terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Maka grossa no CAN (actualizado com comentário)

Porque será que os jogadores angolanos estão a pedir 250 mil dólares como prémio individual de participação no CAN?
Aparentemente é um montante bastante elevado, para quem ainda nem sequer começou a competir, pois, como se sabe, Angola foi "apurada de boleia", por força da sua condição de país organizador.
Tudo leva a crer que esta reivindicação tenha a ver com a informação sobre outros montantes igualmente elevados que circulam pelos corredores da organização do evento, onde, para não variar, está todo o mundo, salvo seja, a tentar facturar a custa do erário público, com as habituais "comichões" e outros trambiques bem conhecidos dos viciados gestores da coisa pública.
Enquanto não chega a "espécie de tolerância zero", há que aproveitar...
PS- Sobre este tema, chamamos a vossa atençao para os comentários que se seguem subscritos por Jonhson Costa a quem desde já agradecemos a colaboraçao neste blogue.
"Esta é uma maka que me parece ser consequência da insuficiente ouinexistente regulamentação específica.
Regulamentos claros e transparentes que partissem de uma análise cuidada e da comparação com os valores que se praticam noutros países, sobretudo os do nosso continente, com o mesmo nívelde desenvolvimento sócio-desportivo que o nosso, evitariam este tipo desituação que já não é nova não apenas em Angola, mas também noutros países africanos.
Infelizmente no nosso continente subsiste o péssimo hábito de deixar as coisas correrem e só tentar remediar quando o facto está consumado.
Já é tempo de se fazer uma regulamentação realista e clara que determine,consoante o nível das selecções, das provas e do desenvolvimento da modalidade, os valores que devem ser pagos aos atletas que representam as cores nacionais.
Tal como acontece com qualquer funcionário de estado que se desloque numa missão oficial e que recebe ajudas de custo e representação, é legítimo que os atletas que sejam chamados às selecções nacionais sejam recompensados pelo seu esforço e pela sua participação.
Já falaremos dos valores mínimamente justos, entretanto centremo-nos em dois aspectos importantes: O primeiro a questão dos prémios de participação versus prémios ou, mais apropriadamente, incentivos por objectivos atingidos.
Uma coisa é o prémio de participação. O atleta faz certos sacrifícios,prescinde da sua família às vezes durante tempo considerável em estágios de preparação , dedica um esforço e trabalho extra para dignificar as cores nacionais e portanto é legítimo que receba um prémio de participação, além das ajudas de custo diárias normais que estejam ou venham a ser determinadas. Outra coisa completamente diferente é o prémio ou incentivo por objectivo a atingir. Nomeadamente, se se atingir esta ou aquela fase , o prémio será “x”, se se atingir as meias-finais será “y” se se conseguir vencer a prova será “z”.
Por outro lado há que distinguir com clareza a importância das provas. Um campoenato do mundo é mais importante que um CAN, este mais importante queuma taça COSAFA ou um torneio particular. E há ainda que distinguir os escalões (séniores, júniores etc.) e definir antecipadamente os graus de importância das participações de uma forma não aleatória e casuística mas sistematizada.
Agora sobre o valor dos prémios. Não tenho conhecimento oficial que confirmea veracidade desta maka, por isso limitar-me-ei a comentar a abordagem deste blog.
250 Mil USD como prémio de participação num CAN é francamente exagerado e não me preocupa neste momento comparar com outros eventuais prémios que tenham sido atribuidos por exemplo pela participação da selecção nacional de futebol no passado Mundial da Alemanha.
Como prémio por objectivo, se a selecção conseguisse sagrar-se campeã africana, teria sentido, mas não como prémio de participação. Seria bastante bom, se considerarmos o salário médio de um quadro nacional formado a nível de licenciatura ou mestrado trabalhando numa empresa privada de grande dimensão.
Se consideramos um salário de USD 5,000 mensais, equivaleria a 50 meses, ou seja 4 anos de salário. Comentando este assunto com alguns amigos, ouvi uma pergunta pertinente:será que os nossos jogadores não têm confiança na sua capacidade de obter grandes resultados e conseguir uma boa participação e temem uma participação desastrosa?
Nesta lógica, a fim de garantir que, mesmo em caso de uma má participação que os tornaria alvos da decepção e frustração dos adeptos e da nação, saissem do CAN com algum dinheiro, os jogadores estariam a exigir por isso um prémio de participação tão absurdo. O problema partirá talvez também da inflacção de prémios que se verificou em relação a provas anteriores, nomeadamente o Mundial da Alemanha.
Se considerarmos que uma casa vale no mínimo 300 Mil Dólares, encontraremos a base da justificação para esta reclamação, que (repito) está por confirmar oficialmente e por isso, apesar de o fumo indiciar algum fogo, estamos a fazer um mero exercício de conjetura.
O bom senso aconselha-nos que nunca devemos pagar por exemplo adiantamente o valor total do trabalho a um pintor que empregámos para pintar-nos a casa.O resultado seria um trabalho feito à pressa e sem qualidade. Pagar tão elevado montante adiantadamente aos jogadores (o compromisso de pagar viria a dar ao mesmo) seria recompensar, em caso de uma má participação, a mediocridade, a falta de ambição e qualidade e não garantiria um maior empenho e esforço dos atletas. Seria um erro. Por isso, em conclusão, parece-me que há que definir um prémio departicipação justo e razoável e paralelamente prémios por objectivos alcançados. 250 Mil Dólares parece-me francamente exagerado como prémio de participação e criaria um precedente dificil de ultrapassar em relação a qualquer futura presença de uma selecção nacional em provas internacionais e poderia fomentar o espírito de mercenarismo desportivo.
A terminar espero que esta questão dos prémios não condicione a performance dos nosso jogadores neste próximo CAN. Não gostaria, como qualquer adepto,de vir a ter razões para suspeitar sequer, que uma eventual má prestação fosse consequência de mercenárias disputas por prémios de jogo ou participação como aconteceu com a mercenária participação dos Camarões no Mundial de 1986 no México que se saldou por uma participação vergonhosa. Os camaroneses, em pleno Mundial, chegaram a ameaçar abandonar a competição após uma disputa de prémios com a sua federação.
Prémios sim, mas que sejam justos e razoáveis e correspondam à nossa realidade sócio-económica. Em Espanha causou polémica a intenção do Governo de cancelar a partir do próximo ano os incentivos fiscais sobre os impostos pagos pelos jogadores de futebol estrangeiros, os mais baixos da Europa até aqui, e que levam os maiores craques como Cristiano Ronaldo e Kaká a preferirem a Liga Espanhola à Premier League ou ao Campeonato Italiano. Os clubes estão contra porque vão perder a capacidade de ter os melhores jogadores do mundo e com isso perderão o domínio da Europa. Mas a maioria dos políticos e cidadãos, especialmente trabalhadores, opõem-se porque consideram não justificável que um trabalhador como eles, mesmo uma estrela, pague menos imposto de rendimento de trabalho do que os restantes trabalhadores, o que não deixa de ser justo. A Espanha havia adoptado essa política de incentivo para atrair atletas, artistas, técnicos, quadros e cientistas de grande qualidade a fim de desenvolver a sua competitividade tecnológica. Serve isto para dizer que às vezes é preferível voltar à estaca zero em nomeda coerência e realismo. Os grandes craques poderão fugir à Liga espanhola, mas restaurar-se-á a moralidade e a justiça e os clubes serão incentivados a trabalhar a formação dos seus jovens nacionais para o futuro em vez de gastar fortunas em craques estrangeiros.
Apenas uma última conclusão. A nossa selecção nacional de futebol nunca ganhou nenhum título de realce (estar presente num Mundial não é uma grande conquista é um objectivo que deve presidir a qualquer ciclo desportivo, não é um fim em si) e, embora possa colectivamente equilibrar aqui e ali, está muito longe de ser das mais fortes de África nem de ter os melhores jogadores.
Noção das perspectivas precisa-se."
(Johnson Costa)