que aparentemente nos une e nos enche de orgulho como membros de uma tal de CPLP, por termos pela primeira vez na história universal alguém galardoado com o Nobel da Literatura. De facto não é bem um acontecimento rotineiro ter entre nós uma tal individualidade.
Setembro 1999